Especialistas explicam o motivo do 'buraco escuro' crescer quando olhamos para ele
Nova teoria é que a ilusão começa ainda nos olhos

O movimento do 'buraco escuro' é um dos fenômenos mais estudados na Neurociência e na Psicologia, pois o seu entendimento pode ajudar a conhecer melhor como o cérebro humano processa informações visuais. A ilusão também é conhecida como "buraco em expansão".
Ao olhar para a imagem, temos a impressão que o buraco/mancha escura parece aumentar de tamanho e até se movimentar. Algumas pessoas relatam que a parte escura vai em direção a elas ou têm a sensação de que estão caindo dentro do buraco negro. Tudo isso pode ser explicado a partir da ciência em um estudo acadêmico publicado no início do ano pelos especialistas Nasim Nematzadeh e David Powers da Universidade de Flinders, na Austrália.
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O artigo foi publicado na plataforma arxiv, da Cornell University, dos Estados Unidos. Segundos os pesquisadores, “A ilusão do buraco em expansão desafia as visões tradicionais da percepção de movimento, demonstrando como imagens estáticas podem evocar fortes sensações de movimento”.
Como funciona a ilusão do buraco em expansão?
O estudo aponta que a ilusão produz um efeito físico, como a dilatação da pupila, e não só mental, como se acreditava anteriormente. Desta forma, os pesquisadores sugerem que a ilusão começa no olho, então depois é processada pelo cérebro.
A dupla utilizou um modelo computacional, chamado de Diferença de Gaussianos (DoG), que simula o funcionamento das células da retina para poderem testar o que estava apenas como hipótese. Assim, eles puderam explicar como elas nos fazem enxergar a ilusão. O trabalho explica como as células ganglionares (RGCs, sigla em inglês) processam o contraste e a percepção de movimento. Elas são neurônios responsáveis por receber estímulos visuais e levá-los até o cérebro.
Dessa forma, quando se olha para a imagem do "buraco em expansão", algumas células percebem o centro escuro e menor, já outras percebem a mesma imagem maior. Aí é que reside a ilusão, já que cada uma delas mandará os estímulos diferentes para o cérebro ao mesmo tempo, fazendo com que ele fique confuso. Assim, ele interpreta a diferença nas informações como se a imagem, até então estática, como dinâmica, ou seja, em movimento e crescendo. Esse processo é chamado de "Inibição Lateral", em que células nervosas reduzem ou até mesmo inibem a atividade de suas vizinhas, o que faz com que a ilusão aconteça.
No caso do DoG utilizado pelos pesquisadores, ele se comportou de forma semelhante ao sistema humano óptico humano, o que confirma o que estavam sendo proposto. No caso do modelo, ele criou uma versão borrada da imagem, tirando duas camadas desfocadas, assim como nossas células da retina. Quando eles ajustaram o filtro, os pesquisadores perceberam que as células também interpretavam a mesma imagem de maneira diferente.
Por que estudar sobre a ilusão do buraco em expansão?
Além do entretenimento, o estudo da ilusão revela importante conhecimento sobre fenômenos visuais e como funcionam alguns mecanismos cerebrais e da percepção humana.
Um ecologista visual da Universidade de Exeter, que não participou do estudo de Nasim Nematzadeh e David Powers, explicou ao New Scientist que a descoberta é útil para entender os padrões da natureza e ela aumenta a compreensão teórica sobre como as ilusões visuais funcionam. “Listras de zebra e padrões de asas de borboleta, todos esses tipos de coisas que muitas vezes são muito mal compreendidas”, explica o especialista.
Além disso, ele afirma que até o estudo publicado, as explicações sobre o assunto eram vagas, mas o trabalho de Nematzadeh e Powers, baseado em mecanismos neurais e processamento visual, é mais preciso.
(Escrito por Rafael Lédo, estagiário de Jornalismo, sob supervisão de Vanessa Pinheiro, editora web de Oliberal.com)
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