Senador Jader Barbalho faz balanço da trajetória política em entrevista ao Grupo Liberal
Aos 80 anos, político trilha carreira de quase 60 anos dedicados à representação política
Jader Barbalho, um dos grandes nomes da política paraense, completa neste domingo (27/10) 80 anos. Em entrevista ao Grupo Liberal, Jader Barbalho relembrou os momentos mais marcantes da sua carreira, avaliou a atual situação política e a democracia do país e falou sobre desenvolvimento na Amazônia, a realização da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que acontecerá em Belém no próximo ano, e os planos para os próximos anos.
Com 57 anos da sua vida dedicados à carreira política, o atual senador do Pará já exerceu vários mandatos, inclusive no período da Ditadura Militar, quando ocupou o seu primeiro cargo público, como vereador entre 1967 e 1971. Na sequência, foi deputado estadual por um mandato, entre 1971 e 1975; deputado federal quatro vezes, de 1975 a 1979, de 1979 a 1983, de 2003 a 2007 e de 2007 a 2010. Foi o primeiro governador do Pará durante o período de restauração da democracia, de 1983 a 1987 e de 1991 a 1994. Já na função de senador, cargo que ocupa atualmente, Barbalho passou por três gestões: de 1995 a 2001, de 2011 a 2019 e de 2019 a 2027.
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Como governador, Jader Barbalho teve um papel relevante no desenvolvimento de infraestrutura do estado, focando em obras de pavimentação e construção de estradas, principalmente para integrar regiões mais isoladas. A área da saúde também foi beneficiada com a expansão de hospitais e postos de saúde em vários municípios, assim como a educação, com a criação de escolas e programas de capacitação para professores.
Jader Barbalho também promoveu a construção do Memorial da Cabanagem como parte de um projeto de valorização da identidade e história do estado, buscando homenagear a Revolta da Cabanagem. Inaugurado em 1985, durante seu primeiro mandato como governador do Pará, o memorial foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
Como líder, foi presidente nacional do PMDB (atual MDB), presidente regional do partido no Pará e líder da bancada do PMDB na Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) e no Senado Federal. Também já foi presidente do Senado Federal. Ao longo da vida pública, recebeu inúmeras homenagens por meio de medalhas e plaquetas no Congresso Nacional.
Pessoalmente, Jader Barbalho é pai do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), e do ministro das Cidades do governo federal, Jader Filho (MDB). Os dois filhos são frutos do casamento que teve com a deputada federal Elcione Barbalho (MDB). Veja a entrevista na íntegra:
- Com essa vasta experiência, quais foram os momentos mais marcantes da sua trajetória política?
Foram muitos os momentos marcantes. Evidentemente que um dos mais marcantes foi quando eu tive a oportunidade de ser eleito governador do Pará com 37 anos de idade, até hoje, na história do Pará, eu sou o governador que chegou mais jovem ao Governo do Estado. Foi um momento inesquecível. Em minha carreira política, comecei com vereador de Belém, fui deputado estadual e duas vezes deputado federal em seguida, porque eu não tinha idade para concorrer ao Senado, eu tinha menos de 35 anos. Depois veio a eleição direta para Governador do Estado ainda no final da ditadura militar, e eu me elegi governador do Pará com 37 anos de idade. Depois, fui ministro de Estado da Reforma Agrária e fui ministro da Previdência Social.
Em 1990, eu voltei a concorrer para o governo do Estado e fui eleito, mais uma vez, governador do Pará. No final deste mandato, eu concorri ao Senado da República e me elegi senador, inclusive mais três vezes, e hoje continuo a representar o Pará no Senado.
Eu só tenho a agradecer a Deus pela vida e agradecer ao povo do Pará, que sempre foi profundamente solidário e generoso comigo, me dando oportunidade de ocupar todos os cargos. Eu só não ocupei o cargo de prefeito, nunca fui candidato a prefeito e também a presidência da República, mas em todos os demais cargos eu tive a oportunidade de exercer. Então, eu só tenho agradecimento a Deus e ao povo do Pará neste momento em que eu completo 80 anos de vida.
- Analisando o cenário político brasileiro dos últimos anos, quais os desafios da democracia brasileira desde a redemocratização o senhor percebeu?
Comecei na política estudantil, pertencia a um movimento da Igreja Católica, chamado Jac - Juventude Estudantil eu Católica. Minha grande recordação é ter sido presidente do Centro Honorato Filgueiras, do grêmio estudantil do Colégio Paes de Carvalho. Na sequência, concorri a vereador, isso ainda no período militar, em 1966, e logo adiante vivenciamos um dos períodos mais negros da ditadura militar, que foi o AI-5, em 1968. Eu participei ativamente em Brasília de um grupo chamado, no MDB, de "Os Autênticos". Então, vivenciei todo esse período e, ao longo do tempo, foi se constituindo graças a grandes figuras, como Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Teotônio Vilela, tantas outras grandes lideranças que eu tive a oportunidade de conhecer e de conviver.
Eu só tenho a festejar mesmo esse privilégio que Deus me deu de chegar aos 80 anos de idade, registrando boa saúde e ocupando o cargo de Senador da república, e inclusive tendo privilégio de ter no governo do estado o Helder, que é meu filho, esse é um privilégio para mim ter a oportunidade de assistir a carreira de sucesso do Helder, inclusive o desempenho dele com o governador do Pará, e do outro filho ocupando o Ministério das Cidades, que também, para mim, é motivo de muita alegria. Então eu, nesses 80 anos, só tenho a agradecer, repito a Deus e ao povo do Pará pela solidariedade com que eu sempre contei. Espero, no exercício do mandato de senador, continuar defendendo os interesses do Pará.
- O que o senhor acha da jovem política que está surgindo no cenário nacional e local?
