Pesquisadora da UFPA é a primeira mulher indígena doutora em letras na Amazônia
Márcia Kambeba apresentou sua tese de doutorado nessa quinta-feira (19/12), por meio do Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL) da Universidade Federal do Pará UFPA)
Com a defesa da tese de doutorado apresentada nessa quinta-feira (19/12), a pesquisadora Márcia Kambeba tornou-se a primeira mulher indígena a alcançar o título de doutora em letras na Amazônia. Por meio do Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL) da Universidade Federal do Pará (UFPA), Márcia apresentou sua pesquisa intitulada “Os Omágua/Kambeba: Narrativas, Dispositivo Colonial e Territorialidades na Pan-Amazônia Contemporânea”, que aborda a resistência e força do seu povo nas fronteiras entre Brasil e Peru.
A conquista de Márcia é resultado de mais de duas décadas de trajetória acadêmica, marcadas pela dedicação à valorização da ancestralidade e da identidade indígena. Natural do Alto Solimões, no Amazonas, e vivendo no Pará há 13 anos, ela destacou a importância de sua pesquisa para a reconexão entre povos separados por fronteiras coloniais. “O Omágua peruano achava que o Omágua brasileiro havia sido dizimado. Minha pesquisa provou o contrário e reconectou nosso povo”, afirmou.
A tese de Márcia Kambeba não se limita a um estudo acadêmico. Para sua orientadora, a professora Ivânia Neves, a pesquisa simboliza “a territorialização de saberes ancestrais na academia” e celebra “luta, memória e pertencimento”. A doutora acredita que sua conquista abre caminhos para outras mulheres indígenas na ciência.
“Minha pesquisa interliga nosso modo de ver, sentir e pensar o mundo, mostrando que a ciência indígena tem um papel crucial na Amazônia. É fundamental que as universidades humanizem suas abordagens e deem espaço à pluralidade de saberes”, declarou Márcia.
Legado
Além de se tornar doutora, Márcia já é uma autora prolífica com 11 livros publicados, muitos deles produzidos no Pará. Sua tese foi recomendada para publicação, reforçando seu impacto na construção de um legado acadêmico para as futuras gerações.
“Minha pesquisa precisa sair da universidade e alcançar outros espaços, mostrando que a Amazônia deve ser lida e pesquisada por nós mesmos. Esse conhecimento é essencial não apenas para os povos indígenas, mas para toda a região, que precisa compreender melhor sua própria história e identidade”, concluiu.
Para Márcia Kambeba, sua conquista expõe a relevância das vozes indígenas na academia e fortalece o compromisso com a valorização da diversidade cultural e científica na Amazônia.
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