Em Salinas, restaurante na praia reaproveita óleo de cozinha para produzir sabão
Empreendedores cuidam do meio ambiente e, consequentemente, do lazer sustentável dos banhistas
Com as férias escolares, o fluxo de visitantes nas praias do Estado aumenta e, infelizmente, isso resulta automaticamente em acúmulo de lixo nas faixas de areia. Prova disso é que em julho do ano passado em Salinas, no nordeste paraense, imagens de rastro de lixo e fezes na praia do Atalaia, uma das mais frequentadas da região, viralizaram nas redes sociais e chamaram atenção do poder público.
Na ocasião, os veranistas flagraram objetos como garrafas de vidro, papel, sacolas plásticas e latinhas de cerveja, entre outros itens na beira do mar. Apesar de cenas como essa serem comuns, na contramão desse cenário, empreendedores das praias mais famosas do Pará têm tomado atitudes que cuidam do meio ambiente e, consequentemente, do lazer sustentável dos banhistas.
É o caso da Odilene, 54, proprietária do restaurante Sonho Meu, localizado na ilha de Cotijuba, de Belém. Ela tem o empreendimento há 10 anos na praia do Vai Quem Quer e, por conta própria, retira os resíduos sólidos deixados por seus clientes e reaproveita até o óleo de cozinha para fazer sabão.
“Nós compramos recentemente uma máquina para cortar as garrafas e fazer copos diferentes. Mas o que já temos feito há bastante tempo é o reaproveitamento do óleo de cozinha. Ao invés de descartar, eu faço sabão em barra e sabão líquido. Isso tudo porque começamos a entender que precisamos cuidar mais da nossa praia. E fazer isso é, inclusive, nas economias. Reaproveitar resíduos também é economizar”, conta Odilene.
Ela lamenta o lixo deixado nas praias de Cotijuba e revela que às vezes, precisa entrar em embate com os visitantes. “As pessoas já chegam na praia com suas bebidas e, infelizmente, voltam para as suas casas sem elas, deixando garrafas e latinhas nas praias. As latinhas e garrafas pets a gente separa para reciclagem, mas as garrafas de vidro ainda não temos como despachar. Então, nosso espaço fica cheio de garrafas, acumulamos porque é melhor aqui que no rio”, explica.
“Por isso, a gente tem um trabalho constante de conscientizar os visitantes. Se for preciso, a gente briga. Porque é absurdo, muitos deles trazem o lixo mas não trazem sacos para guardar, então deixam na praia. Daí a gente vai lá com eles entregar sacos plásticos para separar o lixo e eles recusam. Ocorre também deles fazerem fogueira na praia, deixando a praia suja. É triste, mas estamos aqui fazendo a nossa parte”, finaliza Odilene.
Salinas
Em Salinas, outro restaurante também aproveita o óleo da cozinha para fazer sabões, o Atalaia Vip, que está na praia do Atalaia há 12 anos. O gerente Frank Campanha, 26, conta que a ação partiu da necessidade de fazer algo para dar exemplo de uso sustentável da área.
“Todo nosso óleo é reutilizado para a produção de sabão. Além disso, quanto às garrafas de vidro, só comercializamos garrafas retornáveis, o que obriga o cliente e os nossos garçons a ficarem atentos à devolução ao restaurante, minimizando o acúmulo de garrafas na praia, que infelizmente, ocorre na Atalaia”, conta Campanha.
Para ele, quem usa a praia de forma comercial, deve se responsabilizar pelo lixo dos clientes. “Acredito que os donos de restaurante devem cuidar do lixo deixados pelos seus consumidores. Por isso, aqui a gente orienta nossos atendentes a deixarem sempre um saco de lixo nas mesas e sempre ficar atentos aos resíduos. É nossa a responsabilidade”, defende o gerente.
Impactos do lixo na sociedade
O doutor em engenharia ambiental, Paulo Pinho, alerta que os prejuízos vão além da poluição da natureza. A sujeira atrapalha também o lazer e bem-estar dos veranistas. “O primeiro prejuízo é em relação ao próprio gozo do tempo. Porque a pessoa sai da sua rotina esperando encontrar uma areia, um terreno em que possa pisar, brincar; uma água limpa para que possa mergulhar, se exercitar e pescar. Mas se a gente compromete esses recursos, a gente compromete também a nossa própria qualidade de vida”, explica o especialista.
“Outra questão muito séria, é a situação dos restos de alimentos que acabam atraindo vetores como baratas ou moscas que nos trazem doenças. É importante lembrar que a carência de saneamento também provoca doenças na nossa pele. Portanto, esse despejo irregular de lixo ou restos de alimentos ocasionam em problemas lesivos à nossa saúde”, continua Paulo Pinho.
Por isso, é importante conscientizar a população sobre as formas corretas de descartar os resíduos, seja na praia ou na cidade. “É necessário que o ser humano saiba cognitivamente racionalmente das consequências do despejo irregular de lixo, mas também que ele tenha valores, respeito e altruísmo em relação às outras espécies e também a nossa própria espécie, pois os animais e nós, seres humanos, somos afetados pelo problema do lixo. Então é a questão da educação, inclusive para que tenhamos uma postura correta, independente do processo de fiscalização do poder público”, pondera o pesquisador.
Cuidados para os banhistas
Paulo Pinho ressalta a importância dos órgãos públicos cuidarem da balneabilidade das praias no Pará, o que dá mais segurança aos banhistas no lazer. Já o veranista, pode se cuidar também olhando melhor onde pisa.
“Antes dos banhistas, os órgãos públicos devem ter o cuidado com a questão da balneabilidade das praias, que precisamos melhorar a cobertura desse serviço, para termos um monitoramento das nossas águas do Pará, seja praias, rios ou igarapés. Agora, os banhistas devem se atentar onde pisam para não acabar se furando, se cortando com caco de vidro ou qualquer outro material. E quando se ver lama negra, pense que pode ser esgoto, então é importante andar calçado, lavar os pés, lavar as mãos com frequência porque essa higiene é fundamental para evitar doenças”, aconselha.
O engenheiro também ressalta que os banhistas devem ir às praias com um local para separar e guardar seu lixo corretamente, seja reciclável ou não.
“Se eu vou na praia, devo levar um saco para o resíduo reciclável e outro para o resíduo comum, que a gente chama de rejeito, aquele que não é aproveitado. Ainda bem que agora nós vamos receber a COP 20 em Belém, no ano de 2025, e todo mundo vai falar sobre meio ambiente. Mas não podemos esperar para que as pessoas tenham mais consciência. Então faço esse apelo, separem corretamente seus resíduos e cuidem mais dos nossos espaços públicos”, finaliza.
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