Pará tem baixa cobertura vacinal contra poliomielite

O índice de vacinação ficou em apenas 54,41% em 2021, quando o ideal seria 95%, de acordo com a Sespa. Infectologista diz que o caso surgido na África pode ser suficiente para preocupar o país

Camila Guimarães

A notificação de um caso de poliomielite selvagem em Malawi, na África, depois de mais de cinco anos sem registros, reacendeu a preocupação de autoridades em saúde no mundo todo. O grande risco é o retorno da doença por conta da baixa cobertura vacinal observada nos últimos anos. No Pará, o índice de vacinação ficou em apenas 54,41% em 2021, quando o ideal seria 95%, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado (Sespa).

Mas o Pará não segue sozinho. Os dados do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) apontam que Norte e Nordeste têm os menores percentuais de cobertura vacinal do país, com 42% e 44% de imunização completa, respectivamente. O mesmo sistema mostra que o Brasil, como um todo, não conseguiu mais atingir a meta de 95% do público-alvo vacinado desde 2015.

image Tânia Chaves: "Os viajantes devem ficar alertas sobre os casos de poliomelite" (Cristino Martins / O Liberal)

Cobertura vacinal baixa no Pará

De acordo com a médica infectologista, docente da Faculdade de Mecidina da Universidade Federal do Pará (FAMED/UFPA) e representante paraense da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Tânia Chaves, a cobertura vacinal no Pará é considerada baixa. Para ela, que também é consultora da Sociedade Brasileira e Paraense de Infectololgiao (SBPI), o sucesso da imunização no passado, com taxas nacionais que chegaram a 100% (2013), segundo o Ministério da Saúde (MS), fez com que as pessoas se esquecessem da gravidade da doença e da importância da vacinação.

“Nós, vacinólogos, dizemos que as vacinas viraram vítimas do seu próprio sucesso, da sua eficácia em evitar as sequelas e as formas graves da poliomielite. Os casos desapareceram com a vacinação e as pessoas confundiram com erradicação da doença e não se vacinaram mais como deveriam”, comentou Tânia Chaves.

Entretanto, isso não significa culpabilizar a eficácia da vacina, mas, ao contrário, ressaltar ainda mais sua importância no momento atual, conforme salienta a infectologista: “O Plano Nacional de Imunização (PIN) vacinou amplamente a população que hoje está com 30, 40 e 50 anos de idade, devidamente imunizada na infância. Não vemos mais crianças e adultos com sequelas físicas de poliomielite nas ruas. Isso é graças à vacina!”.

Tânia explica também que, um caso surgido na África pode ser, sim, suficiente para preocupar o país como um todo, bem como o Pará, uma vez que o vírus pode ser espalhado mesmo por pessoas assintomáticas que viajam entre os territórios.

“Um estudo sobre duas epidemias de pólio registradas em Angola, em 2007 e 2008, sugere que adultos assintomáticos que haviam viajado para o exterior poderiam ter sido responsáveis pela reintrodução de poliovírus selvagens naquele país”, comentou a especialista.

Por essa razão, a possibilidade de importação do vírus é preocupante, sobretudo “em um momento em que o mundo caminha para estabilidade dos casos de covid-19, as fronteiras entre os países já foram abertas, as viagens voltaram a ser realizadas em ritmo crescente. Os viajantes devem ficar alertas sobre os casos de poliomielite. A própria covid-19 serve de exemplo, já que a doença se disseminou rapidamente no mundo através das viagens”, lembrou Tânia Chaves.

A especialista ressalta, ainda, que a pandemia colaborou para a baixa procura pela vacinação contra a pólio, já que muitos serviços tiveram o horário de funcionamento afetado e o isolamento social também fez as pessoas procurarem menos os postos de saúde. Contudo, Tânia alerta: “precisamos conscientizar a todos que a vacinação não é só para criança, mas para adultos, grávidas, pessoas acima de 60 anos, adolescentes, profissionais de saúde, pacientes especiais, povos indígenas, viajantes. Vacinas salivam vidas e impactam na qualidade de vida de uma nação”.

Esquema vacinal

A vacina contra poliomielite é disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de duas formas: a Vacina Oral Poliomielite (VOP) ou Sabin, também conhecida como a vacina da gotinha; e a Vacina Inativada Poliomielite (VIP) ou Salk, administrada por via intramuscular.

A versão inativada é indicada no cartão de vacinação infantil para crianças aos 2, 4 e 6 meses de idade. Já a vacina atenuada, que é administrada em gotas por via oral, é indicada aos 15 meses e aos 4 anos de idade. Adultos podem receber a vacina dTpa-VIP, da tríplice bacteriana acelular, que é combinada com a vacina inativada contra a poliomielite.

Em nota, a Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa) explicou que a vacinação é responsabilidade das secretarias municipais de saúde. A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) para solicitar informações sobre a disponibilização de vacinas na capital ou sobre campanhas de vacinação contra a pólio. Assim que a resposta chegar, o texto será atualizado.

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