Tecnologias focadas na criação de imagens podem impactar setores negativamente, diz especialista
Professor afirma que elas ainda estão longe de entrar no mercado paraense, mas já existem muitas pesquisas e, dependendo de como forem usadas, podem causar danos
Dar vida a imagens a partir de tecnologias visuais e de inteligências artificiais é o novo foco do mercado mundial. As iniciativas passam por um óculos capaz de projetar hologramas interativos, lançado pela Microsoft no Brasil e já à venda; a reconstituição de imagens que foram apenas imaginadas, por meio de ressonâncias magnéticas da atividade cerebral, no Japão; e a criação de vídeos curtos a partir de uma única frase dita.
Apesar de a realidade ainda estar longe do mercado paraense, pesquisadores têm demonstrado preocupação com o uso que será dado a essas ferramentas, que podem causar danos à população.
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Professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e doutor em neurociência, com atuação em neurociência e inteligência artificial, Bruno Gomes alerta que, dependendo de quais organizações e entidades colocarem as mãos nessas novas tecnologias, a sociedade poderá ter prejuízos.
“Podemos imaginar uma série de aplicações que podem ser danosas a um indivíduo ou grupo. Governos autoritários podem usar isso para tentar sondar constantemente o que as pessoas estão pensando. Não necessariamente são aplicações positivas, por isso, por enquanto, elas são provas de conceito e, para chegar ao mercado, vai demorar bastante”, enfatiza.
Existe uma variedade muito grande de tecnologias no mercado brasileiro e mundial, de acordo com o especialista, e não é possível explicar o que está acontecendo em termos de interação, tecnologia e sistema visual. Mas, Bruno ressalta que essas aplicações já estão pelo menos começando no Pará e na Amazônia, dentro e fora das universidades.
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Só que, segundo ele, é preciso saber diferenciar o que é prova de conceito e o que é aplicação, ou seja, o que deve sair mesmo do papel. “Você vê muita prova de conceito impressionante, mas passar disso para a aplicação é um passo imensamente complexo. Envolve uma série de coisas, incluindo não só dificuldades como aceitação do mercado, mas também questões éticas importantes”, ressalta.
Como exemplo, ele cita que a produção de imagens a partir da atividade cerebral é algo muito interessante, mas acha que vai demorar para chegar ao mercado porque seria necessário aferir sinais cerebrais para ter uma imagem formada. “Não é fácil colocar no mercado nada que cause interferência no corpo ou algum tipo de contato para extrair informações”.
Impacto
Caso essas e outras iniciativas que envolvem a criação de imagens de forma artificial saiam do campo de testes, alguns setores podem ser impactados, dependendo da aplicação das tecnologias. Afinal, nos dias de hoje, lembra o professor da UFPA, a tecnologia, principalmente a parte capitaneada pela inteligência artificial, está em tudo. Ou seja, qualquer área pode ser revolucionada a partir disso.
Um exemplo disso é o próprio Chat GPT, que, segundo Bruno, não foi previsto por pesquisadores da área, mas revolucionou o mercado, mesmo não sendo uma ferramenta muito complexa de inteligência artificial. “Foi um sucesso, e agora estamos pensando o porquê desse sucesso”, diz. Uma suspeita é o fato de que a ferramenta usou um fator crucial ao ser humano: a linguagem.
“Quando você vai ao médico fazer uma ressonância magnética ou uma tomografia, muito provavelmente o equipamento que está sendo usado para aferir as imagens do seu cérebro ou outra parte do corpo tem uma inteligência artificial muito mais complexa. No entanto, você não tem acesso direto a ela, não tem um contato, nem ao menos sabe que ela está acontecendo. Já o Chat GPT pegou em um ponto nevrálgico, que é a linguagem. É um campo do comportamento humano importantíssimo que foi subestimado por muitos tecnólogos: a comunicação”, argumenta o doutor em neurociência.
Embora não seja ainda possível prever quais novas tecnologias podem ser bem sucedidas, Bruno tem certeza de uma coisa: as revoluções em tecnologia vão mudar a vida e o comportamento humanos. Na verdade, cada vez mais, elas têm focado na comunicação e linguagem como tendência, a exemplo dos casos citados: traduzir em imagem um pensamento ou uma frase e a criação de hologramas. O próprio Chat GPT tem a proposta de se parecer com um ser humano, e não falar como uma máquina.
A única saída do ser humano para conviver com essas revoluções no mercado de trabalho, na opinião de Bruno, é, em primeiro lugar, entender essas ferramentas, não necessariamente mudando de área ou adentrando caminhos fora de sua área de atuação. “Jamais seria a favor de alguém ser obrigado a aprender a programar, por exemplo, para entender uma tecnologia revolucionária, mas é absolutamente necessário que se esteja atualizado. E que os profissionais entendam as consequências do uso daquela tecnologia no seu trabalho”.
Outro ponto importante é não deixar o número de “novos excluídos digitais” subir, o que, para o doutor em neurociência, é um risco - os chamados “excluídos da revolução da inteligência artificial”. Pelo contrário, a depender da área de atuação, o profissional deve verificar o que pode ser feito para, junto com a tecnologia, se tornar imprescindível.
Investimentos em tecnologia no Brasil/2023
- Mercado de tecnologia da informação e comunicação (TIC): alta de 5%, chegando a US$ 80 bilhões
- Setor de tecnologia da informação (TI): avanço de 6,2%
- Área de telecomunicações: estimativa de um crescimento de 3%
Fonte: IDC Brasil
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