MENU

BUSCA

Caso Karina: Laudo aponta como biomédica morreu

Segundo a Polícia Científica, o laudo com o resultado da perícia foi expedido em março e veio à tona nesta terça-feira (29)

O Liberal

O laudo da perícia da Polícia Científica do Pará sobre a morte de Karina Santos Pinto aponta que a biomédica atirou em si mesma, causando a própria morte. O caso ocorreu em agosto de 2024. Karina estava dentro do carro do ex-namorado, o policial penal Davi Pessoa, quando tudo aconteceu. É dele a arma de onde partiu o disparo que a vitimou. Nesta terça-feira (29), a defesa da família de Karina e também do policial penal, que vinha sendo apontado como o principal suspeito da morte, se pronunciaram. O caso é investigado sob sigilo pela Polícia Civil.

Ao Grupo Liberal, o advogado Antonio Marcos Pina, que representa a família de Karina, disse que todos foram pegos de surpresa com o resultado do laudo pericial.

“A reprodução simulada dos fatos aponta, sugere e indica que Karina não foi vítima de um homicídio. Também concluiu que o namorado dela não teria como ter atirado. A família e eu recebemos com muita perplexidade essa notícia. A família está devastada pelo resultado. Eu estou triste porque acreditava fielmente que o resultado seria diferente, a família nem se fala. Porém, estamos diante de um laudo técnico da polícia científica, uma instituição seríssima. O laudo foi feito por peritos muito competentes. Eu me fiz presente no dia da reprodução”, diz o advogado.

Segundo Pina, a família e a defesa devem acompanhar o final das investigações sobre o caso. “Agora tem a parte final das investigações. A delegada responsável pelo caso vai divulgar um relatório final sobre o caso. O policial penal pode se livrar da acusação de feminicídio por conta do laudo pericial, mas, pode ser indiciado por outros crimes, em especial pela Lei Maria da Penha. Isso em razão da violência doméstica, já que existem fortes indícios nos autos, devido a mensagens extraídas no celular da Karina. O que nos resta agora é acompanhar o restante do caso. Ainda vou conversar com a delegada assim que ela fizer o relatório e enviar para a Justiça”, explicou o advogado.

O advogado Dorivaldo Belém, que representa o policial penal suspeito da morte, disse para O Liberal que a reprodução simulada foi esclarecedora para comprovar que o ex-namorado de Karina falava a verdade quando relatou que não matou a jovem.

"Nós pedimos uma perícia de reprodução simulada dos fatos. Os peritos fotografaram, filmaram, analisaram a dinâmica dos fatos e o depoimento dele e de testemunhas. Então, nós soubemos da publicação do resultado hoje e não nos surpreendeu, porque já víamos que tudo indicava outra causa. E os peritos confirmam o seguinte: ele (policial penal), pela dinâmica, por onde estava sentado e por onde entrou e saiu a bala, não tinha como ter atirado. Não partiu dele o tiro, nem da mão direita, nem da mão de esquerda. Foi como ele explicou, ela pegou a arma e atirou. Isso bateu com o que ficou de vestígios no veículo, por onde o projétil passou, que veio do lado direito, do lado dela, oposto de onde ele estava sentado. Todas essas evidências foram documentadas pelos peritos que elaboraram o laudo", afirma.

A defesa do policial também apresentou outros elementos que mostravam que Karina poderia ter tirado a própria vida. “O laudo pericial é incontestável. O instituto médico-legal teve esse cuidado para que não houvesse dúvida. Tanto que foram quatro peritos, profissionais experientes. E não existe só esse laudo. Também teve a questão da impressão digital da Karina na arma, uma carta que ela deixou dizendo que ele ia sofrer com a partida dela. Ela já fazia um tratamento psicológico, indicava um descontrole emocional quando enfrentava alguma diversidade. E isso levou a fazer com que ela, em um ato de desespero e impensado, tirasse a própria vida”, declarou o advogado.

