Tarifas de Trump ameaçam mercado de eletrônicos no Pará, mas setor se mantém otimista
Notebooks devem ser os mais afetados, avalia o empresário Guilherme Kuze

Os eletrônicos também entraram na mira das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a China, reflexo da concentração da produção global do setor no país asiático. A medida acendeu um sinal de alerta entre os empresários do ramo no Pará, que especulam uma abertura para novas rotas comerciais. Só nos três primeiros meses deste ano, o estado registrou US$ 62,1 milhões em importações de eletrônicos dos EUA, principal fornecedor do segmento. Para Guilherme Kuze, empresário com 15 anos de atuação no estado, o cenário atual aponta para dois principais caminhos: a necessidade de adaptação do mercado e o encarecimento dos notebooks.
A primeira previsão corresponde a um processo que ele defende como uma adaptação necessária no mercado. Devido à perda do principal fornecedor, a busca por um novo país que possa suprir as necessidades dos produtos no estado é um movimento comum. Segundo ele, tudo indica para a China como esse novo mercado em potencial, porque é onde se concentra a fabricação de peças da maioria dos eletrônicos.
Esse movimento pode acontecer também no sentido inverso, com a China buscando novos destinos para sua produção. “Se os produtos americanos ficarem muito caros, os fabricantes chineses vão tentar redirecionar esses itens para outros países”, projeta o empresário.
Apesar da preocupação com a instabilidade nas tarifas, o setor tem se preparado. A estratégia atual de grandes importadores é garantir estoques robustos, comprando em larga escala, numa tentativa de driblar a instabilidade das decisões da Casa Branca. Trump chegou a recuar nas taxações sobre os eletrônicos, mas não deu sinais de que irá encerrar a ofensiva comercial.
Esse movimento, no entanto, pode penalizar empresas de menor porte, que enfrentam dificuldades para competir com os grandes players. “Quando o mercado está bagunçado assim, os grandes players acabam garantindo um estoque abundante e as empresas pequenas e médias acabam tendo dificuldade para repor esse estoque também”, explica Kuze.
Outro reflexo esperado é o aumento da presença de marcas asiáticas no mercado interno, o que pode tornar os preços mais competitivos. Com a produção pronta e a perda de mercados tradicionais, a tendência é que as fábricas chinesas ofereçam esses produtos a preços mais baixos para escoar os estoques. Na avaliação do empresário, isso garantirá produtos em circulação e valores acessíveis por algum tempo.
Notebooks na linha de frente
Entre os produtos mais afetados, os notebooks lideram as preocupações. Kuze explica que o equipamento possui uma oferta mais restrita de fabricantes, o que torna seus preços mais suscetíveis a oscilações. “É um item com poucos fabricantes, então dificilmente o valor cai. Mesmo em momentos de crise, os preços costumam se manter altos”, afirma.
Atualmente, os notebooks variam entre R$ 2 mil e R$ 5 mil, conforme marca, desempenho e configurações. Já os computadores de mesa apresentam uma faixa mais ampla: os mais simples custam cerca de R$ 700, os modelos intermediários entre R$ 2 mil e R$ 3 mil, e os gamers podem ultrapassar R$ 40 mil, dependendo dos upgrades.
Análise econômica
Para a assessora econômica da Fecomércio-PA, Lúcia Lisboa, ainda é cedo para mensurar os efeitos exatos das tarifas, mas os sinais de impacto já são perceptíveis. “Embora o Brasil tenha sido menos afetado diretamente, os principais componentes são importados. Com a nova taxação, eles ficarão mais caros. Somado ao custo do Brasil, os preços finais devem subir, dificultando inclusive a atração de novos investimentos”, avalia.
O economista paraense Rafael Boulhosa vê na abertura de mercado a alternativa mais viável para a China. Segundo ele, o país asiático deve fortalecer relações com parceiros fora do alcance tarifário dos EUA. “Os produtos que antes eram destinados ao mercado americano tendem a ser redirecionados a outros países, muitas vezes com preços mais vantajosos para escoar a produção acumulada”, projeta.
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COP 30 impulsiona o setor
Apesar das incertezas globais, o mercado de eletrônicos no Pará tem sentido os primeiros efeitos positivos da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em Belém. O empresário afirma que as vendas cresceram cerca de 15% graças a projetos ligados ao evento. A principal fonte dessa receita são os contratos empresariais, impulsionados pelas obras de infraestrutura que precisam de equipamentos eletrônicos na sua produção.
“As obras de infraestrutura estão movimentando o mercado. Estamos fornecendo equipamentos de informática para construtoras envolvidas em projetos de hotéis, hospitais e outras obras preparatórias”, relata o empresário.
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