Automação e sustentabilidade alavancam processos tecnológicos na indústria do Pará

Construção civil está entre os segmentos mais inovadores do Estado e utiliza tecnologia para modelar construções, gerando ganhos para o processo como um todo

Elisa Vaz

O cenário de inovações que faz parte da rotina do século XXI engloba um amplo sistema de avanços tecnológicos, incluindo inteligência artificial, robótica, internet das coisas e computação em nuvem. Esses fenômenos têm impacto também nos processos produtivos e vêm transformando setores tradicionais em segmentos cheios de inovação. A Indústria 4.0, ou 4ª Revolução Industrial, mudou suas formas de produção e agora usa tecnologias capazes de melhorar sua eficiência, por meio da automação, sustentabilidade e inovação.

Diretor de operações do Sesi/Senai no Pará, Raphael Barbosa acredita que, diferente de outras Revoluções Industriais, esta tem sido percebida enquanto acontece, e não depois. Segundo ele, o Pará tem uma grande diversidade de tecnologias que já estão disponíveis para a sociedade e que impactam nos meios de produção, ainda que a estrutura local trabalhe com cadeias produtivas consideradas básicas.

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Um dos setores que mais têm avançado no Estado, segundo Raphael, é o da construção civil, que utiliza uma tecnologia chamada BIM (do inglês, Building Information Modeling), capaz de criar modelagens de uma construção gerando uma série de ganhos para o processo como um todo.

“Hoje, se você for em um grande empreendimento e quiser entendê-lo, não precisa mais ter uma maquete, nem de objetos físicos. Você entra no seu celular e, a partir da realidade aumentada, visita o que seria o seu apartamento em 3D. É até uma forma de mobiliar o seu espaço sem ele efetivamente existir”, explica.

Tecnologias como essa, para o diretor de operações, são “extremamente importantes”, porque reduzem riscos, dão maior gestão e controle do que está sendo feito nas construtoras, aumentam a produtividade e ainda reduzem custos, o que significa que existe a melhor utilização e aproveitamento dos materiais, reduzindo o retrabalho, os desperdícios e o uso da água.

“Em tudo isso temos grandes avanços a partir da utilização de tecnologias disponíveis para que consigamos, fisicamente, entregar algo melhor, mais seguro e com um custo menor. É o que vemos muito com essas novas tecnologias disponíveis”.

Construção civil aponta caminhos tecnológicos que economizam

Buscando inovar no mercado da construção civil, a Amazon Recover é uma startup que chegou a construir uma casa no Espaço Inovação do Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, iniciativa do governo do Estado, com tijolos e pisos construídos a partir do reaproveitamento de materiais como plástico, vidro e rejeitos da mineração. O custo dos materiais foi 30% menor do que o utilizado nas construções tradicionais.

Na opinião do sócio-diretor e desenvolvedor, Marcos Sousa, a indústria da construção civil tem passado por várias transformações para otimizar seus processos, com o objetivo de diminuir perdas e reutilizar resíduos. Tudo isso, segundo ele, é possível com o auxílio da tecnologia.

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“Nosso foco é a sustentabilidade dentro dessa indústria que consome cerca de 75% de toda a matéria-prima oriunda de fontes naturais, ou seja, a proposta é devolver para o setor produtivo subprodutos de uso recorrente em obras de engenharia civil de pequeno a grande porte gerados a partir dos plásticos, vidros e outros resíduos do setor produtivo como um todo”, explica. Marcos garante que esses itens viram produtos versáteis, econômicos e ecológicos, mostrando o papel transformador do segmento.

Há ainda um impacto nas cooperativas de materiais recicláveis. “Imagina você fazer parte de um setor que tem um potencial enorme, porém, não sabe como explorar. O setor da reciclagem no Estado não consegue absorver 3% dos plásticos gerados, e só o município de Belém gera em torno de 5.850 toneladas de resíduos plásticos todos os meses. Se esse montante fosse efetivamente reciclado, geraria uma receita próxima de R$ 1,5 milhão por mês a essa cadeia. A tecnologia proposta por nós traz a verticalização dessa cadeia e a direciona para a indústria da construção civil. Isso traz a qualificação profissional dos catadores, proteção do meio ambiente e, claro, a sustentabilidade".

Mineração tem experiência com máquinas autônomas

Outro setor que tem avançado em tecnologia dentro da indústria, segundo o diretor de operações do Sesi/Senai, Raphael Barbosa, é a mineração. Ele cita que, nas plantas produtivas minerais, é muito comum encontrar veículos autônomos, ou seja, que funcionam sozinhos, sem a necessidade de um condutor. Em vez disso, a máquina é conduzida por uma programação e por pessoas que trabalham com o gerenciamento da inovação.

