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Tecnologia permite reaproveitamento de resíduos para gerar novos produtos e biocombustíveis

Pesquisas mostram o uso de matéria-prima nativa da Amazônia para produção de biocombustíveis

Emilly Melo

Por ser um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do mundo, a Amazônia oferece uma gama de possibilidades em insumos naturais, que podem ser completamente aproveitados com o uso de tecnologia. À medida que a demanda por produtos sustentáveis cresce, a necessidade de garantir a qualidade dos insumos biodegradáveis se torna cada vez mais crucial. Ao mesmo tempo, o reaproveitamento de resíduos industriais desponta como uma solução inovadora para mitigar o impacto ambiental das atividades econômicas industriais. 

A partir de soluções tecnológicas, é possível analisar e certificar a qualidade desses insumos, garantindo que a riqueza da biodiversidade amazônica seja utilizada de maneira responsável e sustentável. A combinação entre ciência e consciência ambiental possibilita que os profissionais busquem não apenas atender aos padrões de qualidade, mas também promover práticas que respeitem e preservem o meio ambiente. 

Dentro da Universidade Federal do Pará (UFPA), entre as atividades realizadas pelo Laboratório de Óleos da Amazônia (LOA/UFPA) estão o controle de qualidade de insumos amazônicos e o reaproveitamento de resíduos industriais. Por meio de técnicas específicas, é possível utilizar desde a polpa da fruta até as cascas e os caroços como fonte de matéria-prima para uma variedade de produtos, que abrangem cuidados para o cabelo até opções culinárias e de fontes de energia.

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“O que nós desenvolvemos no laboratório é uma tentativa de fazer um aproveitamento total dessas matérias-primas que vêm da floresta. Não só o óleo ou a manteiga que os vegetais nos proporcionam, como a andiroba, tucumã, patauá, castanha-do-Pará, mas também todos os subprodutos que são gerados a partir dessas espécies”, conta Luis Adriano Nascimento, vice-coordenador do projeto.

Novas fontes de energia

Conforme as discussões globais se intensificam para combater os efeitos das mudanças climáticas, a busca por alternativas sustentáveis de energia ganha força. Luis Adriano ressalta o potencial dos óleos extraídos e resíduos de espécies nativas da Amazônia como fontes viáveis de biocombustíveis, uma solução que tem o potencial de não apenas diversificar a matriz energética, mas também preservar a biodiversidade da região.

Ao passo que o mundo busca alternativas para reduzir as emissões de carbono e enfrentar as mudanças climáticas, o potencial dos biocombustíveis se torna cada vez mais relevante. “Neste cenário de descarbonização, é fundamental acreditar nas possibilidades que a Amazônia oferece. Nesse mercado de transição energética, de descarbonização, é muito importante acreditar no potencial dos biocombustíveis.”, complementou.

Com uma atuação de cerca de 25 anos no mercado de energia renovável, o empresário Sérgio Marques está desenvolvendo um trabalho de pesquisas em Barcarena para exportar energia na forma de biocombustíveis. 

“A gente tem uma área em Barcarena, a ideia é usar a planta de Barcarena para fazer SAF (Sustainable Aviation Fuel — traduzido do inglês para Combustível Sustentável de Aviação), em que você reduz até 80% da emissão de gás carbônico”, revela o empresário.
Segundo Sérgio Marques, essas práticas garantem certificação às empresas, o que pode reduzir alguns custos. “É essencial garantir que os produtos utilizados não tenham concorrência alimentar e que não venham de oleaginosas oriundas de áreas degradadas ou que utilizem monoculturas. Embora não sejam proibidos, esses métodos tornam a certificação mais difícil e, consequentemente, reduzem os preços”, explicou o empresário.

Marques também abordou a questão dos resíduos, ressaltando que o manejo inadequado desses de alguns materiais é um problema ambiental. No entanto, eles podem ser utilizados para extrair óleo, que pode ser hidrogenado para ser utilizado no SAF. “Essa é uma oportunidade, especialmente no Pará, que está se consolidando como uma rota de exportação para oleaginosas, como soja e milho”, afirmou Marques.

A estratégia da empresa, segundo ele, é aproveitar esses insumos. “A ideia é utilizar o óleo e a soja que chegam ao estado, passando pelo processo de hidrogenação e exportação. Atuamos em todas as etapas, desde o desenvolvimento e comercialização até a implantação e operação do mercado do SAF. Nossos principais clientes são as companhias aéreas europeias.”

Ciência na Amazônia

Natália Moraes, graduada em engenharia de bioprocessos e mestranda em biotecnologia na UFPA, pesquisa sobre resíduos sólidos. Nesta linha de estudo, Natália estuda resíduos naturais, com uma ênfase especial no babaçu, que é utilizado por comunidades que extraem óleos dessa planta. “O babaçu é tradicionalmente utilizado pelas quebradeiras de babaçu para a extração de óleos, que, por sua vez, são empregados na fabricação de cosméticos. O que sobra desse processo é resíduo, que representa entre 80% e 90% do material”, explica Natália.

Ela destaca que esse resíduo pode ser aproveitado de diversas maneiras. “Podemos utilizar a casca, o mesocarpo e a semente do babaçu. Esses materiais podem ser transformados em embalagens biodegradáveis e outros produtos, como materiais para apelo, além de terem potencial para a produção de carvão.” A pesquisa de Nathalia busca não apenas valorizar esses subprodutos, mas também promover uma abordagem sustentável no uso de recursos naturais.

O pesquisador enfatiza que a atuação na Amazônia não se resume a extrair matéria-prima. “Ao fazer ciência na Amazônia, nós estamos formando pessoas, qualificando, fazendo com que se formem mestres e doutores. Isso já é um grande passo.” Essa formação de recursos humanos qualificados é fundamental para o desenvolvimento sustentável da região.

Ele enfatiza que fazer ciência na Amazônia é um desafio que vai além das dificuldades logísticas e financeiras. “Muito importante dizer que fazer pesquisa na Amazônia não é uma coisa fácil. Sempre é um desafio”, afirma Nascimento, ressaltando a complexidade de trabalhar em um dos ecossistemas mais ricos e frágeis do planeta. No entanto, ele destaca que essa empreitada traz recompensas significativas. “Nós temos certeza de que esse trabalho é muito, mas muito gratificante, porque amplia nossos horizontes.”

Além do investimento em capital humano, os produtos oriundos da floresta oferecem novas possibilidades para a indústria. “Pensar no óleo de tucumã não mais apenas como um simples óleo, mas como um ingrediente para novos hidratantes e cosméticos”, sugere. 

O pesquisador acredita que, ao transformar esses produtos e seus resíduos, é possível agregar valor e fomentar parcerias com o setor produtivo. “Isso é muito importante, porque estamos gerando emprego, gerando renda e promovendo uma aproximação da universidade com empresas, indústrias e cooperativas de extrativistas”, conclui.

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