Epidemias serão mais frequentes e menos sazonais por conta de mudanças climáticas, diz especialista
O combate à dengue e outras arboviroses foi discutido em reunião no Instituto Evandro Chagas, na última quarta (6)
O impacto das mudanças climáticas e ambientais nas epidemias foi um dos tópicos discutidos na reunião de pesquisadores e especialistas, realizada na última quarta-feira (6), na sede do Instituto Evandro Chagas (IEC). A expectativa é de que as epidemias, em especial de arboviroses - como a dengue, zika e chikungunya - ocorram com maior frequência, em intervalos mais curtos entre si e deixem de ser sazonais, ou seja, próprias de um período do ano.
O evento reuniu representantes do Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/MS) e do IEC, com o objetivo central de debater medidas para combater e reduzir doenças causadas pelos arbovírus e destacar a relevância da parceria entre as pastas.
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Segundo Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, refletir sobre os impactos das mudanças climáticas nas epidemias foi um dos motivos da visita.
“As mudanças climáticas e outros eventos extremos eram algo que o Brasil não tinha. A gente não se preparou para isso como outros países da América, que já têm experiência com eventos extremos, como tsunamis e terremotos. No Brasil, a gente não tinha convivência com esses fenômenos, nossos órgãos e serviços de saúde não estão preparados. Agora temos que nos adequar, pois esses eventos não serão mais atípicos. Pelo que temos visto esses eventos chegaram para ficar”, afirma.
Em relação às epidemias, Ethel Maciel destaca que elas serão mais frequentes e ocorrerão em prazos mais curtos. "As próprias epidemias de dengue, que costumavam ser de 2 em 2 ou de 3 em 3 anos, estão ocorrendo em períodos mais curtos. Inclusive os momentos da sazonalidade, com a alta de casos que só aconteciam no início do ano com as chuvas, aconteceram em 2023 o ano inteiro. Então, há um comportamento diferente como resultado desses impactos, principalmente do El Nino, mas nas mudanças climáticas de modo geral", destaca.
De acordo com a secretária, o fenômeno El Niño, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico na porção equatorial, impactou a epidemia de dengue no Brasil. “Este ano no Brasil estamos vendo um número expressivo de casos de dengue e chikungunya. Desde o ano passado, estamos empreendendo esforços para conter isso. Sabíamos que 2024 seria um ano mais complexo, do ponto de vista das arboviroses, pelo impacto do El Niño. Aqui na região Norte, em especial, a temperatura elevada facilita a reprodução do mosquito”, afirma.
Os quatro sorotipos de dengue estão circulando no país, em diferentes regiões, algo que não era visto há muito tempo, conforme a representante do Ministério da Saúde. “Nas últimas epidemias havia uma circulação maior do tipo um, agora estamos notando uma alta circulação do tipo dois, o que leva pessoas que adoeceram no ano passado ou retrasado a terem uma segunda infecção com maior gravidade. Vários estados no Brasil decretaram situação de emergência em relação à dengue, sendo o Acre o único estado da região Norte”, explica.
Parceria com o Instituto Evandro Chagas
O Instituto Evandro Chagas (IEC) é um órgão vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) do Ministério da Saúde (MS). Para Ethel, o instituto é motivo de orgulho por ser um centro de referência para epidemias não só no Brasil, como também para as Américas.
“O IEC é muito importante para apoiar não somente o Brasil, mas as Américas nas próximas ações. O IEC está trabalhando em conjunto com a nossa Coordenação de Arbovirose e Coordenação de Laboratório de Saúde Pública. O instituto já está auxiliando o Ministério da Saúde com cursos e treinamento de profissionais, análises de amostras e análise de óbitos supostamente causados pela doença, que podem ser investigadas com maior profundidade”, declara.
“Estamos trabalhando em conjunto com o IEC também em ações de pesquisa, porque aqui é um importante polo de desenvolvimento de tecnologia, como novos métodos de diagnósticos e vacinas sendo analisadas junto à FioCruz. Estamos aqui para saber o que podemos fazer de melhor e nos preparar para os próximos anos”, completa.
(*Eva Pires, estagiária sob supervisão de Fabiana Batista, coordenadora do núcleo Atualidades)
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