Projeto em Santarém protege cães e gatos do abandono
Com três voluntárias, Lar do Amor é a única ONG de proteção animal atuante no município de Santarém, no oeste do Estado
Embora a legislação já tenha alcançado grandes avanços dentro da causa animal, o abandono desses seres ainda é uma realidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até junho de 2021, cerca de 30 milhões de animais foram largados pelas ruas do país; desse total, 10 milhões são gatos e 20 milhões cães. Os números são tão altos que chega a ser difícil contabilizar e, ainda mais, combater.
Um levantamento realizado em 2019 apontou que o Brasil contava com 370 Organizações Não Governamentais (ONGs) voltadas para a proteção animal, das quais 46% estavam na região Sudeste. O Norte era o segundo com a menor cobertura, apenas 7%. No município de Santarém, no oeste do Pará, apenas uma ONG realiza a missão de tentar dar uma segunda chance aos animais que foram deixados pelos donos: o grupo Lar do Amor, fundado em 2019 pela professora de corte e costura Adriana Carvalho, de 47 anos, que já tirou das ruas mais de dois mil animais.
A ideia surgiu diante do amor da santarena pelos bichinhos e da necessidade de uma organização que lutasse por eles na cidade. Há um ano a organização é regularizada e mantida pelo trabalho voluntário de algumas parceiras, todas amigas pessoais da fundadora. O trabalho é feito com o resgate e cuidados aos cães e gatos de rua, uma tarefa que tem se tornado cada vez mais inviável pela falta de apoio financeiro e também de voluntários.
"Meu marido sempre me apoiou, ele entende meu amor pelos animais e sempre esteve do meu lado, o que transforma nosso trabalho difícil é a falta de apoio, tanto financeiro quanto de pessoas mesmo. Nós já ajudamos muita gente, mas mesmo essas pessoas que já foram ajudadas por nós não estão disponíveis quando precisamos”, disse.
A ONG recebe, em média, 15 ligações por dia; em 10 dias são 150 animais, e apenas três pessoas para atender à demanda. “Nós temos oito mil seguidores na página, se cada um nos doasse apenas R$ 1 por mês, conseguiríamos pagar os custos mensais com os bichinhos", apela a presidente da ONG Lar do Amor, Adriana Carvalho, em entrevista para o Grupo Liberal.
Atualmente, a organização tem uma dívida acumulada de R$ 60 mil e não dispõe de nenhum parceiro fixo - todas as ajudas vêm de amigos e de pessoas que entram em contato por meio dos canais na rede social, além de clínicas veterinárias parceiras que se dispõem a ajudar, mas nem todos os tratamentos são gratuitos.
A equipe também não tem um local fixo para abrigar os animais resgatados, e todos são encaminhados para lares provisórios até que seja encontrada a sua nova casa, mas durante essa hospedagem os custos com a alimentação e saúde dos bichinhos seguem por conta da ONG. Felizmente, alguns desses bichinhos encontram novos donos e, com isso, há uma rotatividade dos animais.
"Temos uma história muito linda aqui. A Pretinha, que tem leishmaniose (ou calazar, como é popularmente conhecida) e cinomose, estava muito debilitada quando nós a recebemos no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Os seus donos, se é que podemos chamá-los assim, tinham pago para uns garotos matá-la por conta da doença e, então, foi resgatada pelo centro após uma denúncia. Ela curou da cinomose, mas a leishmaniose é uma doença que as pessoas ainda têm muito receio, mas tem tratamento. Hoje a Pretinha está linda e vive até agora no seu lar temporário, que se tornou definitivo e, se você a vê hoje, não diz que ela tem a doença", conta Adriana.
Chegou pra ficar
Kiane Marialva é uma das voluntárias que ajudam no funcionamento do Lar do Amor. A engenheira florestal se encantou com as histórias de resgate e amor que a ONG divulga nas redes sociais e entrou em contato com Adriana. Hoje, é uma das três pessoas que mantêm a organização funcionando. France Suely compõe o trio que, sozinho, atende a toda Santarém.
"Dando uma olhadinha no meu Facebook, encontrei a página, estavam pedindo ajuda para comprar medicamentos para um cãozinho, o Leão, que já faleceu. A partir dali, eu percebi a importância de ajudar esses seres que tanto precisam e dei continuidade, entrei para a ONG, onde estou há quase três anos", lembra Kiane.
Ela falou também do processo de adoção realizado pelo grupo. Apesar da urgência em encontrar casas para os bichinhos, os possíveis tutores passam por uma entrevista. "Nós somos bem rigorosas quanto à pessoa que vai adotar um animal nosso, justamente para que a gente possa ter a certeza que ele não vai passar por toda aquela situação que já passou antes. Ainda assim, temos casos em que a gente precisou resgatar o animal novamente", enfatizou.
Spike e Lindinha
O Lar do Amor já recebeu muitos animais em situações difíceis. Entre tantas histórias bonitas e com finais felizes está a da Spike e da Lindinha, duas cadelas que encontraram um lar na casa de Adriana, junto com mais sete cães e quatro gatos que moram na casa da fundadora da ONG.
Lindinha chegou à ONG há três anos e meio. Foi encontrada em estado grave depois de ser atingida por um material fervente. Com todo o pelo queimado, foi levada para uma das clínicas parceiras em estado grave. "O tratamento dela foi muito difícil, acredito que foi o mais difícil que recebemos na ONG. Ela chorava demais, mas depois de vários meses aconteceu a recuperação total, nesse período eu me apaixonei por ela e adotei", declarou Adriana.
Ao contrário do que muita gente pensa, o abandono não é só o 'descarte' do bichinho. Há cerca de dois anos uma denúncia colocou mais uma vez a ONG nas ruas para um resgate de quatro cachorros, um deles o Spike, que estava em situação "complicada", de acordo com as responsáveis pelo Lar do Amor. Elas contam que ele pesava apenas um quilo. Os tutores foram multados em R$ 3 mil por cada animal.
Após seis meses de internação por conta de uma desnutrição grave, Spike recebeu alta, mas a sua idade (13 anos na época do resgate) aumentou a dificuldade para encontrar um novo lar. Spike também se tornou um dos inquilinos de Adriana.
Para denunciar maus-tratos de animais, qualquer pessoa pode entrar em contato pelo 190 da Polícia Militar, e também procurar o Comando de Polícia Ambiental ou a Secretaria de Meio Ambiente do município em que reside. A pena para maus-tratos pode chegar a cinco anos de prisão.
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