Instituto Evandro Chagas completa 85 anos de contribuição científica
IEC possui dois campus, oito seções e um centro nacional de primatas, em Belém e em Ananindeua
O Instituto Evandro Chagas (IEC) completou 85 anos e é uma referência científica do Pará para o mundo. O IEC está ligado à pesquisa, vigilância e ensino e conta com dois campus, o de Belém, com três setores: Hepatologia, Núcleo de Pesquisas Clínicas e o Museu do Instituto. Já em Ananindeua, há oito seções científicas: Meio Ambiente, Virologia, Bacteriologia, Arbovirologia e Febres Hemorrágicas, Parasitologia, Hepatologia, Criação e Produção e Animais em Laboratório e Patologia, bem como o Centro Nacional de Primatas (CENP). É uma instituição que esteve diretamente ligada à investigação de duas crises em saúde recentes: covid-19 e síndrome de Haff (urina preta).
Lourdes Garcez, diretora substituta do IEC, relembra o contexto em que o instituto nasceu e destaca a importância dos trabalhos científicos protagonizados pelas equipes, como a atuação da seção de parasitoses, que é a responsável pelo monitoramento de agentes e doenças.
"O IEC nasceu pelo trabalho do ilustre pesquisador, o próprio Evandro Chagas, quando se descobriu que no Brasil havia uma doença desconhecida que estava ceifando vidas humanas, a leishmaniose visceral. Até hoje temos esse problema de saúde pública; uma doença de difícil controle, com poucos medicamentos. Evandro veio ao Pará e iniciou os estudos no campo das doenças parasitárias. Dentre esses temos o Trypanosoma cruzi, que é o responsável pela doença de chagas e que tem grande importância na Amazônia. É uma parasitose globalizada, com um dia mundial reconhecido pela OMS", explica.
O trabalho do instituto, reforça Lourdes, está no monitoramento e criação de produtos e estratégias em saúde que beneficiam a população. O único doutorado em Virologia do Brasil é do IEC. "Destaco a busca tecnológica para a solução de problemas para as doenças parasitárias. Essas doenças são consideradas negligenciadas. Lutamos para eliminar doenças: diagnóstico, tratamento e estratégias para o controle de doenças e para a proteção e salvaguardar a saúde e vida dos brasileiros", pontuou.
O museu do IEC, em Belém, está localizado na avenida Almirante Barroso e conta com 900 peças. Dessas, 200 foram catalogadas e foi feita uma biografia, como diz a museóloga Gisele Silva, responsável pelo espaço. "Cada mini biografia tem a história detalhada de cada item dessa coleção. Informações relativas a este objeto, não só as dimensões físicas, mas a simbólica, o que dá valor a ele para ser objeto de Museu. Atualmente, não estamos abertos ao público espontâneo, mas recebemos a visita de pesquisadores. Estamos nos adequando às recomendações para espaços de recepção de público. Mas caso algum pesquisador queira, pode entrar em contato conosco para recebermos. Fazemos ações educativas e pretendemos retomar as oficinas a partir do ano que vem", disse Gisele.
A museóloga conta que está no instituto desde 2013 e que é gratificante trabalhar com ciência, bem como com a memória, pois é estudando o passado que se pode traçar perspectivas para o futuro.
Trabalhos estratégicos acompanham a história do Brasil
A seção do Meio Ambiente surgiu na ECO 92, com contribuições importantes ao país e à Amazônia para o desenvolvimento de estudos dos impactos ambientais na região amazônica, além dos efeitos na saúde da população e meio ambiente. É o que destaca Vanessa Tavares, pesquisadora e vice-chefe da seção que vai completar 30 anos em 2022.
"Começamos com estudos de detecção de mercúrio, desde o pescado, água, populações humanas, na garimpo, áreas afetadas por projetos industriais, etc. A seção hoje conta com uma grande quantidade de laboratórios até para micro-organismos aquáticos, como a cianobactéria. Recentemente, junto à Sespa, o IEC tenta elucidar a origem da Urina Preta. As amostras estão sendo analisadas nos laboratórios. Fizemos coletas para vários parâmetros e também parâmetros de água, sedimentos e peixes. A seção tem uma contribuição enorme, pois faz a ligação entre os agravos ambientais e a saúde das populações", ponderou a pesquisadora.
Os principais estudos do Evandro Chagas concentram-se em: vírus, fungos, bactérias, parasitas e meio ambiente e de acordo com dados fornecidos pela assessoria de comunicação tem como resultado desses trabalhos, os estudos clínicos, publicações científicas, novas descobertas tecnológicas, diagnóstico de doenças, informações, assim como a formação de patrimônio cultural científico.
Luana Soares, virologista, explica que a seção de virologia tem três laboratórios de referências, credenciados pelo Ministérios da Saúde (MS) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). "Um deles é o laboratório de vírus respiratório, referência nacional. Com a pandemia de covid-19, atuamos no diagnóstico no início e hoje a gente consegue fazer o monitoramento, como fizemos com a detecção da variante Delta no Brasil, quando ocorreu o surto no Maranhão. Com isso, estamos realizando o monitoramento das variantes.", declara a pesquisadora.
A arbovirologista Daniele Medeiros faz parte de uma das seções mais antigas, que chega a 75 anos de atuação. Entre os objetos de pesquisa estão os artrópodes, como os mosquitos responsáveis pelas doenças como dengue, zika, febre amarela, entre outras. A seção tem 220 espécies de vírus diferentes, sendo 40 deles de maior relevância para pesquisas médicas.
"A SAAB é o local de referência nacional para o diagnóstico de arbovírus do país e é um centro colaborador da OPAS, onde faz a investigação daqueles vírus que podem emergir e causar epidemias no país. Temos a segunda maior coleção de vírus do mundo. Trabalhamos em ambientes nível 3, com vírus de alto grau de perigo. Como somos laboratórios de referência e experiência de longa data, quando se tem uma suspeita de ebola ou vírus com potencial hemorrágico, nós analisamos e com toda a segurança necessária para nossos pesquisadores", finaliza.
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