Fraude no Enem: áudio registra indiciado afirmando que fez a prova no lugar do irmão
As investigações da Polícia Federal do caso indiciaram quatro pessoas por fraude no Exame Nacional do Ensino Médio
A redação integrada de O Liberal teve acesso a um áudio que revela que o ex-estudante de Medicina, Eliésio Bastos Ataíde, de 25 anos, um dos indiciados na operação que apura fraudes no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em Marabá, admite que fez o Enem de 2022 no lugar do irmão, Eduardo Bastos Ataíde, a quem se refere na gravação como “Dudu”. Outros indícios encontrados pela Polícia Federal reforçam a possibilidade de fraude no Enem.
A partir da apreensão do aparelho celular do Eliésio, foram encontrados textos em um aplicativo de mensagens instantâneas onde ele afirma que fez a prova no lugar de Eduardo e alterou a identidade do irmão com a dele mesmo. Segundo as autoridades, a partir dessa conduta, Eliésio conseguiu que Eduardo fosse aprovado no curso de Engenharia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).
A PF confirmou que tanto Eliésio quanto Eduardo foram indiciados pela fraude no exame. Juntamente com Moisés Oliveira Assunção e André Rodrigues Ataíde, investigados desde a operação “Passe Livre I”.
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No áudio, Eliésio chega a mencionar a margem da nota que precisaria alcançar para que o irmão fosse aprovado. “Eu vou tentar fazer porque é pelo ‘Dudu’. (...) Muito cansativo essa prova. Vou tentar fazer. Quero tirar uns 500 e pouco de média, sabe? Isso é o suficiente pro ‘Dudu’. Se eu tirei uma nota boa na redação e tal. Se eu conseguir manter essa média de 500 e 600”, diz ele.
Para verificar a possível fraude, a PF realizou uma perícia grafotécnica analisando a assinatura de Eduardo e Eliésio. Foram analisados o título de eleitor dos dois irmãos, além de outros documentos. Por meio dessa análise, a polícia identificou fortes evidências de que as assinaturas no cartão resposta e na lista de presença do Enem 2022 não teriam sido feitas por Eduardo, mas, ao que tudo indicada, por Eliésio.
Primeira operação
Na deflagração da primeira fase operação, feita em fevereiro deste ano, foram cumpridos três mandados de busca e apreensão, mas ninguém havia sido preso. André, um dos indiciados, é suspeito de ter sido aprovado duas vezes no Enem - para o curso de Medicina-, se passando por outras duas pessoas, Eliésio Ataíde e Moisés Assunção.
André, foi preso preventivamente no fim de março, sendo colocado em liberdade provisória mais tarde, tendo em vista oferecimento e recebimento da denúncia pela Justiça Federal. André, supostamente, recebeu em torno de R$ 150 mil para fazer a prova no lugar dos verdadeiros candidatos.
Com base na nota no Enem que, segundo a polícia, foi conseguida através de fraude, Eliésio e Moisés foram aprovados em Medicina, pela Universidade Estadual do Pará (Uepa), em Marabá, mas sem terem feito a prova.
Modus operandi
Para a PF, André se aproveitava das falhas nos sistemas de detecção de fraudes para obter vantagens econômicas. As investigações revelaram que André recrutava diversas pessoas para resolverem questões das provas, burlando os sistemas de monitoramento que exigem webcam e microfone ligados.
Para driblar a segurança, André orientava os candidatos a posicionarem um celular próximo ao notebook, fora do campo de visão da webcam, enquanto uma pessoa sentava-se ao lado do candidato para fornecer as respostas. Em casos específicos, André adulterava a identidade dos candidatos, como ocorreu com uma candidata que teve sua foto substituída pela de uma suspeita, permitindo que a prova fosse feita por outra pessoa.
Os candidatos iam até a casa de André, onde ele fotografava as questões e enviava para terceiros resolverem. Além das fraudes em vestibulares, a Polícia Federal encontrou inúmeros documentos falsificados em posse de André, incluindo carteiras de vacinação, carteiras de identidade e atestados médicos.
Em nota, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) diz que todos os processos são planejados e executados com estratégia de segurança. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) conta com o apoio da Polícia Federal nas ações de investigação e combate a tentativa de fraudes. A Autarquia trabalha no aprimoramento dos protocolos de acompanhamento e segurança da prova e apresentará novas informações em momento oportuno, de forma a não comprometer o sigilo de dados que são essenciais à aplicação segura do Enem deste ano.
(Com colaboração de Tay Marquioro)
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