Pará é o segundo em mortes por Aids
Mais de 7 mil pessoas morreram nos últimos 14 anos no Pará por abandono do tratamento ou diagnóstico tardio
O Pará é o segundo estado brasileiro com maiores índices de mortes de pessoas com Aids. Fica atrás somente do Rio Grande do Sul, que tem sua capital, Porto Alegre, com a maior mortalidade por Aids no Brasil, em 2018. No Pará, nos últimos 14 anos, já morreram 7.269 pessoas por Aids. Elas faziam parte do grupo de pessoas que estavam em tratamento, que o abandonaram e obtiveram diagnóstico tardio da doença. Inclusive Belém está entre as três maiores taxas de detecção do País e a maior do Pará. Na cidade, também de 2006 a 2019, morreram 2.781 pessoas com Aids. Somente este ano o Pará já soma 312 mortes pela doença, até 16 de abril.
Ainda no ranking entre as dez cidades que se sobressaem no Pará estão Ananindeua (703 mortes), Marabá (313), Santarém (194), Marituba (183), Castanhal (160), Parauapebas (158), Itaituba (123), Bragança (119) e Tucuruí (105). Os dados são da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), a partir de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde.
Nos últimos 44 anos, de 1975 a 2019, no perfil epidemiológico de Aids adulto o Pará soma 11.621 casos da doença. Mais uma vez, o destaque principal é para Belém, com 4.727 casos. Ainda no ranking dos dez municípios seguem Ananindeua (949), Santarém (770), Parauapebas (561), Marituba (287), Marabá (250), Castanhal (232), Paragominas (220), Tucuruí (162) e Abaetetuba (138).
Em 2019, já somam 124 casos sendo 39 em Belém, Santarém (15); Parauapebas (8); Tucuruí (5); Paragominas e Oriximiná (4 cada); Prainha, Salinópolis, Canaã dos Carajás (3 cada); Ananindeua, Altamira, Santa Izabel do Pará, Ipixuna do Pará, Ulianópolis, Barcarena, Bragança, Breves, Novo Progresso, Tailândia e São Félix do Xingu (2 cada); Abaetetuba, Bonito, Castanhal, Dom Eliseu, Gurupá, , Marituba, Marabá, Monte Alegre, Moju, Muaná, Salvaterra, Santa Bárbara, São João de Pirabas, Tracuateua, Terra Santa, Trairão, Óbidos e Uruará (1 cada).
Segundo a Sespa, os dados de 2019 servem apenas como projeção, pois serão computados somente em junho 2020. Ao final do ano são apresentados os dados oficiais do ano anterior, pois a notificação é um processo dinâmico, porém lento.
Sespa busca apoio do MP para levantar as razões dos pacientes abandonarem o tratamento
Deborah Crespo, chefe da Divisão de Controle das Doenças Transmissíveis da Sespa, considera as mortalidades por Aids como problema gravíssimo. "Inclusive temos feito trabalho grande com os serviços e estamos levantando a lista de pessoas que estão passando para o alto risco para óbito, porque no HIV o fornecimento do medicamento é 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e os serviços têm o sistema informatizado que avisa quando a pessoa pegou a medicação, se fez o exame de carga viral para ver se o remédio está funcionando. Se for verificado que não, é necessário fazer a troca do coquetel".
Ainda segundo ela, a Sespa inclusive tem envolvido a área jurídica, o Ministério Público, nessa discussão. "Pedimos apoio do MP para que consigamos sensibilizar os gestores nos municípios, com destaque para as áreas metropolitanas, onde estão mais concentrados os óbitos, para nos ajudar na sensibilização e verificação das razões às quais os pacientes não estejam tomando os remédios", afirma Crespo.
Ela esclarece que a busca pelo envolvimento jurídico é necessária também porque o HIV é a única doença que tem que respeitar o sigilo. "Com outras doenças nós podemos ir na casa e verificar por qual motivo o paciente não está tomando. Mas com HIV não, pois é a única doença que temos que respeitar o sigilo, mesmo que a unidade tenha lista com os nomes de pessoas que podem morrer de Aids ou evoluírem para uma infecção. Então, muitos gestores ficam com receio de chegar na casa e chamar o paciente. A situação é complicada, porque a pessoa não vai buscar o remédio ou manda alguém ou não volta".
Assim, "com essas reuniões queremos discutir e verificar até onde as falhas estão ligadas aos serviços, para melhorarmos e até onde juridicamente estamos respaldados para chamar os indivíduos", explica a chefe da Divisão de Controle das Doenças Transmissíveis da Sespa.
Para ONG, a falta de atenção à saúde mental e de campanhas podem explicar as mortes
Para Amélia Garcia, membro do Fórum de ONG e Aids no Pará, os pacientes com HIV/Aids não precisam somente da entrega da medicação e aponta que uma das possíveis "falhas" na descontinuidade no tratamento é a falta da prevenção positiva junto aos usuários.
"Não precisamos só do remédio, mas de acompanhamento e tratamento para a saúde mental dos pacientes, principalmente. Há usuários que esquecem mesmo de tomar o remédio, existem os que ficam depressivos, outros se escondem porque as pessoas vão saber que eles têm a doença, existem os que são rejeitados. Isso tudo cria um problema mental e é preciso focar também nisso, pois ninguém para de tomar os remédios porque quer, mas há muitas motivações. Sem falar, que, às vezes, ocorre até a falta medicação - o que não é a situação de hoje", enfatiza Amélia Garcia.
Já em relação às mortes por HIV devido diagnóstico tardio a representante do Fórum de ONG e Aids no Pará, afirma que mais campanhas de esclarecimento à população são necessárias, para atingir inclusive os municípios mais distantes. "Precisamos de mais campanhas junto às comunidades e expondo que quem não obtiver o diagnóstico o quanto antes pode morrer. O acesso ao esclarecimento e aos exames é mais difícil ainda para a população do interior", afirma.
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