Indígenas e quilombolas querem que a vacinação contra a covid seja mais rápida para essas populações
O pedido ganha força depois que governo do Pará passou exigir o passaporte da vacina para frequentar os estabelecimentos
A obrigatoriedade do passaporte de vacinação da covid-19, para ter acesso aos estabelecimentos, foi bem recebida por lideranças indígenas e quilombolas. O problema, porém, é que a imunização dessas populações está muito aquém do desejado. Desde segunda-feira (6), e conforme o decreto estadual 2.044/2021, a comprovação de vacinação passa a ser obrigatória para ingresso e permanência em estabelecimentos públicos ou privados do estado.
A jornalista e comunicadora indígena Nice Tupinambá disse ser lamentável que as vacinas dos indígenas ainda estejam atrasadas. “E, em nível nacional, esse índice está mais baixo ainda. E os povos indígenas estão entre os grupos prioritários. Enquanto em Belém está com mais de 80% da população vacinada, para os povos indígenas a primeira dose agora que está chegando a 50%. Agora imagina a dose de reforço”, disse. O temor é que, por falta dessa dose de reforço, os casos aumentem novamente. “A gente já teve perdas irreparáveis. O índice de morte é muito grande para nós”, afirmou.
Preocupação dos indígenas é de um aumento significativo de contaminação neste final de ano
Segundo o Vacinômetro da Sespa, a população estimada de indígenas, no Pará, é 23.841. Receberam a primeira dose 16.832 (70,60%). A segunda dose foi aplicada em 13.398 (56,20%), a 3ª dose em 479 (2,01%) e a dose única em 2 (0,01%). As lideranças já denunciaram o governo federal no exterior. “A gente pede investigação no Brasil. A gente acusa o governo de sabotar o plano de imunização e combate ao coronavírus nos povos indígenas, uma vez que facilita, em muitos casos, a entrada de garimpos e madeireiros em territórios indígenas. Isso enfraquece toda a política de proteção ambiental e dos povos indígenas em um momento tão crítico como é o período da pandemia”, afirmou.
Nice disse que, com a aproximação das festas de fim de ano, muitos indígenas que trabalham e estudam na cidade vão retornar para os seus territórios. “A preocupação é de ter um aumento significativo de contaminação para esse final de ano. A dose de reforço é muito importante. E é muito importante também que se avance a segunda dose e conclua a primeira dose de vacinados entre os povos indígenas. Que a gente possa avançar com a vacinação dos povos indígenas, principalmente dentro dos territórios”, afirmou.
Ainda segundo ela, o passaporte da vacinação é muito importante. “É inadmissível que as pessoas declarem essa guerra contra a vacina, a medicina e a ciência. Até mesmo nós, povos indígenas, que temos a nossa própria ciência, a nossa própria medicina, a gente não caiu nessa história de não vacinar. Pelo contrário. As lideranças incentivam, os povos indígenas incentivam”, afirmou.
Quilombolas querem que a vacinação seja em seus territórios
Aurélio Borges, coordenador administrativo da Malungu, a Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará, disse ser necessária a intensificação da vacina nos territórios quilombolas, com a realização de campanhas de orientação. “Mesmo que essa orientação seja feita por meios como o WhatsApp e carro de som. Ou seja: qualquer estratégia que o governo e as prefeituras disponham para poder fazer essa divulgação, esse esclarecimento da importância da imunização para que haja uma procura maior pela vacina”, afirmou.
A população quilombola estimada é de 133.199. Desse total, receberam a primeira dose: 60.452 (45,38%). A segunda dose foi aplicada em 36.742 (27,58%), a terceira dose em 1.195 (0,90%) e a dose única em 34 (0,03%). “A gente entende que o estado, na sua estratégia de vacinação, não foi tão eficaz. Em alguns lugares, mudaram as equipes para fazer a vacinação. E muitos municípios chamaram as pessoas quilombolas para se vacinar na unidade de saúde. E isso fragiliza. A pessoa vai quando quer. Se não quiser, não vai. A estratégia não foi muito boa”, disse. “Os quilombolas querem a vacina em seus territórios. Assim surte maior efeito. Se faço campanha de vacinação na Unidade Básica de Saúde, não vão procurar como deveriam. Se faço na comunidade, e lá é avisada toda a população, e eles têm de manhã até 14 horas para se vacinar, eles vão chegando e vão se vacinando”, disse.
Sobre o Passaporte de Vacinação, Aurélio afirmou que ainda não houve uma análise coletiva sobre essa questão. “Mas a gente entende a importância de todos serem vacinados. As medidas que o governo tem tomado são necessárias. A medida de baixar decreto para que os servidores todos estejam vacinados, e tenham a comprovação da vacina, também é uma estratégia eficaz”, disse. “Tem muitos profissionais que, em vez de ajudar incentivando, demonstrando, acabam fazendo campanha contrária. A atitude tem sido muito boa nesse sentido”, afirmou.
Sespa realizou reunião para ampliar vacinação desse público no Pará
A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informa que reuniu, no dia 1º deste mês, com a coordenação de imunização do Estado, DSEIS (distritos sanitários especiais indígenas), SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena), Vigilância Epidemiológica, Ministério da Saúde com o objetivo de ampliar a vacinação desse público no Pará. A Sespa iniciou uma capacitação para servidores profissionais de saúde que darão apoio à vacinação de populações tradicionais. A Secretaria orienta, também, os municípios a se organizem logisticamente por meio de calendários específicos de vacinação dessas comunidades ampliando a vacinação dessas comunidades. "Outra orientação aos municípios é que façam os registros corretamente das doses para que os dados sejam contabilizados de forma real e oficial", afirmou a Sespa.
Indígenas:
População estimada: 23.841
1ª dose: 16.832 (70,60%)
2ª dose: 13.398 (56,20%)
3ª dose: 479 (2,01%)
Dose única: 2 (0,01%)
Quilombolas:
População estimada: 133.199
1ª dose: 60.452 (45,38%)
2ª dose: 36.742 (27,58%)
3ª dose: 1.195 (0,90%)
Dose única: 34 (0,03%)
Fonte: Vacinômetro
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