Servidores públicos são alvo do ‘golpe do empréstimo’ praticado por financeira em Belém
Prejuízo chegou a 370 mil reais apenas para uma das mais de 100 vítimas, segundo advogada que representa alguns ex-clientes da empresa Lótus. No Amazonas, quatro pessoas ligadas à financeira já foram presas em operação da Polícia Federal
Servidores públicos, aposentados, militares e pensionistas têm sido público-alvo do ‘golpe do empréstimo’, praticado por uma empresa de investimento financeiro identificada, em Belém, como Lótus Business Consigned. Uma das vítimas acumulou, em seis meses de contrato, um prejuízo de 370 mil reais. A empresa já é investigada pela Polícia Federal por meio da Operação Fair Play, cumprindo mandados de prisão no Pará e em outros três estados. No Amazonas, onde a empresa também realizava operações, quatro pessoas foram presas na última sexta-feira, 14.
Uma das vítimas, que tem a identidade preservada nesta matéria, conta que percebeu o golpe há pouco tempo, ainda no início de outubro, quando a empresa deixou de cumprir com sua parte no contrato e fechou as portas subitamente. Ela relata como a empresa agia:
“Ela se dizia correspondente bancária de vários bancos. Eles ligavam para a pessoa oferecendo propostas de empréstimo e investimento do dinheiro. A gente fazia um empréstimo e passava o dinheiro para eles. Eles diziam que iam reinvestir o dinheiro, pagando as mensalidades do empréstimo e ainda pagando uma porcentagem pra gente, como lucro. Mas agora, no mês de outubro, eles não pagaram mais nem o empréstimo nem a porcentagem. A gente ficou com toda dívida”, relata.
Outra pessoa que caiu no golpe, que também prefere não revelar publicamente seu nome, é um servidor público federal. Ele conta que a empresa passava muita credibilidade, por isso, não levantava suspeita de se tratar de golpe:
“O que gerava credibilidade na Lótus é que eles abordavam a gente mostrando, como exemplo, contratos de outros servidores, de pessoas que a gente conhecia. Além disso, eles já chegavam com todos nossos dados, todas as informações pessoais. Eles até chegaram a ir ao meu banco, falar com o meu gerente, pessoalmente. Então parecia alguma coisa séria”, descreve a vítima.
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Empresa praticava esquema de pirâmide financeira
De acordo com a advogada de defesa de 30 ex-clientes da instituição financeira, Nathaly Amanajás, o modo de ação da empresa caracteriza um esquema de pirâmide financeira, no qual o negócio cumpre com o acordo enquanto tem dinheiro, mas, depois, quando começa a falir, migra para outro nome, com outro registro, renovando o golpe e as vítimas.
“A gente já sabe que a empresa tinha pelo menos quatro CNPJs e que funcionava também em outros estados. Ela funcionava, em Belém, na avenida José Malcher, mas não tem mais nada lá. Os clientes, que tinham o contato com os consultores, contam que eles também se dizem tão vítimas quanto eles”, relata a advogada.
Nathaly conta que a maior parte dos empréstimos feitos pelas vítimas foram de quantias vultuosas. Um deles chegou a emprestar R$ 370 mil. Ela comenta que, apesar de representar apenas 30 pessoas, há indícios que, em Belém, a empresa já tenha enganado mais de 100 clientes.
“Eles têm grupos de aplicativo de mensagens com mais de cem vítimas que estão se movimentando contra a empresa. Essa empresa não é de Belém, a sede dela é em Manaus. Por lá, algumas pessoas já foram presas, inclusive. É uma empresa que atua desde 2020 e tem mais de um CNPJ”, alerta.
A advogada informa que todos os seus clientes já registraram Boletim de Ocorrência (BO) contra a financeira e que eles têm buscado apoio junto à Divisão de Investigação e Operações Especiais (Dioe), da Polícia Civil do Pará (PC), entretanto, ainda não tiveram retorno. “Como o caso começou a ser investigado pela Polícia Federal de Manaus, a gente ainda não sabe como vai ser feito aqui em Belém”, comenta.
Nathaly explica que, por enquanto, o que é possível fazer é agir administrativamente, junto aos bancos nos quais as vítimas fizeram o empréstimo, para tentar minimizar os prejuízos enquanto não há uma perspectiva de indenização por parte da empresa que aplicou o golpe:
“A gente está tentando entrar com uma defesa administrativa, diretamente em diálogo com o banco, para mostrar que foi um empréstimo fraudulento, pedindo a restituição e o cancelamento do empréstimo consignado”, informa.
A redação integrada de O Liberal entra em contato com as polícias Civil e Federal, do Pará e do Amazonas, para apurar mais detalhes sobre o caso.
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