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Preços elevados e falta de açaí afetam o consumo dos belenenses

Com a alta da chuva e a entressafra, o açaí some dos pontos de venda e fica mais caro para os consumidores

Jamille Marques | Especial em O Liberal
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Com a chegada do período chuvoso e a entressafra do açaí, os consumidores de Belém enfrentam dificuldades para manter o fruto no cardápio diário. A oferta reduzida impacta diretamente os preços, tornando o produto mais caro e menos acessível para muitas famílias. A tradicional rotina de tomar açaí, tão presente na cultura paraense, precisa ser adaptada a essa realidade.

Israel Washington, manipulador artesanal de açaí, de 52 anos, confirma que a procura continua alta, mas a dificuldade está na oferta. “A demanda, graças a Deus, tá boa. O problema é que às vezes a gente não tem o açaí para oferecer para a comunidade pela falta do produto”, explica. Isso acontece porque, além da menor disponibilidade do fruto nas feiras e nos pontos de compra, muitos manipuladores optam por não abrir seus estabelecimentos nessa época.

image Israel Washington, manipulador artesanal de açaí, de 52 anos (Foto: Thiago Gomes | O Liberal)

O reflexo disso aparece diretamente no bolso do consumidor. Segundo Israel, os preços disparam durante o inverno amazônico. “Aumenta bastante essa época, sobe demais o valor do açaí. A gente trabalha seis meses e seis meses é entre safra. A partir de agosto, já temos um bom açaí de novo”, afirma. Esse ciclo faz parte da dinâmica natural do cultivo do fruto, que depende das condições climáticas para uma colheita abundante.

Diante da alta dos preços, os consumidores precisaram se adaptar. Quem antes comprava um litro de açaí, agora leva apenas meio litro. Quem costumava consumir dois litros, reduziu para um. A alternativa para muitos vendedores é diversificar as ofertas. Israel, por exemplo, também vende abacaxi, mas afirma que a preferência do público ainda é o açaí. “O pessoal gosta mais do açaí mesmo. O abacaxi já vende um pouco menos, mas ajuda a complementar a renda”, relata.

Mesmo diante das dificuldades, o mercado do açaí segue movimentado. Para amenizar os impactos da entressafra, muitos comerciantes apostam no delivery como forma de manter as vendas em alta. “A gente vende bastante no balcão também, mas a maior parte é entrega”, conta Israel.

Enquanto a chuva não dá trégua e os preços seguem elevados, o jeito é esperar a nova safra chegar e torcer por valores mais acessíveis. Até lá, o açaí continua na mesa dos paraenses, ainda que em quantidades reduzidas.

Grupo se reúne para discutir sobre crise do abastecimento de açaí em Belém

O açaí é um dos alimentos mais consumidos pelos paraenses e faz parte da cultura alimentar da população. No entanto, a crise no abastecimento da fruta, principalmente no período do inverno, tem gerado grandes desafios tanto para os consumidores quanto para os trabalhadores que atuam no seu processamento. Para discutir medidas que possam minimizar os impactos da entressafra e garantir um preço mais justo para a população, um grupo de trabalho se reuniu para tratar do assunto na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa).

Israel Washington, manipulador artesanal de açaí há mais de 20 anos, explica que a categoria ainda não é reconhecida pelo Ministério do Trabalho, o que dificulta o acesso a direitos básicos. Segundo ele, os manipuladores enfrentam dificuldades no período do inverno, quando a produção da fruta diminui e o preço do açaí sobe consideravelmente. “Nós estamos em busca desse reconhecimento. O deputado Bordalo tem nos dado apoio nessa luta para conseguirmos direitos, como um seguro parecido com o defeso dos pescadores. No inverno, o manipulador de açaí trabalha muito menos por conta da escassez da fruta, mas não temos nenhum tipo de auxílio do governo”, explica Israel.

Além disso, ele aponta que a exportação do açaí contribui para a alta dos preços dentro do estado. Como a maior parte da produção é destinada a mercados externos, o pouco que sobra para o consumo interno se torna caro. “A gente vê que, em alguns períodos do ano, como na Semana Santa, há medidas para garantir que o pescado não saia todo do estado, evitando que a população fique sem acesso ao peixe. Se houvesse um controle parecido com o açaí durante o inverno, ajudaria tanto os trabalhadores quanto os consumidores”, ressalta.

Projeto de lei busca garantir abastecimento e preços mais justos

O deputado Bordalo, que lidera o grupo de trabalho na Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Alepa, explica que o objetivo da iniciativa é criar políticas públicas permanentes para evitar os impactos da entressafra do açaí. Ele destaca que um projeto de lei já foi elaborado e está em tramitação na Alepa, mas há mais de um ano aguarda parecer na Comissão de Constituição e Justiça. “Nosso objetivo é criar um mecanismo que trate as crises no abastecimento do açaí não apenas durante a entressafra, mas de forma contínua. Esse projeto de lei propõe medidas para equilibrar a produção, distribuição e exportação, garantindo que o mercado interno seja atendido antes de priorizar a comercialização externa”, explica o deputado.

A expectativa é que, com o avanço do projeto de lei, sejam implementadas medidas que garantam um preço mais acessível para os consumidores e condições de trabalho mais dignas para os manipuladores artesanais de açaí. Para Bordalo, é essencial que o açaí continue sendo um alimento acessível para a população paraense. “O açaí não é apenas um complemento alimentar. Ele é parte essencial da mesa do paraense. Precisamos garantir que ele continue chegando à mesa das famílias sem que os preços fiquem inviáveis”, conclui.

A reunião do grupo de trabalho marca um passo importante para que o tema avance dentro da Assembleia Legislativa, e os trabalhadores do setor seguem na luta por reconhecimento e políticas que ajudem a equilibrar o mercado do açaí no estado.

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