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Discussão sobre financiamento climático marca o encerramento da 'Força-Tarefa' em Belém 

Evento reuniu por delegados dos países membros do G20 na capital paraense 

Kamila Murakami

Após dois dias de debates sobre pautas voltadas à emergência climática, a terceira reunião da Força-Tarefa do G20 para uma Mobilização Global contra a Mudança do Clima encerrou nesta sexta-feira (12/7), em Belém. O encontro reuniu delegados dos países membros do G20, que destacaram - ao longo do evento - a urgência do enfrentamento às mudanças climáticas e a preparação para a COP 30.

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Dentre as temáticas pautadas no evento estiveram governança ambiental, redução das desigualdades, transição energética, financiamento climático e a necessidade de ações coordenadas entre ciência, conhecimento e investimentos. 

De acordo com dados apresentados pela coordenadora da Trilha de Finanças do G20, embaixadora Tatiana Rosito, nos próximos seis anos será preciso investir, anualmente, cerca de US$ 4 trilhões para executar os objetivos traçados pelo Acordo de Paris. Para isso, a participação do setor privado é vista como fundamental, a fim de assegurar a implementação de tecnologias e infraestruturas sustentáveis.

A embaixadora deu ênfase à revisão das ações de combate às mudanças climáticas, bem como à revisão do sistema financeiro global relacionado a esse combate. Ela contou que em Belém, durante a COP, vai ser anunciado um novo conjunto de NDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada), de acordo com os planos nacionais de desenvolvimento e de investimento. O objetivo é desenvolver ferramentas de países que conectem investimentos nacionais e internacionais, envolvendo bancos multilaterais, bancos de investimento e atores privados.

“A questão da mobilização de capital privado foi central nas discussões. Há necessidade de usar capitais públicos para alavancar mais capitais privados, dado que os recursos públicos disponíveis são insuficientes. A percepção de risco elevado é um grande entrave, e as discussões focaram em como ajustar essa percepção e mitigar riscos para atrair mais capital", enfatizou.

Também estiveram presentes no encontro representantes da Confederação Nacional de Seguros, da Standard & Poor's e do grupo de engajamento B20. Eles falaram sobre a importância do seguro para catástrofes climáticas, atualmente escasso no Brasil, além de temas financeiros críticos para o combate às mudanças climáticas.

O secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, embaixador André Corrêa do Lago, ressaltou a importância de chegar à COP 30 com a mensagem de que as florestas são uma solução para as mudanças climáticas, além das oportunidades que cidades como Belém podem gerar em benefício para o mundo inteiro. “Apesar das recomendações do Acordo de Paris, as mudanças climáticas têm ocorrido mais rapidamente do que o previsto, com efeitos esperados para 2040 já se manifestando”, afirmou André. 

Cecilia Bernardes, representante de Angola (país africano convidado para a Força-Tarefa do Clima) disse que a nação angolana está na expectativa para que o G20 esteja à frente do processo de recomendação para influenciar as negociações climáticas. “Angola espera que o G20 se comprometa a fornecer apoio e capacitação aos países do sul global, facilitando o acesso a financiamentos sustentáveis”, declarou.

Conforme informado por Cecília, a Angola atualmente desenvolve projetos como a transformação de parte da floresta em uma área de conservação, a fim de evitar o desmatamento e manter a biodiversidade. A iniciativa da Bacia do Congo, liderada pela República do Congo, foi citada como exemplo de colaboração regional na proteção das florestas.

Para o coordenador do Grupo de Trabalho de Finanças Sustentáveis, Ivan Oliveira, os encontros já apresentaram resultados positivos em setores prioritários definidos pela presidência brasileira. Segundo ele, as discussões focaram no acesso aos fundos climáticos, definir critérios para transições justas, promover transparência empresarial e desenvolver soluções baseadas na natureza.

Ainda durante a reunião na capital paraense, foi divulgado o primeiro relatório do grupo de especialistas independentes, no qual foram propostas recomendações para melhorar a alocação de recursos aos projetos. Segundo o coordenador, as estratégias têm como intuito revisar procedimentos políticos, organizar melhor os fundos e eliminar competições desnecessárias.

“Espera-se que, com a aprovação do relatório e a implementação das propostas, os recursos cheguem de forma mais eficiente aos países em desenvolvimento. A ênfase foi colocada na transparência das ações empresariais, especialmente em relação aos custos para pequenas e médias empresas em países em desenvolvimento. A transparência é vital para garantir que as empresas estejam verdadeiramente comprometidas com práticas sustentáveis”, frisou Ivan.

O encontro também promoveu debates voltados aos mecanismos financeiros para viabilizar soluções que tenham como base a natureza. Na ocasião, foram recomendados 12 instrumentos financeiros com foco na expansão dos investimentos. As proposições serão disponibilizados em um site para ajudar os países a replicar ou usar esses instrumentos em seus próprios projetos.

O evento em Belém também preparou o caminho para a próxima reunião, que será no Rio de Janeiro. O objetivo é garantir que todas as entregas sejam fechadas e que os planos de implementação sejam práticos. Espera-se que, a partir do próximo ano, os recursos dos fundos climáticos cheguem de forma mais eficaz aos projetos de transição climática nos países em desenvolvimento.

A estimativa atual é que os fundos climáticos globais terão cerca de 30 bilhões de dólares nos próximos anos. “Revisar a arquitetura desses fundos é crucial para garantir a eficácia do financiamento climático”, avalia Ivan.

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