Educação digital pode reduzir horas na frente de telas
Especialista aponta que "vício" em telas é mais má educação para uso de tecnologias

Passar muitas horas do dia olhando o smartphone não necessariamente é um "vício patológico". As muitas horas que as pessoas passam na frente das telas seria ocasionado mais por má educação para a utilização da tecnologia, segundo a doutora em saúde mental Anna Lucia Spear King, do Instituto Delete, especializado no assunto. Ela alerta que a educação é fundamental para evitar os prejuízos do uso excessivo de telas.
O Instituto Delete foi criado em 2013, dentro do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A instituição é pioneira no Brasil e também uma das primeiras no mundo voltada à pesquisa sobre o impacto das tecnologias na saúde e às orientações sobre o uso consciente das telas e a dependência digital.
A pesquisadora diz que muitas pessoas procuram o instituto achando que estão viciadas, mas, na verdade, precisam de orientações e de colocar em prática novos hábitos.
"A gente começou a ver uma diferença entre essa dependência que todos nós temos da tecnologia, que a gente usa todos os dias e por muitas horas para trabalhar, da dependência patológica, que é a nomofobia. E essa, sim, precisa de tratamento", disse. "As pessoas confundem, acham que só porque usam todos os dias por muitas horas, são viciadas no rigor da palavra. Mas não é verdade. Elas são, às vezes, mal educadas. Usam sem hora, sem limites e regras, mas não precisam de tratamento. Precisam de educação digital", explica.
King ressalta que as procuras aumentaram nos últimos anos com a popularização de jogos de aposta online. As apostas online mexem com o cérebro das pessoas com uma enxurrada de hormônios que faz com que o usuário sinta uma falsa sensação de bem-estar. "Os jogos são feitos para a pessoa perder. No início, eles até estimulam, dão um valor para você jogar só para te empolgar. Quando você entra naquele jogo e aprende a jogar, você já era. Você começa a perder dinheiro, perder, perder, aí você já se vê viciado. O jogo libera algumas substâncias químicas no cérebro, como dopamina, endorfina e serotonina, que são substâncias que nos dão prazer. Elas agem no setor de recompensa do cérebro".
"O tratamento é psicológico e psiquiátrico. O psiquiatra vai ver se tem algum transtorno associado e o psicólogo vai ensinar pra pessoa o que está acontecendo com ela. Aí mostra os prejuízos que ela vai ter, as perdas que ela está tendo, a separação familiar. Porque todo mundo tem que ficar pagando as contas da pessoa e ninguém quer, né? Então, briga com a família inteira. A pessoa vai se conscientizando que aquele caminho não vai levar nada.
A atenção deve ser redobrada com crianças e adolescentes para um convívio saudável com as telas. Ela apoia as medidas de restrições de utilização de smartphones nas escolas. "Eu acho maravilhosa. Só se pode usar a tecnologia com orientação do professor. Eu sou super a favor, porque agora eles têm que interagir, fazer esporte, se socializar, perder a timidez, coisas que fazem parte do desenvolvimento deles. Com celular na mão, cada um se isola no seu canto", destaca.
King considera que os pais e responsáveis precisam limitar o uso de computadores, jogos online e celular por vários riscos que as crianças e adolescentes correm na internet. "O adolescente não tem que ficar o dia inteiro em um quarto jogando ou usando a internet. Primeiro, porque o menor de idade não pode usar internet sem supervisão de um adulto. A internet é uma porta aberta para o mundo e está cheia de pessoas de má índole, vigaristas, golpistas, pedófilos, gente do mal. Não é só a gente do bem que tem na internet. Não se pode deixar adolescentes ou menores de idade usarem a internet sem supervisão de um adulto vendo com quem tão conversando, quais sites estão acessando" alerta.
A psicóloga não é contrária ao uso de tecnologia. Ela acredita que educação e novos hábitos podem fazer com que as pessoas tenha uma vida que entenda o espaço da tecnologia na própria vida. King lista algumas dicas e orientações para quem quer ter uma relação mais saudável com a música.
"Não usar tecnologia logo que acordar, primeiro levanta da cama, toma o café da manhã. Não usar na hora das refeições. Tem gente que almoça e janta com o celular na mão e nem curte a comida, nem sente o gosto. Outra dica é desligar duas horas antes de dormir para relaxar o cérebro, se sentir descansado", destaca.
Outra orientação é não ficar usando tecnologia em locais públicos, em ônibus, metrô, em salas de espera. E quando saímos com amigos ou familiares restaurantes também deixar o celular de lado para dar atenção para as pessoas que estão conosco.
"Quem trabalha, usar tecnologia apenas em horário comercial e buscar mostrar para o chefe que ele tem que entender que não deve mandar coisas para o profissional fazer na hora do almoço, nem depois do horário comercial. Ninguém está recebendo hora extra para fica trabalhando o dia inteiro, não é?", aponta.
E quando estivermos no trabalho, a pesquisadora orienta não usar celular e redes sociais para fins pessoais. "Você está sendo pago para trabalhar para aquela empresa. Se você fica usando para coisas pessoais, respondendo seus e-mails pessoais, vendo redes sociais na empresa e recebendo pela empresa, você também está agindo errado".
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