Inteligência Artificial: ameaça ou oportunidade no mercado de trabalho no Pará?

Profissionais e especialistas paraenses apontam movimento tecnológico como a ‘4ª revolução industrial’

Maycon Marte
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Comparada à revolução industrial, a chegada das Inteligências Artificiais (IA) também deve alterar as relações de mercado e pode ou não representar uma ameaça, dependendo do contexto. O ilustrador e diretor de arte paraense Vilson Vicente lamenta que as profissões mais criativas estejam sendo tão afetadas pela competitividade desleal com as IAs. Ele observa dois cenários já presentes na realidade da capital paraense: contratantes substituindo ilustradores pela nova tecnologia com a justificativa de baixo custo e ilustradores que aliam a IA ao seu trabalho de maneira mais harmônica.

Nesse cenário, tempo é dinheiro, e as IAs oferecem os dois aos contratantes, que, segundo Vicente, argumentam que essas tecnologias fazem o trabalho mais barato em menos tempo. No segmento específico da ilustração, como para outras profissões criativas, ele destaca também a fragilidade de organização dos profissionais enquanto categoria, que reflete na ausência de uma precificação padrão e em regras mais sólidas no mercado. A soma desses aspectos reflete nos exemplos que o profissional já presenciou em Belém, como espaços que substituíram trabalhos de ilustradores por IA.

“Isso gera um problema que é a inexistência hoje de uma barreira para alguém escolher ou não quando usar a inteligência artificial, ou seja, a gente já vê, por exemplo, no dia a dia, principalmente para negócios que tem menor poder de investimento em criatividade, a IA substituindo completamente o trabalho de um ilustrador. Eu já vi, por exemplo, cardápio de restaurantes, fachadas de loja, festivais, enfim inúmeros projetos que usam Inteligência Artificial substituindo um profissional de ilustração, das artes gráficas em geral, quando não de fotografia”, observa.

Análise especializada

Na avaliação da engenheira de computação e pesquisadora do Centro de Excelência em Eficiência Energética da Amazônia (Ceamazon), Priscila Lobato, de Belém, estamos vivendo a Quarta Revolução Industrial, também chamada de Indústria 4.0. Nesse movimento, além das Inteligências, outras tecnologias como Automação (Robótica), Computação em Nuvem, Internet das Coisas (IoT, sigla em inglês), também acompanham essa revolução. Ela avalia a possibilidade de desequilíbrio em alguns setores caso não haja a devida capacitação para lidar com a IA, entretanto, aponta um potencial grande para o mercado, se profissionais e tecnologias conseguirem equilibrar os processos.

“O uso da automação e da IA pode aumentar a eficiência e otimizar o tempo de trabalho. Isso possibilita que os trabalhadores de tarefas monótonas e repetitivas tenham mais tempo para se concentrar em atividades mais criativas e estratégicas, além de realizarem outras atividades pessoais, além das profissionais. No entanto, sem capacitação e planejamento adequado, pode haver desemprego em alguns setores mais vulneráveis, resultando em um impacto negativo para algumas pessoas. Porém, se as novas oportunidades e ferramentas de IA forem bem aproveitadas e aplicadas em suas respectivas áreas, o impacto positivo será muito maior”, defende a especialista.

Quando questionada sobre o desaparecimento de postos de trabalho, como consequência desse avanço tecnológico, ela afirma que sim, mas que esse processo não precisa ser visto com maus olhos. “Assim como ocorreu nas revoluções anteriores, é provável que as IAs substituam algumas funções, principalmente as tarefas repetitivas e baseadas em padrões. Isso não significa, necessariamente, 'roubar empregos', mas sim transformar o mercado de trabalho”, explica.

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Futuro

Embora a pesquisa da Page Interim aponte que três a cada quatro profissionais brasileiros acreditem que a IA vá substituir os seus empregos, a especialista e o ilustrador crê em um futuro menos pessimista quanto à possibilidade de humanos e tecnologia trabalharem em conjunto. Para a engenheira, a chave desse equilíbrio “está no aprendizado contínuo”, ou seja, capacitar os profissionais mais afetados para utilizarem com maestria a IA nos seus processos.

Com uma visão semelhante, o ilustrador defende como ponto essencial a responsabilidade, seja dos profissionais como categoria, quanto dos contratantes. Ele acredita no uso da IA para apoiar o processo criativo, por exemplo na organização de muitas ideias. No entanto, reforça que é impossível vislumbrar esse futuro sem o que resume como “responsabilidade do mercado”.

“Eu acho que a responsabilidade de entender que máquinas são incluídas no nosso dia a dia o tempo todo e desde sempre, tecnologias em geral, seja uma faca ou um computador de alta geração, mas quando a gente está falando de contar uma história, que depende de vivências, é preciso entregar isso nas mãos de seres humanos”, enfatiza o ilustrador.

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