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Guerra Israel x Hamas completa 1 ano

Doutor em relações internacionais, Mário Tito Almeida faz uma análise sobre os fatos mais importantes do conflito e fala sobre as perspectivas para os próximos meses.

Amanda Engelke

Nesta segunda-feira (7), faz um ano desde o ataque do Hamas a Israel, que resultou na morte de mais de 1.200 pessoas e no sequestro de cerca de 250. A resposta israelense foi imediata, com a declaração de guerra ao grupo. Desde então, o conflito se intensificou, atraindo novos atores e aumentando as tensões no Oriente Médio. Neste um ano, para o doutor em Relações Internacionais, Mário Tito Almeida, além de vidas, perdeu-se “a capacidade de diálogo e mediação de conflitos”.

Ele aponta que o conflito, que inicialmente era focado no Hamas, acabou afetando gravemente a população civil, com áreas inteiras destruídas e milhares de pessoas deslocadas. Nesse cenário, para ele, “o que realmente morreu foi a democracia”, diz, acrescentando que “o que se vê hoje é “uma terra arrasada”. “A Faixa de Gaza, que antes abrigava cidades, comércio e escolas, foi transformada em ruínas, sem estruturas básicas de saúde ou educação”, analisa.

De acordo com o professor, as ações de Israel contra o Hamas e o Hezbollah têm sido justificadas pela luta contra o terrorismo, mas, na prática, essas operações têm causado mortes de civis, como o recente ataque a Beirute, no Líbano. “O uso excessivo de força, que atinge inocentes, é um dos grandes problemas desse conflito”, ressalta Almeida. Ele também destaca que a escalada de violência colocou toda a região em alerta, com o risco de uma participação mais ativa do Irã e outras potências regionais.

Direito de defesa “inafastável’

O presidente do Centro Israelita do Pará, Isaac Ramiro Bentes, ressalta que a entidade não tem “qualquer ingerência direta no conflito”. Porém, pontua que, “como representantes de uma comunidade que guarda inequívoca solidariedade ao povo e ao Estado de Israel”. Ele diz que a entidade considera “inafastável o direito de defesa contra as ameaças terroristas, ao mesmo tempo que esperamos que isso se dê com o menor sofrimento possível às populações inocentes, cujas vidas também nos são caras e valiosas”.

Bentes classifica o Hamas e o Hezbollah como “entidades terroristas” e lembra que o Hamas “se apoderou” de Gaza. Ele alega que, desde 2007, o local tem sido preparado “não para vida digna aos palestinos, e sim como uma base militar para atacar e destruir Israel”. Para Bentes, o Hezbollah, também “se apoderou do Líbano a mando do Irã”. No dia seguinte ao ataque do Hamas a Israel, ele recorda que o grupo também “deu início a ataques diários com milhares de mísseis lançados em direção a Israel”.

“Israel passou então a se defender, o que implica buscar a destruição desses inimigos que já confessaram e demonstraram ser implacáveis, cruéis e irreconciliáveis. Além do trauma inicial, nossa comunidade, como todas as comunidades judaicas da Diáspora, está desde então enfrentando sentimentos de tristeza e apreensão pela sorte dos reféns, pelas mortes de pessoas inocentes e pela própria ameaça existencial ao Estado de Israel”, compartilha o líder israeltita.

Conflito multifatorial

Para o professor Mário Tito, o conflito não pode ser entendido como um evento isolado. Ele observa que há causas internas e externas em jogo, envolvendo interesses estratégicos e econômicos de diferentes nações, como os Estados Unidos, um importante aliado americano no Oriente Médio, funcionando como uma base estratégica para a defesa de interesses, especialmente ligados ao petróleo. “A lógica de manter uma presença militar para garantir a estabilidade na região é uma constante na política americana”, analisa.

‘Paralisia’ da ONU

Tito ainda reflete sobre o papel da diplomacia global e destaca a “paralisia” da ONU, especialmente do Conselho de Segurança, que, segundo ele, tem se mostrado ineficaz na mediação do conflito. “O Conselho de Segurança da ONU, com seu sistema de vetos, tem se tornado um obstáculo à resolução de crises como essa”, observa. Ele defende que a ONU precisa ser reformada para se tornar mais eficiente em contextos de guerra e violação de direitos humanos.

