Moradores de prédio incendiado na Gaspar Viana lamentam perda e somam prejuízos
O incêndio ao imóvel deixou 12 famílias desabrigadas
Um dia após o incêndio de grandes proporções em um prédio histórico, na rua Gaspar Viana, no bairro da Campina, em Belém, que deixou 12 famílias desabrigadas, o sentimento das vítimas era de tristeza. Nesta quinta-feira (14), enquanto acompanhavam o trabalho de rescaldo dos Bombeiros no local, os moradores contabilizavam os prejuízos.
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A perda no imóvel foi total. Segundo os ocupantes do prédio, algumas pessoas ainda conseguiram retirar uns poucos itens que estavam no andar térreo, mas, a maioria das famílias perdeu tudo. Seu Sebastião Benedito Pantoja, de 65 anos, que vivia há cerca de 22 anos no local, relata que ficou apenas com as roupas do corpo.
“Eu perdi tudo. Eu estou hoje com a roupa do corpo que tinha vestido ontem e o meu caderno de trabalho, onde eu anotava a venda de gás e de cerveja. Na hora do incêndio eu estava no Ver-o-Peso, onde eu trabalho. E aí ligaram para eu vir aqui, porém já não tinha mais como entrar. Eu fui dormir na casa do meu filho, no bairro da Condor, e hoje a gente vai decidir o que fazer”, contou.
O idoso diz que o imóvel era o local onde morava com as duas filhas e também servia de depósito para os itens que ele vendia na barraquinha que tem no Ver-o-Peso. “Muita coisa dessa venda eu já passei pro meu filho, que tinha o depósito aí embaixo. A gente vendia gás e bebida. Minha filha de 17 anos morava em um dos quartos comigo e a outra, de 20 anos, já é casada e morava com o marido no quarto do andar de cima”, diz.
Prejuízos
Selma Souza, de 47 anos, é outra moradora antiga do prédio. Ela relata que os moradores não seriam os proprietários do local e já teriam recebido ordem de despejo da prefeitura, mas não teriam para onde ir e, dessa maneira, permaneceram no imóvel.
“Eu comecei aqui como locatária, em 2002. A gente teve um despejo e saiu. Depois, moradores de rua entraram para usar drogas e eu retornei para cá, tirei os moradores de rua e reabilitei para voltar a morar aqui. Desde então, estávamos como invasores. O primeiro dono era um senhor portugues, ele faleceu e os três herdeiros perderam o imóvel para a prefeitura pois tinha muitos IPTUs atrasados. Só queria saber o que eles iam fazer com a gente. Ano passado recebemos outra ordem de despejo, mas estávamos esperando o despejo. Não temos para onde ir”, afirma.
A moradora diz que os moradores aguardavam um auxílio da Prefeitura de Belém para que todos fossem realizados para um local adequado. “Estávamos esperando um amparo das autoridades, por isso estamos aí. Aí nesse local tem famílias, tem idoso, criança e não mora nenhum drogado. Todos que moram aqui são trabalhadores do comércio, ambulantes, ninguém trabalha de carteira assinada. A gente não saiu antes porque não temos recursos para isso”, relata Selma .
Segundo a moradora, o prejuízo após o incêndio é de mais de 13 mil reais em mercadorias perdidas. “O primeiro andar cedeu e levou todas as minhas mercadorias, bebidas que iam ser vendidas, perdi tudo. A minha maior perda foi essa, pois era o meu material de trabalho, foram o material de equipamento que eram isopor, carrinhos e tudo mais. Só o boleto da mercadoria fica em torno de 13 mil, agora somando com o carrinho e outros equipamentos, eu nem sei quanto fica”, lamenta.
O que diz o Iphan
O imóvel incendiado na Boulevard Castilhos França, em Belém (PA), faz parte do conjunto arquitetônico, paisagístico e urbanístico dos bairros da Campina e Cidade Velha tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O imóvel aparece em fotografias datadas do século XIX, mas não há, em nossos registros, período exato de sua construção ou outras informações.
É importante destacar que o tombamento é uma ação de reconhecimento de um bem material como parte do Patrimônio Cultural brasileiro, ou seja, o Estado reconhece que este bem tem relevância nacional. A partir do tombamento, e como consequência dele, o Iphan passa a ter atribuição de acompanhamento da preservação do bem. Contudo, a responsabilidade pela gestão, conservação, limpeza e segurança, por exemplo, continua sendo dos proprietários. Isso vale para qualquer bem tombado, seja de uso público ou privado.
Na manhã desta quinta-feira, 14, a equipe do Iphan realizou vistoria no local. Sabe-se que o imóvel estava ocupado por 17 famílias, que moram lá há 18 anos, desde a morte do proprietário. No térreo, funcionava uma loja de celulares e bebidas. Diante do estado de arruinamento do bem, nos últimos anos, o Iphan buscou notificar o proprietário, mas este não foi encontrado.