Mestre Vieira e Atlético Barcarenense: uma história que une gerações
O Mestre queria um time com tudo que tinha direito: estádio, escudo e uniforme
Noite de 26 de junho de 2016. O Clube Atlético Barcarenense entrava em campo para conquistar a Copa dos Campeões na final disputada em Santa Izabel. De sua casa, Mestre Vieira acompanhava tudo pelo rádio. Debilitado devido a doença que havia descoberto naquele ano, o músico não pôde estar presente como sempre fazia, mas agradecia por mais um sonho realizado. A conquista do título inédito do seu clube de coração e, o melhor, com dois de seus filhos em campo, era o que faltava para o mestre da guitarrada paraense.
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A felicidade não era para menos. Mestre Vieira fundou o clube em 1979. O músico era apaixonado por futebol e jogava sempre com os amigos nos dias em que não havia shows. A criação do Atlético Barcarenense foi uma forma de deixar tudo mais oficial. Vieira queria criar um time com tudo que tinha direito: estádio, escudo, uniforme, tudo para disputar os principais campeonatos amadores do estado. E também para ver as gerações de filhos e netos jogando o esporte que mais amava.
A escolha do nome e do escudo, referência ao Atlético Mineiro, não foi por acaso. Mestre Vieira na época tinha duas paixões: o Paysandu e o galo de Minas Gerais. Segundo os filhos, o alvi-negro do uniforme e do escudo do time mineiro pegaram Mestre Vieira. Com o passar dos anos, o músico se ‘aposentou’ dos campos e passou a coroa para as gerações de filhos que lhe acompanharam em sua paixão. Mestre Vieira conseguiu ver os filhos da primeira e da segunda geração sendo campeões e tornando o clube em um dos mais tradicionais da cidade.
“O sonho do papai era ver a gente campeão. Ele fundou o clube para gente jogar, isso dava felicidade para ele. O primeiro título veio 1992 com o Tuta e o Valdir Vieira, da primeira geração. Depois ficamos um bom tempo sem ganhar nada, mas ele nunca deixou de torcer muito. E para ver como é o destino, a segunda geração veio ganhar a Copa dos Campeões no ano que ele descobriu a doença, em 2016. Ele sempre estava ligado no radinho, fez de tudo para ir ao campo, mas não conseguiu. Quando chegamos em casa, ele disse que aquele era um sonho realizado”, conta Wilson Vieira, um dos filhos do Mestre Vieira que jogou aquela final. O outro foi Valdeci Vieira.
O ÚLTIMO SOBREVIVENTE
Em 1984 Mestre Vieira e outras personalidades do futebol da cidade fundaram a Liga Esportiva Barcarenense (LEB). O objetivo era fazer um campeonato com times oficiais para mobilizar os moradores do município, fazer com que gostassem mais do futebol local. E foi o que aconteceu. Junto com Fluminense de Barcarena, Grêmio Barcarenense e Bom Sucesso, o Atlético Barcarenense compôs a primeira edição do campeonato que existe até hoje. Dos quatro clubes fundadores, o galo de Barcarena é o único na ativa, inclusive sendo um dos favoritos para vencer a equilibrada disputa deste ano.
“Mestre Vieira que mobilizou todo mundo, que queria realmente criar um campeonato para chamar atenção dos moradores, para fazer com que fossem ao campo nos finais de semana, levassem a família, vissem boas partidas, e foi o que aconteceu. Hoje o campeonato da primeira divisão de Barcarena é o principal da cidade. O futebol amador tem muitas dificuldades, mas seguimos lutando. Ele foi o primeiro presidente e continua sendo sempre”, diz Josemar Furtado, atual presidente da LEB.
Entre recordações e o presente, o Atlético Barcarenense mantêm com orgulho a herança deixada por Mestre Vieira. Foram anos dedicados ao futebol, mesmo quando o artista havia se tornado um expoente da música regional. Inclusive, lembram os filhos, chegava a investir boa parte do que ganhava com shows no seu amado Clube Atlético Barcarenense. Mestre Vieira queria ver o clube no topo, "quem sabe até disputando um dia um campeonato paraense", brinca o filho. O momento atual não é tão glamouroso como nos melhores sonhos do artista barcarenense, mas estar na ativa após anos tão difíceis é uma vitória. Entre a música e o futebol, os dois.
“A música e o futebol andavam juntos para nosso pai, mas olha, fica difícil saber qual ele gostava mais. Lembro que ele sempre dava um jeitinho da gente ficar para jogar. Queríamos acompanhar ele nos shows e ele dizia: ‘Não, primeiro o jogo e quando acabar vocês vão pra lá pra tocar com a gente’. Muitas das vezes ele até contratava outro rapaz para tocar no nosso lugar, mas a gente tinha que ficar para jogar pelo Atlético. E ele acompanhava por ligação, queria saber tudo. ‘Como que tá aí o jogo? Como os meninos estão jogando?’. Então, papai foi um cara amante do futebol e principalmente, do Atlético”, diz Wilson Vieira, que termina a entrevista mostrando uma foto de Mestre Vieira com a camisa do clube e o troféu conquistado em 2016, logo após os campeões chegarem em casa. Ali fez uma confissão. "Ele disse que amava mais o Atlético que o Paysandu, aquilo foi forte", diz Wilson. O Mestre, a guitarra e a bola, uma história de amor, humildade e sonhos realizados.
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