Atuação do Brasil é ‘limitada’

Em relação ao Brasil, Almeida lembra que o país historicamente tem uma tradição de mediação de conflitos e defesa dos direitos humanos, mas sua atuação direta no Oriente Médio é limitada. O foco do Brasil, de acordo com o professor, tem sido a proteção de seus cidadãos e a denúncia de ataques contra civis. “O Brasil não tem a influência de outros atores na região, mas se coloca como um defensor dos interesses humanitários”, conclui o professor.

1 ano da Guerra Israel-Hamas

7 de outubro de 2023: Ataque surpresa do Hamas

- Hamas lança uma ofensiva contra Israel a partir de Gaza, disparando foguetes e realizando incursões terrestres. Aproximadamente 1.200 israelenses são mortos, e centenas de civis e militares são sequestrados.

- Israel inicia uma forte resposta militar com bombardeios aéreos em Gaza. Os ataques são direcionados à infraestrutura do Hamas, incluindo depósitos de armas e túneis subterrâneos.

8 de outubro de 2023: Hezbollah entra no conflito

- Hezbollah, apoiado pelo Irã, lança foguetes contra o norte de Israel, a partir do sul do Líbano, abrindo uma nova frente de combate.

- Israel responde com ataques aéreos em posições do Hezbollah no sul do Líbano.

Outubro a novembro de 2023: Escalada e cessar-fogo

- Israel intensifica sua ofensiva terrestre em Gaza, realizando incursões com o objetivo de destruir a infraestrutura militar do Hamas, como túneis e centros de comando.

- Estados Unidos, França, Alemanha e outros países europeus apoiam o direito de Israel de se defender, enquanto nações como Turquia e Catar pedem o fim da violência e acusam Israel de uso excessivo de força.

- Um cessar-fogo temporário é negociado. Reféns sequestrados pelo Hamas são libertados, e prisioneiros palestinos são soltos por Israel.

Janeiro a abril de 2024: Alvos direcionados

- Israel realiza uma série de ataques direcionados contra líderes do Hamas e Hezbollah. Saleh al-Arouri, um dos principais líderes do Hamas, é morto em um ataque aéreo em Beirute. Outros líderes do Hezbollah também são mortos.

- Israel intensifica ataques aéreos contra posições militares no Irã e na Síria, matando um comandante da Guarda Revolucionária do Irã.

- O governo dos EUA continua apoiando Israel militarmente, mas pressiona Israel a evitar grandes ofensivas em Gaza que possam aumentar as baixas civis.

Julho de 2024: Ataques no norte de Israel

- Hezbollah lança foguetes que matam 12 crianças em Majdal Shams, no norte de Israel. Em resposta, Israel realiza bombardeios pesados no sul do Líbano.

Agosto de 2024: Intensificação dos ataques

- Hezbollah lança mais de 100 foguetes contra cidades no norte de Israel, incluindo Haifa e Nazareth. Israel responde com bombardeios aéreos em larga escala no sul do Líbano.

Setembro de 2024: Nova escalada

17 e 18 de setembro: Explosões simultâneas de pagers e walkie-talkies no Líbano matam 12 pessoas e ferem mais de 2.000, incluindo o embaixador do Irã. Hezbollah e autoridades culpam Israel, que não assume a responsabilidade.

19 de setembro: Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, reconhece grandes perdas e promete retaliação. Israel ataca lançadores de foguetes no sul do Líbano.

20 de setembro: Um ataque aéreo israelense destrói um arranha-céu em Beirute, matando o comandante do Hezbollah Ibrahim Aqil e outros 10 comandantes. O ataque resultou em 45 mortes.

21 de setembro: Israel bombardeia 400 alvos do Hezbollah, e o grupo responde com mísseis, atingindo 70 cidades no norte de Israel.

22 de setembro: Hezbollah lança mais de 100 mísseis e drones contra Israel, atingindo áreas até 50 km ao norte de Haifa. Netanyahu promete neutralizar a ameaça.

23 de setembro: Israel bombardeia o Líbano, matando mais de 350 pessoas, após alertas para evacuar áreas onde o Hezbollah armazenava armas.

28 de setembro - As Forças de Israel informam que o chefe do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, está morto. Nasrallah morreu após o ataque israelense nos subúrbios ao sul de Beirute, no Líbano. A morte também foi confirmada pelo grupo extremista, que prometeu continuar a batalha contra Israel.

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