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Uso de "rebite" cresce e aumenta riscos nas estradas

Substância usada por caminhoneiros para inibir o sono. Neurologista alerta para perigos e dependência

João Thiago Dias
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Dirigir por várias horas pelas estradas do Brasil para entregar uma carga no prazo certo é missão que muitos caminhoneiros só conseguem cumprir sob efeito de medicamento inibidor do sono. Quem relata é o caminhoneiro mineiro Carlos Rocha, de 54 anos.

Ele afirma nunca ter usado nenhuma substância química para trabalhar, mas diz que já viu a prática entre vários condutores que enfrentam dificuldades com a carga horária exaustiva.

Segundo ele, a maioria transporta verduras, frutas e carnes frias, cargas que podem estragar com muita facilidade se não forem entregues a tempo.

"Abacaxi, banana, tomate, verduras de vários tipos. Frios. Tudo isso estraga rápido. Se o camarada perder tempo, pode ter um grande prejuízo. E ainda tem que enfrentar estrada com buraco. Contratempos que podem atrasar o destino final. Quem usa, consegue diminuir o tempo do trajeto pela metade porque não fica sem dormir", disse.

"Em 30 anos de profissão, nunca precisei usar nenhum medicamento desse tipo. Mas toda a categoria sabe que é uma prática recorrente", contou Carlos. 

image PRF já flagrou no Pará motoristas dirigindo por até 48 horas ininterruptas (Fábio Costa)

REBITE

As substâncias usadas para inibição do sono, conhecidas como “rebite”, são feitas à base de anfetaminas, drogas sintéticas que estimulam a atividade do sistema nervoso central.

Na última sexta-feira (29), durante uma parada em um posto na rodovia BR-316, próximo da entrada de Mosqueiro, o mineiro explicou que a pílula é encontrada facilmente.

"Igual maconha, pelas estradas da vida. Nós sabemos que é proibido, mas algumas empresas querem que a encomenda chegue. Com essa pressão, o caminhoneiro escolhe ficar 'rebitado' para se manter acordado durante as longas viagens", explicou.

FLAGRAS DA PRF

Na quinta-feira (28), a Polícia Rodoviária Federal (PRF) flagrou, na BR-010, no município de Dom Eliseu, nordeste paraense, um motorista de caminhão portando uma cartela contendo quatro unidades da droga anfetamina (nobésio forte) no bolso.

Ele estava dirigindo por 13 horas ininterruptas e saiu da cidade do Rio de Janeiro com destino ao município de Paragominas (PA). 

No dia 12 de março, o flagrante foi no km 53, da BR-316, no município de Castanhal, quando a equipe da PRF abordou um caminhoneiro que dirigia por mais de 48 horas, fazendo apenas pequenos intervalos de aproximadamente duas horas.

Ele confessou que estava sob efeito do nobésio extra-forte, medicamento à base de anfetaminas. 

CRIME

A PRF esclareceu que o uso de rebite por condutores é proibido. Esse tipo de crime equivale ao porte de outras drogas para consumo como maconha, cocaína etc. Inclusive, o crime recebe o mesmo enquadramento legal na Lei de Drogas (Lei 11.343/06).

Ainda segundo a PRF, é importante ressaltar que o uso de anfetaminas pelos motoristas aumentam as chances de acidentes de trânsito nas rodovias, pois entre os efeitos rebote da droga estão os cochilos repentinos, que é um dos principais causadores de acidentes envolvendo condutores de veículos de carga.

SINDICATO E ORIENTAÇÃO 

De acordo com o presidente do Sintracarpa (sindicato que responde pelos caminhoneiros no Pará), Edilberto Ventania, mais de 120 empresas transportadoras são monitoradas com orientações e palestras.

"Sempre realizamos palestras para orientar os caminhoneiros que o uso é proibido. Explicamos que tudo o que é nocivo à categoria deve ser evitado. Estamos presentes, especialmente com os motoristas estaduais e intermunicipais. De seis em seis meses, todos devem fazer exame para detectar se tem substância no organismo", esclareceu. 

A carga horária é de oito horas por dia com intervalo de duas horas. "O motorista divide em horario do almoço e jantar. Dentro disso, seguimos a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) de forma transparente", garantiu Ventania.

"A carga horário deve ser relatada em um diário de bordo para ser apresentado à empresa. Ninguém quer motorista dopado nem em trabalho escravo. As empresas têm o compromisso de um trabalho saudável", disse. 

NEUROLOGISTA FAZ ALERTA

O neurologista Fernando Cavalcante explica que o uso de anfetaminas por caminhoneiros é antigo, mas que é muito perigoso porque causa dependência e pode levar a alterações graves no sistema nervoso.

"Desde que construíram as primeiras grandes estradas no Brasil, como a rodovia Belém-Brasília. Eles foram obrigados a dirigir em grandes distâncias. E usam anfetamina. Uso crônico. Conseguem de forma ilícita. E geralmente esses medicamentos vêm do Paraguai. Pode causar vários efeitos colaterais, como perda de apetite, irritabilidade, insônia", explicou.   

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