Cadela espera pelo falecido dono em frente de UPA há mais de um ano

Daleth Oliveira / Ananindeua em Revista

Uma cadela está há mais de um ano na porta da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Icuí, em Ananindeua, à espera de seu tutor que faleceu. Os funcionários a chamam carinhosamente de Rita, em alusão à música “Rita”, do cantor baiano Thierry, sucesso quando a cachorrinha chegou na unidade.

Ano passado, Rita chegou com um homem que procurava atendimento. Infelizmente ele faleceu na unidade e, desde então, ela continua esperando que ele volte. Aguardando em uma área em frente à UPA, achando que o tutor vai sair em algum momento, a cadela chama a atenção de todos que passam pelo local.

Funcionários relatam que pessoas já tentaram tirá-la da porta, mas ela sempre volta. Com a persistência de ficar onde viu seu dono pela última vez, ela acabou sendo acolhida pelos funcionários, que a alimentam todos os dias e mensalmente também lhe dão um banho. 

image Cadela na frente da unidade de saúde (Sidney Oliveira / O Liberal)

“A gente fica muito triste por ela, vemos o quanto ela sente essa ausência e fica esperançosa dele sair pela mesma porta que entrou. Vamos cuidando dela até quando pudermos”, disse Nerilene Braga, diretora geral.

Rita estava prenha e acabou tendo os filhotinhos na entrada da UPA. Alguns dos cãezinhos acabaram sendo levados por pacientes. Outros, estão sendo cuidados por quem frequenta o local.

Thiago Conceição, vigilante da UPA, trabalha na unidade de saúde há sete meses e contou da relação dos funcionários com a Rita.  “Quando eu cheguei, a Rita já estava. Eu tenho um grande carinho por ela. Ela chegou aqui correndo atrás do carro em que o seu dono estava. Infelizmente ele não saiu mais em vida e já vai fazer um ano e três meses que a cachorra está aqui”, disse.

image Vigilante Tiago Santos da Conceição com a cadela Rita (Sidney Oliveira / O Liberal)

“Ela é um xodó da UPA. Todos que vêm aqui já conhecem ela. A Rita virou a nossa estrela. Ela toma café, almoço e janta conosco. Ela já nos conhece também, ela já faz parte dos funcionários”.

O comportamento da Rita

Para a especialista em comportamento animal e professora da Universidade Federal Rural do Pará (Ufra), Fernanda Martins, a situação da Rita é complexa e tem a ver com a forma que os cães processam uma perda, além da qualidade do vínculo do humano com o animal. Mas o que a cachorrinha sente, não é saudade do dono.

“Já tem um ano que a cadela viu o dono entrar na UPA. Será que ela ainda lembra do tutor? Sim, ela lembra. Temos comprovação que os cães têm memória de curto e longo prazo. Mas será que ela tá ali com saudade? A gente pode dizer que um animal social sente a perda de um membro do grupo, seja humano ou não. Mas não podemos chamar esse sentimento de saudade, pois não temos como avaliar. Mas podemos dizer que é tristeza. E pesquisas apontam que esse luto, isto é, o sentimento de perda pode durar meses. Temos registros de que ele pode perdurar em cães por até seis meses”, explicou Fernanda.

A especialista avalia que Rita deve ter passado por um período sentindo-se abandonada. “No caso da Rita, me parece muito mais um sentimento relativo a um abandono. Ela viu o dono sair e não mais voltar, perdendo também o ambiente que morava, a garantia de alimentação, segurança, abrigo. Todos os cães abandonados sofrem de algo desse tipo”, contou.

“Sobre o fato dela permanecer lá, precisamos observar que outras pessoas começaram a alimentá-la e suprir suas demais necessidades? Porque aí, ela fica ligada ao novo ambiente por mais coisas que não é só a lembrança do dono. Talvez ela já tenha outros vínculos positivos que estão fazendo ela permanecer nesse local”, finalizou a especialista.

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