Dorivaldo acredita que o caso será arquivado. “A delegada responsável por conduzir as investigações deve mandar o inquérito para a Justiça, que por sua vez o encaminhará ao Ministério Público. Diante dessas evidências, o MPPA deve pedir o arquivamento do processo. O juiz não terá alternativa senão receber, aceitar esse pedido e determinar o arquivamento do processo, livrando o investigado de qualquer acusação, porque ninguém pode ser punido pelo fato de outra pessoa tirar sua vida”, ressaltou o defensor.

Em nota enviada na noite desta terça-feira (29), a Polícia Científica do Pará confirmou que o laudo foi entregue aos advogados. "O laudo do caso da jovem Karina Santos foi expedido no dia 26/03 e enviado para a Polícia Civil, que investiga o caso". A Polícia Civil também foi procurada e confirmou o sigilo das investigações feitas pela Delegacia de Feminicídio, vinculada à Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM).

VEJA MAIS

Delegacia de Feminicídio investiga morte de biomédica da Marambaia, em Belém
A morte de Karina Santos ocorreu no sábado (24/08), quando a vítima teria sido baleada e deixada em estado grave no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência

Delegacia de Feminicídio investiga morte de biomédica da Marambaia, em Belém
A morte de Karina Santos ocorreu no sábado (24/08), quando a vítima teria sido baleada e deixada em estado grave no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência

Reprodução simulada

A reprodução simulada da morte da biomédica Karina Santos foi realizada no dia 19 de fevereiro deste ano, no estacionamento do Estádio Olímpico do Pará - Jornalista Edgar Proença (Mangueirão), em Belém. O procedimento buscou esclarecer as circunstâncias do baleamento que resultou na morte da jovem. Na ocasião, amigos e familiares da vítima estiveram presentes no local com faixas e cartazes pedindo justiça. Segundo a polícia, a reprodução foi feita em dois horários, às 17h e às 19h, para considerar as condições de iluminação no momento da morte de Karina.

A simulação contou com a participação de 12 policiais civis e quatro peritos criminais. Foi utilizado o mesmo veículo onde o fato ocorreu, além de drones e câmeras para registrar o que aconteceu dentro e fora do carro. Uma policial civil fez o papel da biomédica durante o procedimento. De acordo com a perita criminal Isabela Barreto, diretora do Instituto de Criminalística da Polícia Científica do Pará, o objetivo do exame pericial de Reprodução Simulada dos Fatos (RSF) foi analisar divergências entre as versões apresentadas.

Segundo a perita, neste caso em específico, a equipe do Núcleo de Crimes Contra a Vida, que esteve à frente do exame RSF, definiu que ele deveria ser feito no estacionamento do Mangueirão visto que o evento ocorreu no interior de um veículo que estava em movimento, em uma via de grande movimentação (BR-316), mas, a simulação em um local mais reservado não iria alterar os procedimentos e conclusão do mesmo, além de não interferir no tráfego de vias públicas, o que ocorreria se houvesse o isolamento de uma área movimentada para que o exame fosse feito.

Morte

A biomédica Karina Santos, que tinha 25 anos, morreu na noite de 25 de agosto dentro de um carro que transitava na BR-316, entre os municípios de Ananindeua e Belém. Segundo familiares, Karina havia aceitado uma carona oferecida pelo ex-namorado, o policial penal Davi Deus Pessoa, pouco antes do ocorrido. A família contou que a jovem havia terminado um relacionamento de três anos no início de 2024 e chegou a entregar prints de conversas, fotos e vídeos em que Karina fala para amigas sobre as agressões e a possessividade do ex-namorado.

Apesar de ter admitido que tinha um 'relacionamento conturbado' com a biomédica, o policial penal alegou que não havia atirado em Karina. Mas a versão era contestada pela família da biomédica, que relatava que o agente de segurança nunca aceitou o fim do relacionamento e seria o principal suspeito da morte. 

Polícia