Marajó: promessa de universidade pública no arquipélago aumenta sonho do ensino superior
O projeto é do Senador Jader Barbalho e pode ajudar jovens a não precisar sair de suas cidades para estudar
A cidade de Breves, no arquipélago do Marajó, tem a promessa de receber a Universidade Federal do Marajó (UFM) a partir de um projeto de lei que autoriza o governo federal a criar uma universidade pública. O projeto é do senador Jader Barbalho (MDB). A universidade pública possibilita novos conhecimentos, técnicas e tecnologias por meio da pesquisa. Além disso, produz projetos e ações que melhoram a vida de muitas pessoas.
O pedido para a criação da universidade partiu do prefeito de Breves, Xarão Leão. "Fiz essa solicitação ao senador Jader Barbalho, para que Breves possa ser sede da Universidade Federal do Marajó, beneficiando não somente os 17 municípios que compõem o Arquipélago do Marajó, mas também regiões vizinhas. Tudo dando certo, poderemos desenvolver ainda mais através da formação profissional, proporcionando um futuro mais digno aos cidadãos", declarou o prefeito.
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Atualmente, Breves já conta com um campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), vinculada à sede em Belém e com recursos limitados. Se o projeto autorizativo passar pelo Senado e o Governo Federal acatar, a Universidade Federal do Marajó será independente e com orçamento próprio, podendo definir os cursos que irá disponibilizar.
O projeto foi apresentado na semana passada e aguarda o recebimento de emendas na Comissão de Constituição e Justiça. Mesmo que aprovado no parlamento, só sairá do papel se o Governo Federal optar pela construção.
O senador Jader Barbalho fala da preocupação com a interiorização do ensino universitário e propõe a criação da UFM, pois o arquipélago do Marajó conta com aproximadamente 600 mil habitantes e uma população jovem que migra para Belém e demais localidades na tentativa de receber o ensino universitário e ter mais chances na vida profissional.
"Eu creio que essa universidade no Marajó, que é uma área fantástica e um espaço de biodiversidade, e a criação dessa universidade vai ter vocação para a discussão sobre a Amazônia. Espero ver isso ser transformado em realidade”, pontua o senador.
Interiorização das universidades
O reitor da Universidade Estadual do Pará (UEPA), Prof Dr. Clay Chagas, explica que para o próximo Plano Plurianual (PPA) há a construção de três novos campi da universidade. O primeiro deles é o campus de Breves, no Marajó, o campus de Itaituba e o campus de Canaã dos Carajás.
“No entanto, essa expansão se dá baseada numa série de características regionais e é entender realmente a demanda da região da qual ele vai estar sendo integrada para saber se tem o público suficiente para a criação de um campus, saber qual é o potencial regional dessa localidade e também verificar os indicadores sociodemográficos para que a gente possa ter uma noção mais geral da cidade e, logicamente, dentro da cidade da região que ela está inclusa. E a partir daí a gente conversa com o governo para ver qual é a possibilidade de locação, de recurso, para que a gente possa abrir os campi, porque interfere diretamente no orçamento, interfere no quadro docente e na capacidade da universidade em manter a estrutura nova criada”, explica o reitor da UEPA.
A expansão do ensino superior público na região amazônica foi pauta de audiência pública realizada na Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais da Câmara dos Deputados, no dia 23 de maio. O reitor da Universidade Federal do Pará, Emmanuel Zagury Tourinho, entre outros reitores de Instituições de Ensino Superior, participou das discussões que evidenciam a importância de um olhar diferenciado para as universidades da Amazônia.
De acordo com Tourinho, a região amazônica representa 10% da população brasileira e 10% do Produto Interno Bruto (PIB), mas não recebe o equivalente a 10% dos recursos públicos que são destinados à educação e à ciência e tecnologia no país.
A busca pelo sonho do ensino superior
Tarciso dos Santos Corrêa, 22 anos, nasceu em Belém, mas desde muito pequeno morou em Cachoeira do Arari e Ana Clara de Freitas Ribeiro, 22 anos, que também nasceu em Belém, mas sempre morou em Anajás, fazem parte da estatística de jovens que mudam de cidade para cursar o nível superior.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2021, o Marajó contava com 619 mil habitantes e novos resultados mostram o êxodo de 17.500 moradores, sendo a maioria jovens que deixam a cidade em busca de estudo.
Tarciso diz que em Cachoeira do Arari não tinha o curso que queria, então precisou se mudar para Belém e fazer a graduação de Matemática. Para isso, precisa morar na casa de familiares. Um obstáculo é ter que se afastar de tudo da família e se aventurar em um ambiente diferente.
O jovem conta que durante todo o ensino básico nunca teve a oportunidade de fazer uma excursão ou ir em uma feira vocacional em uma universidade, por exemplo. “Acredito que estar perto de uma universidade e ver o ambiente inspira os estudantes a sonhar. Até porque para muitos ter que mudar de cidade pode ser um obstáculo muito maior que para outros. É importante que mais pessoas tenham acesso ao ensino superior, a UFPA, por exemplo, tem ensino de pesquisa e extensão, acredito que a construção de um campus no Marajó com essas características possibilitaria o desenvolvimento de muitas pesquisas no contexto local, levando desenvolvimento para a região”, defende o estudante.
Ana conta que também saiu de Anajás em busca de mais oportunidades em relação aos estudos e com a intenção de entrar em uma universidade pública, já que na época não tinha nenhuma universidade em Anajás. “Hoje em dia tem uma particular, onde muitas pessoas têm acesso ao ensino superior por meio dela, mas sabemos que a realidade social impossibilita muitos de ingressar no ensino superior”, pontua.
Cursar a universidade pública era considerado distante pela jovem, já que precisava fazer esse deslocamento para conseguir ingressar. “Eu percebo o privilégio que eu tive para conseguir permanecer em Belém estudando, porque sabemos que sair da nossa cidade natal, mesmo em busca de uma educação, perpassa por situações financeiras, familiares, e uma distância de quase 30 horas de barco de uma cidade para a outra, por isso, eu sempre friso a importância da política de interiorização da universidades, estamos falando de universidades federais onde existem meios para concretizar esse projeto com uma infraestrutura de qualidade", avalia Ana Clara.
A estudante acrescenta ainda sobre o a importância desse processo, “eu acredito que a educação é transformadora e muda vidas, se houvesse a construção de um campus universitário público em Anajás, não teria a necessidade desse deslocamento tão brusco, até porque nem todo mundo tem a oportunidade de sair da cidade natal em busca de um ensino superior público, ou a condição financeira para pagar uma particular, portanto esse é um processo excludente e eu falo isso com propriedade, porque vi na prática pessoas que querem adentrar no ensino superior, mas não tiveram essa oportunidade, esse processo contribui para uma marginalização social e até mesmo contribuindo para o aumento de criminalidade na cidade de Anajás”, conclui.
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