“Temos de ganho com isso: a segurança, porque o veículo autônomo tem todas as normas de segurança para evitar que se tenha acidente e qualquer outra coisa que vai impactar no processo produtivo; o custo operacional, porque existe a necessidade de manutenção, mas ela pode ser feita de maneira remota e, como o veículo é utilizado da melhor maneira, há menos desgaste dos materiais; e, logicamente, a sustentabilidade, já que as trocas periódicas vão ser menores. Isso traz uma série de ganhos também para as empresas, e é um cenário que vemos hoje, principalmente, nas grandes áreas mineradoras aqui do Estado”, declara o especialista.

Em uma das empresas com atuação no Pará, a Hydro, os avanços tecnológicos são palpáveis. O diretor de tecnologia de bauxita e alumina, Raphael Costa, acredita que investir em inovação é uma das formas de alcançar o desenvolvimento socioeconômico do Estado. Portanto, a empresa conta com um “robusto” ecossistema de inovação tecnológica que, além de encontrar soluções sustentáveis para suas operações, tem fomentado qualificação, desenvolvimento e empregabilidade de pessoas no Pará.

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“A empresa investe constantemente em projetos de pesquisa e desenvolvimento e inovação tecnológica. Além de contar com um grupo dedicado de mais de 30 pessoas atuando diretamente em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, equipes multidisciplinares de experts técnicos e centenas de equipes de melhoria de processos, a Hydro conta ainda com um amplo círculo de parceiros externos, professores, pesquisadores e estudantes de instituições de ensino renomadas, e empresas fornecedoras de equipamentos e serviços técnicos. O dinamismo e a agilidade desses grupos criam um ambiente de sinergias positivas, o ecossistema de inovação”, avalia.

Nos últimos anos, os principais avanços tecnológicos vivenciados dentro da Hydro, segundo ele, foram: a metodologia Tailings Dry Backfill, solução pioneira que permite que os rejeitos inertes da mineração de bauxita sejam devolvidos às áreas já abertas e mineradas, ao invés de serem depositados em áreas separadas e permanentes de armazenamento, eliminando a necessidade de construção de novas barragens permanentes; uma parceria com uma empresa da indústria de cimento, realizando testes em escala industrial para o aproveitamento do resíduo de bauxita, cujo principal benefício potencial ambiental é a substituição de matérias-primas naturais e não renováveis pelo resíduo de bauxita, dando um novo destino para esse material e possibilitando a redução do consumo de recursos naturais.

Além disso, a refinaria de alumina Hydro Alunorte tem importantes avanços tecnológicos, com uma metodologia moderna para a disposição de resíduos com a utilização de filtros prensa. Eles geram um resíduo seco que é empilhado e compactado, e a combinação dessas tecnologias resulta em uma redução de mais de quatro vezes na pegada ambiental necessária para armazenar os resíduos, quando comparado à tecnologia anterior de filtro de tambor. A empresa investiu mais de R$ 1 bilhão para garantir a disposição de resíduos com a tecnologia, de acordo com o diretor Raphael Costa.

Trabalho passa a ser mais técnico que braçal

Embora muitas pessoas acreditem que a tecnologia será responsável por reduzir os postos de trabalho para seres humanos, o especialista do Sesi/Senai no Pará, Raphael Barbosa, diz o contrário: com a Indústria 4.0, há uma substituição natural de trabalhos braçais e de alta periculosidade pelos mais técnicos. “O setor precisa de pessoas treinadas para fazer a manutenção, atualização e para gerenciar todos esses softwares que são necessários. O que nós temos hoje é uma modificação do perfil do mercado de trabalho para pessoas que vão pensar, que vão trabalhar na proposição de novas tecnologias”, avalia.

O profissional precisa, portanto, buscar constantemente uma requalificação, para atender às novas necessidades do mercado, seja qual for sua área. “A pandemia facilitou, ou, de certa forma, abreviou o processo de avanço tecnológico. E, logicamente, precisamos de profissionais formados nessas novas áreas para que esse processo seja feito de maneira mais natural”, diz Raphael.

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No Estado do Pará, há uma grande carência por profissionais da área de automação, de programação e de tecnologia da informação, principalmente, segundo o diretor do Sesi/Senai, mas várias frentes de formação têm sido criadas pelo Sistema S, do qual o Sesi e o Senai fazem parte. Chegaram, inclusive, 11 laboratórios que simulam o ambiente de uma Indústria 4.0, e agora todas as unidades do Senai no Estado terão esse espaço, onde o aluno vai simular o ambiente de uma indústria já automatizada e com normas de segurança.

A Hydro também tem feito sua parte. No final de 2022, foi concluído o curso de especialização em engenharia geotécnica, em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), na primeira turma. Ao todo, 16 alunos defenderam suas monografias. “Há uma grande demanda no mercado por profissionais especializados em engenharia geotécnica e percebemos uma oportunidade de desenvolver uma equipe própria, com alto nível de conhecimento e alinhada às nossas necessidades e, além disso, contribuir para o desenvolvimento da mão-de-obra qualificada local. Foi feito um mapeamento dos perfis de nossos engenheiros e das funções ocupadas atualmente para formação desta equipe. Com este mapeamento em mãos, engajamos a UFPA para formatar a grade curricular do curso de especialização”, diz o diretor de tecnologia da empresa.

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