Eu acho que a participação dos jovens é fundamental, isso porque a participação dos jovens faz com que a política e a vida pública sejam oxigenadas, acho que eu só tenho a festejar a participação da juventude brasileira e, de um modo especial, a juventude do Pará. Como um homem público e como senador da República, eu festejo isso e os jovens contam com o meu apoio.
- Quais os projetos o senhor considera como prioritários para o Pará ou para a Amazônia em tramitação no Congresso?
Em primeiro lugar, muita gente fala da Amazônia e não conhece a Amazônia, eu espero, inclusive, que agora com a COP 30 seja uma grande oportunidade de o mundo conhecer melhor a Amazônia. Eu defendo na questão da Amazônia, tal a sua extensão, já que só a Amazônia brasileira corresponde a dois terços do território nacional, eu defendo que há muito a necessidade de se mapear a Amazônia, que não é uniforme, e dar um tratamento distinto a cada região. Aqui mesmo no Pará, nós temos em frente à Belém o Marajó., que é uma região de características próprias, diferente da região sul do Pará, às margens do Araguaia e do Tocantins.
O Pará é um estado vocacionado para o desenvolvimento, não só pelas suas riquezas naturais, seja a mineração, seja da economia agroflorestal e também o turismo, porque eu acho que o Pará tem toda uma vocação para o turismo. Temos que festejar no Oeste do Pará, em Alter do Chão, aqui na região conhecida como região Nordeste ou Bragantina, então a vocação do Pará para o turismo e um turismo ecológico. Não tenho a menor dúvida de que o Pará é um estado fadado, apesar das nossas dificuldades, a se desenvolver cada vez mais.
- Como o senhor vê a polarização na política e se já tinha visto um cenário polarizado como esse em outras épocas?
Eu acho que a unanimidade na política e na sociedade é um equívoco, a sociedade é plural, então eu considero natural e não vejo, neste momento, isso. Eu acho que o presidente Lula desempenha com muita sabedoria a presidência da República e, aqui, no nosso estado, só tenho a festejar, não só por ser meu filho, mas festejar o fato de Helder realizar um grande governo em favor do povo do Pará. Acho que a polarização política faz parte da democracia e não vejo absolutamente nenhuma inconveniência nisso. Eu tenho medo é das unanimidades, própria da ditadura, que não aceita a divergência e não aceita a contradição.
- Como vê o embate entre STF e Congresso em alguns temas?
Acho que cada um tem as suas atribuições, o Congresso Nacional, a Grande Assembleia do povo brasileiro, discutindo novas leis, corrigindo leis já existentes, e o Supremo Tribunal Federal cumprindo o seu dever de controle de constitucionalidade do que diz respeito à Constituição e o seu papel de julgador. São atribuições distintas. Não há conflito nenhum, é o poder que controla a constitucionalidade, o ruim seria só o Congresso existente e o Supremo não podendo absolutamente examinar a constitucionalidade das leis. Acho que são poderes distintos e que tem uma contribuição enorme no exercício da democracia e à serviço da sociedade brasileira.
- Qual a expectativa envolvendo grandes projetos para o Pará, como Margem Equatorial, Ferrogrão e Pedral do Lourenço, que esbarram em questões ambientais?
Há possibilidade de conciliar respeito ao meio ambiente sem perder absolutamente a possibilidade de termos o desenvolvimento com a geração de emprego, renda e produção. Não vejo nenhuma dificuldade na questão da Margem Equatorial, Pedral do Lourenço ou da grande hidrovia do Araguaia-Tocantins, elas são fundamentais para o desenvolvimento do Pará e eu não vejo nenhuma dificuldade em poder conciliar o respeito ao meio ambiente.
- Acha que Belém e Amazônia têm vivido um momento de protagonismo no cenário mundial? O que isso representa e pode proporcionar para a população local?
Eu acho que, cada vez mais, a Amazônia ganha atenção do mundo inteiro e esse episódio da COP 30, no Pará, vai ser uma oportunidade muito grande, inclusive de investimentos em favor da Amazônia e do seu povo. Não podemos admitir que sejamos, como se falava no passado, única e exclusivamente uma reserva. Nós temos que levar em consideração que devemos respeitar o meio ambiente, mas, fundamentalmente, nesse meio os homens, mulheres e pessoas que habitam aqui.
Há a possibilidade de respeitar a questão do meio ambiente, que é fundamental, mas ao mesmo tempo respeitarmos a sobrevivência, o direito ao trabalho, a melhor vida, daqueles que habitam aqui. Eu sou muito otimista com relação ao futuro da Amazônia, era adolescente quando o grande presidente da República deste país --- que aliás eu tive o privilégio de conhecer pessoalmente ---, Juscelino Kubitschek, abriu a rodovia Belém-Brasília, porque até então tudo chegava pelas águas, e a Amazônia se integrou ao Brasil, particularmente o Pará, e outras rodovias nasceram e toda essa região foi ocupada. Não tenho a menor dúvida de que vamos continuar crescendo e vamos ser fundamentais para o Brasil e para o mundo.
- O senhor poderia compartilhar os planos para os próximos anos? Pretende disputar mais uma eleição ou se acredita que chegou o momento de descansar com a sua carreira política?
Eu não me sinto absolutamente cansado, evidentemente, eu acho que na vida pública e na política deve haver um processo de renovação política. Eu, no momento, desejo cumprir este mandato até o final de 2026. Agora, se as circunstâncias da política e vida pública requisitarem a minha permanência, eu quero dizer que eu continuarei participando da vida pública do Pará e da vida pública do Brasil. Eu não me sinto absolutamente cansado e lembrando o meu pai: eu não sou um velho, eu sou um idoso, tenho idade, mas velho eu não.