Pesquisa vai detalhar DNA do açaí para ampliar produção e sustentabilidade
Com o "Genoma do Açaí", será possível antever eventuais problemas de reprodução e adaptação a novas condições de cultivo
Um dos principais alimentos da mesa do paraense, fonte de renda de batedores há muitos anos e produto que ganha cada vez mais força na exportação, o açaí será estudado no Pará, a partir do conjunto de seu DNA, com o objetivo de ampliar a capacidade de produção e garantir a sustentabilidade. Essa será a missão da pesquisa "Genoma do Açaí", uma iniciativa do Governo do Pará, sob coordenação da organização social BioTec-Amazônia e com financiamento da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa).
Com a decodificação do genoma do açaí e a organização das informações genéticas, será possível antever eventuais problemas de reprodução e adaptação a novas condições de cultivo e, assim, pensar antecipadamente em prevenções e soluções.
Será feito o sequenciamento genético de três tipos de açaí: Euterpe oleracea (comum no Pará); Euterpe edulis (comum no Amazonas, no Acre e região); e Euterpe precatoria (comum no Maranhão e região). Antes do fim deste ano, o resultado deve ser divulgado buscando estratégias para o melhoramento genético, conforme comentou o coordenador do estudo e diretor técnico-científico da BioTec-Amazônia, o geneticista Artur Luiz da Costa da Silva.
"Conseguiremos fazer plantas com genética superior. Organismos com genética melhor e mais bem adaptada, com maior produção, uma vez que se conhece o genoma", pontuou. "Esses avanços tecnológicos vão ser agregados a uma cultura extremamente importante para o estado e pensando na ampliação do agronegócio e na sustentabilidade de uma commodity de alto interesse comercial".
Dentre outras vantagens, o sequenciamento genético vai evitar perdas de produção por doenças e manifestação de pragas. Esse risco existe por conta da redução da variabilidade genética, que é explicada como o cruzamento aleatório da espécie. E essa redução ocorre porque o açaí deixou de representar apenas uma atividade extrativista e passou a ganhar destaque na agricultura industrial, mediante um cenário de tecnologias para plantio, manuseio, irrigação e adubação.
"Quando parte para a questão industrial, começa a perder a variabilidade genética da planta. Uma coisa é ter na região das ilhas ou em Igarapé-Miri o açaí naturalmente sendo produzido. Ele cruza um com o outro e gera a variabilidade genética, que é fundamental para a viabilidade e manutenção da espécie. Quando reduz, por meio do cruzamento de seleção genética, para tirar melhor proveito das propriedades, aumenta o nível de doenças. E se torna mais suscetível à manifestação de pragas", detalhou Artur.
Além da sanidade, o genoma vai permitir um padrão de rastreabilidade internacional. "Se comprar lá nos Estados Unidos, por exemplo, e tem um selo escrito 'premium', dado pela Semas, é possível rastrear, porque tem marcadores genéticos específicos mostrando a origem", exemplificou. "Hoje as pessoas querem saber o que estão comendo e de onde está vindo. A história envolvida. O processo passa a agregar valor, principalmente no mercado do primeiro mundo", finalizou o pesquisador.
Força na economia
O açaí representa 3% do Produto Interno Bruto (PIB) paraense. A produção anual é de 1,3 milhão de toneladas, movimentando recursos na ordem de US$ 1,5 bilhão, segundo informou o diretor científico da Fapespa, Juarez Quaresma. Ao todo, 50 empresas trabalham com o produto no Pará. O total da produção é dividido em 60% para o estado e 40% em exportação para outros estados ou outros países. A quantidade de exportação se divide em 60% para São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e 40% para outros estados e uma pequena parcela para outros países, principalmente para os Estados Unidos.
"A Fapespa tem preocupações como uma agência de fomento ligada à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica (Sectet). Uma das nossas linhas de fomento é na área das pesquisas voltadas para as vocações econômicas do estado. E uma das nossas principais vocações econômicas é a produção do açaí", destacou Quaresma.
De acordo com o representante da Fapespa, melhorando o conhecimento genético da planta, consequentemente, é possível conhecer mais sobre o produto, incluindo as fragilidades que ele pode apresentar, principalmente quando se torna uma monocultura. Nesse contexto, surge a chance de resolver o surgimento de pragas que podem atingir a plantação.
"O Governo do Pará pode investir no melhoramento do produto e no desenvolvimento de políticas que possam combater possíveis pragas. Quando falamos em melhoramento, está implícito o aumento da cadeia produtiva. Representa só 3% do nosso PIB, mas tem um potencial de crescimento muito grande. Pode passar muito mais de 3%", concluiu Juarez Quaresma.
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