'Não sabia por onde começar a procurar', diz avó que salvou neta de rapto em escola
Família narra o drama vivido após sumiço de estudante de 9 anos, encontrada horas depois, na Praça Amazonas
Foram três horas de agonia e buscas desesperadas pelas ruas de Belém que, por uma graça divina, tiveram um bom final: assim resumiu a família da estudante de 9 anos, raptada nesta segunda-feira (1) por um casal ainda não identificado, enquanto estava em aula em uma escola pública localizada no bairro do Guamá, em Belém. O caso ocorreu na Escola Estadual de Ensino Fundamental 15 de Outubro, na avenida José Bonifácio. A mãe e a avó foram à Seccional do Guamá nesta terça (2), para ajudar as investigações. A Polícia Civil já investiga o rapto e está produzindo um retrato falado. Buscas estão sendo realizadas. A escola será chamada a prestar depoimentos. A Seduc minimizou o ocorrido, dizendo que já deu orientações à escola.
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Passavam das 17h, quando a menina foi levada de dentro do estabelecimento público de ensino. Ela fazia educação física quando a escola liberou a criança para que uma desconhecida a levasse. Para isso, bastou que o casal dissesse tinha ido buscar a menina para a mãe. A menina acabou resgatada duas horas e meia depois, pela própria família, na Praça Amazonas. A avó a encontrou enquanto passava, de ônibus, pela praça - após iniciar buscas por várias ruas da capital.
"COLEGAS DISSERAM QUE ELA JÁ TINHA SAÍDO"
Na escola, uma mulher se identificou à professora como amiga da academia da avó e mãe da estudante. Bastou para levar a criança, diz a família. A aluna foi encontrada somente por volta das 20h, no bairro do Jurunas, pela própria avó-mãe, Maria Cristina Souza, de 46 anos, que, em desespero, saiu, de ônibus, pelos bairros do Jurunas e Guamá atrás da criança.
A avó conta que entrou em desespero depois que chegou na escola para apanhar a neta: uma estranha teria se identificado como amiga para poder levar a criança.
“Na hora da saída, quando fui buscar minha neta, os coleguinhas disseram que ela já tinha saído. Aí a professora me disse que uma mulher se identificou como minha amiga da academia, e disse que foi buscar minha filha, porque eu estava internada", narra Cristina Souza. "Liberaram minha filha [neta] foi com a mulher, que dizia que ia levá-la para me ver no hospital".
Segundo a avó da estudante, a coordenação da escola chegou a dizer que não atenderia ao pedido da mulher para levar a menina, mas mandou a estranha ir falar diretamente com a professora de educação física. Segundo a família da criança, a professora a teria liberado. "A professora alegou ainda que a menina não devia ter ido, já que não conhecia a mulher”, protestou a avó, Maria Cristina.
"SAÍ NA GARUPA DE UMA BICICLETA"
Para a avó, é errado a escola culpabilizar ainda a criança após o ocorrido. Ela diz que foi a escola quem errou, e não a criança. “Minha filha não é a responsável pelo que aconteceu. A escola, tanto a coordenação quanto a professora, deveriam ter me ligado para confirmar se era para liberar a criança. Mesmo que eu oriente minha neta a ter cuidados com estranhos, ela é uma criança, é ingênua e acreditou que indo com a mulher ia me encontrar”, disse Maria, que é técnica em enfermagem, mas está afastada das atividades.
Dentro da escola, após o alarde causado pelo rapto da estudante, os pais de outras crianças se solidarizaram: saíram à procura da aluna pela escola e pelas ruas do Guamá e bairros próximos. “A gente não sabia por onde começar a procurar. Primeiro, saí na garupa de uma bicicleta, procurando por ela ali por perto da escola, e fui pedir ajuda na Seccional do Guamá”, conta a avó.
"ESTAVA AGACHADA COM MINHA NETA, NA PRAÇA"
Somente depois de cerca de três horas de desepero, a avó resolveu ela mesma sair de ônibus, por vários corredores de trânsito da capital, em busca da neta. Ela conseguiu avistar a criança da janela de um ônibus, ao passar na praça Amazonas. A menina ainda estava com o casal que a tinha levado da escola, na avenida 16 de Novembro com a Rua Cesário Alvim, no bairro do Jurunas
“Dei muitas voltas pelos bairros do Guamá e do Jurunas. Mesmo sem saber para onde eu devia ir... Lembro que apanhei um Guamá-Conselheiro, fui pela frente do shopping, cheguei até na João Paulo II. Depois, apanhei um Guamá-Montepio e, em pé e de dentro do ônibus, avistei minha neta. A mulher estava agachada com minha neta, em uma rua, próximo à Praça Amazonas”.
"FOI SORTE, E FOI DEUS"
De imediato, Maria começou a gritar, de dentro do ônibus. E desceu correndo. A avó diz que a mulher fugiu em um carro. Foi quando ela pegou de volta sua neta.
“A menina estava muito abalada, respirava fundo e pedia que eu a protegesse. Foi sorte, e foi Deus que me guiou para reencontrar minha neta, não há outra explicação”, contou na delegacia esta manhã, ao conversar com a reportagem.
A avó Maria Souza é a segunda mãe da criança. É ela quem cuida cotidianamente da criança. Sua filha, a mãe da estudante de 9 anos, a técnica em enfermagem Jéssica Cristina dos Santos, 25 anos, trabalha fora e precisa da ajuda.
Após o reencontro, muito nervosas, a avó e a neta pediam juntas ajuda às pessoas que passavam pela rua e pela parada de ônibus próxima. A população acionou uma viatura da Força Nacional, que passava pelo local. Os policiais prestaram apoio e tentaram tranquilizá-las.
“Minha filha [neta] disse que já tinha visto aquela mulher antes, na frente da escola. E que só foi com ela de dentro da escola porque achava que ia me encontrar", conta a avó.
Ela alerta: "Minha neta diz que a mulher que a levou tem fotos de mais uma colega dela, da mesma escola. E dizia que ia cortar o cabelo dela e levá-la para o Rio de Janeiro, para encontrar outras coleguinhas. Disse também que andou em um carro preto e a mulher orientava para dizer que o motorista do carro era o pai dela”, relatou a avó.
A delegada responsável pela investigação do caso, diretora da Seccional do Guamá, Rosalina Arraes, disse que a polícia ainda tenta saber o que a mulher pretendia fazer com a criança. "Coisa boa não era", avalia a delegada, apontando que as investigações continuam.
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