Conheça plantas comestíveis incomuns, com alto poder nutritivo e valorização regional
Especialistas explicam os benefícios; confira uma receita especial de Fetuccine de Cariru com molho branco de Puxuri
O Brasil possui uma das maiores diversidades de plantas do mundo, com mais de 46 mil espécies, de acordo com uma pesquisa publicada pela SciELO. Elas são usadas na produção de medicamentos, tecidos, biocombustíveis, alimentação etc. No que diz respeito à alimentação, há um segmento que vem ganhando destaque nos últimos anos, as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC). Especialistas explicam os potenciais nutricionais, como podem ser inseridas no cotidiano, ampliando a oferta de nutrientes e valorizando a produção regional.
Algumas PANC são mais conhecidas, tal como o jambu na região amazônica, utilizado em pratos típicos. Outras menos conhecidas, são utilizadas como plantas ornamentais ou até confundidas com "matinho", à exemplo da ora-pro-nóbis e da erva de jabuti. Essas e outras plantas e hortaliças não fazem parte das produções de cultivo em larga escala e não são amplamente comercializadas em redes de supermercados, como alimentos.
De acordo com informações no site da Embrapa, as PANC atuam como alimentos funcionais, tem fácil cultivo e baixo custo tecnológico. Além de resistentes à pragas e doenças, são próprias para a agricultura familiar. Desde 2006 a Embrapa, no Brasil, faz o resgate e multiplicação dessas plantas, com a finalidade de promovê-la e valorizá-las para garantir segurança e soberania alimentar e nutricional no país.
A nutricionista Thaís Granado, mestre em Gestão e Saúde afirma que as Plantas Alimentícias Não Convencionais têm valor nutricional, no entanto, seu acesso ainda está se popularizando, por isso, não são encontradas com facilidade nas grandes redes de supermercados.
"As PANC possuem fibras, minerais, antioxidantes, e outros nutrientes que conferem valor nutricional às mesmas e por isso podem ser utilizadas na alimentação saudável contribuindo para a saúde", diz Thaís.
Questionada sobre a insegurança alimentar (IA ) e se essas plantas poderiam auxiliar no enfrentamento, Thais destaca que, pelas características de cultivo das PANC - que podem ser cultivadas em hortas escolares, comunitárias e jardins - e valor nutricional, podem ter essa função, se associadas a outros aspectos.
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"Junto com outros aspectos, [podem] contribuir para minimizar os impactos ocasionados pela insegurança alimentar (IA). No entanto, é importante destacar que nenhum alimento sozinho é capaz de solucionar a questão, uma vez que IA está relacionada a outros aspectos e se refere à falta de acesso regular e permanente de alimentos em quantidade e qualidade suficiente para sua sobrevivência. A inclusão das PANC na alimentação, possibilita a diversificação dos cardápios e da oferta de nutrientes. Além de contribuir para a valorização dos ingredientes locais, regionais e naturais", afirmou.
A professora Giselle Arouck, gastróloga e pesquisadora na área de Alimentos Étnicos Amazônicos e Peixes Amazônicos reforça que, apesar de ser uma alternativa de alimentação diante IA, conhecer as propriedades nutricionais e a forma segura de como podem ser consumidas é um desafio. Da mesma forma, acredita que é necessário falar sobre o aproveitamento integrais dos alimentos já conhecidos e que fazem parte da dieta cotidiana.
"Conhecer as propriedades nutricionais e a forma segura de como podem ser consumidas é um desafio. As PANC carecem de reconhecimento botânico de quem pode incentivar seu manejo e consumo. Somente assim teremos a adesão da população. Como diria Kinnup e Lorenzi (2014): 'se não sabem o nome, também não sabem nada sobre eles, tampouco como preparar'", disse citando autores referência no estudo das PANC no Brasil.
Receitas com PANC acessíveis à mesa dos paraenses
As propriedades nutricionais de algumas PANC são elevadas e a forma de preparo das mesmas não se resume as saladas, explica Giselle Arouck. Ela diz que algumas espécies são confundidas como plantas invasoras, ervas daninhas ou nem são percebidas e observadas pela população em geral. No entanto, é possível elaborar receitas na panificação, confeitaria, sopas, empanados, fritadas entre outras.
A pesquisadora afirma que é possível ter uma horta de PANC em ambientes pequenos. Procurar comprar de pequenos produtores, também fortalece a produção destes. "Em algumas feiras livres, [floriculturas] e lojas de produtos naturais pode-se obter algumas. É o caso da semente amazônica 'Licaria puchury-major' conhecida popularmente como 'puxuri', que é ralada e preparada por infusão para os males do estomago. É bastante aromática e também usada como especiaria para saborizar molhos, preparar marinadas", explicou.
Giselle apresenta outros exemplos de plantas, que podem ser apresentadas em pratos, como a Peperomia pellucida, conhecida no Pará pelo nome de erva de jabuti. "Suas folhinhas azedinhas e suculentas podem ser usadas em risotos, saladas e até como cobertura de pizzas. Fácil de manter em vasos, pois se reproduz com facilidade. A pereskia aculeata, conhecida como 'Ora-pro-nóbis' ou 'carne de pobre' é uma verdura rica em proteína vegetal, suas folhas são usadas em omeletes e massa de pão e seus frutos na produção de geleias. Já encontramos em mudas em lojas de plantas ornamentais, sua flor é linda", ressaltou.
A gastróloga também destaca outras plantas mais conhecidas, como o Cariru, que é tradicional da Amazônia e assim como o Jambu, pode ser encontrado em feiras e centros de abastecimentos. "A Talinum triangulare ou 'cariru' ou 'beldroega-graúda', possui folhas tenras e flor de cor bonina, também comestível. Tempera bem o feijão, usada na feitura de patês e pães, sopas e omeletes", finalizou.
A especialista preparou uma receita exclusiva para o O Liberal com as PANC mencionadas, um Fetuccine de Cariru com molho branco de Puxuri. "Quem quiser preparar de entrada um omelete com as folhinhas de 'ora-pro-nóbis", pode. Na sequência um Fetuccine com a massa verde preparada com 'cariru' e servido com molho Bechamel. Nesse molho clássico ao invés da noz-moscada, usaremos as raspas da semente de 'puxuri'", explicou a receita para reproduzir em casa.
Confira a receita
Fetuccine de Cariru com molho branco de Puxuri
1 maço de Cariru
5 unidades de ovos
400ml de leite líquido
200g de manteiga
1 semente Puruxi
30g de queijo parmesão
5g de sal
Modo de preparo:
Ferva as folhas de Cariru rapidamente, retire e enxugue. Na sequência bata no liquidificador com os ovos e misture com 500g de trigo, sovando (misturando bem e amassando com as mãos) por uns minutos até que a massa solte das mãos. Use um pouco de trigo para trabalhar a massa.
A massa deve descansar por 30 minutos. Depois abra a massa com um rolo até que ela fique fina. Com uma faca corte a massa em tiras, ferva um litro de água com sal e coloque a massa por 5 minutos. Escorra e separe em uma tigela para esperar o molho.
Molho branco com Puruxi
Leve em fogo baixo a manteiga e 200g de trigo, adicionando pouco a pouco o leite até formar um molho. Deixe cozinhar por 5 minutos e acresça o queijo e uma pitada de sal e finalize com as raspas do Puruxi.
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