Pesquisa aponta aumento dos gastos com saúde no Pará, mas fenômeno das farmácias pode estar acabando

Gastos em saúde devem movimentar R$ 6 bilhões no Pará, 17,5% a mais em relação ao ano passado. Porém, a quantidade de farmácias no Estado diminuiu 12,6%

Camila Guimarães
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O gasto dos paraenses com plano de saúde e tratamento médico e dentário deve movimentar, até o fim deste ano, mais de R$ 5,9 bilhões – o que representa um aumento de 17,5% em comparação com o gasto no ano passado. O dado é da pesquisa IPC Maps, publicada anualmente pela IPC Marketing Editora, empresa que analisa tendências do consumo no país. No Brasil como um todo, a mesma realidade é percebida: o setor de saúde deve movimentar, até o final deste ano, R$ 348,3 bilhões, cerca de 11% a mais que o gasto em 2021. Em contrapartida, o mesmo estudo mostra que o número de farmácias vem caindo no Pará (12,6% a menos que ano passado) e no Brasil (6,4%). 

O diretor da IPC Marketing Editora e responsável pela pesquisa, Marcos Pazzini, detalha que os cálculos sobre o gasto da população com saúde levam em conta despesas com medicamentos e itens para curativos, bem como com bens e serviços relativos a planos de saúde e tratamentos médico e dentário.

Marcos Pazzini analisa o cenário como sendo, ainda, reflexo de problemas trazidos pela pandemia de covid-19: “Com o aumento do desemprego na pandemia, a população teve de recorrer a um plano de saúde individual para continuar com cobertura”, ele diz, explicando o aumento de gastos com esse tipo de serviço.

Já a maior despesa com tratamentos e medicamentos seria consequência também de outros fatores, como o crescimento da população idosa, “que exige uma maior demanda por medicamentos e cuidados médicos”, e um maior entendimento de saúde como um gasto essencial: “porque se você tem uma doença ou faz um tratamento contínuo, não pode ficar sem. É um gasto do qual não se pode abrir mão”.

Enquanto as despesas com saúde aumentam, ironicamente o número de farmácias diminui tanto no Pará como em todo o Brasil. A pesquisa aponta que, de 2021 para 2022, a quantidade de farmácias no Estado diminuiu 12,6%. No Brasil, mais de 8 mil unidades (6,4%) fecharam suas portas, totalizando hoje 118.221 estabelecimentos.

Marcos Pazzini atribui o fenômeno não à baixa procura, pois seria uma contradição com relação aos demais dados da pesquisa, mas, ao contrário, à formação de conglomerados e à absorção de estabelecimentos pequenos por grandes redes de farmácia nacional:

“A farmácia é um segmento do comércio varejista que sofreu muito nesse período de pandemia. As empresas que atuavam na rua enfrentaram muitas dificuldades a partir do segundo semestre de 2020 - aliado ao fato de que grandes redes estão fazendo a compra de lojas no comércio, fechando lojas menores”.

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Quem ganha menos, tem gastado mais

A costureira aposentada Maria Socorro Gomes, de 80 anos, vive exatamente essa situação. Com uma aposentadoria de apenas um salário mínimo, não sobra nada da própria renda depois de pagar cerca de R$ 800 do plano de saúde e R$ 300 reais de medicamentos todos os meses. Para complementar os itens que precisa para manter a saúde em dia, como alimentos de qualidade para uma dieta balanceada, ela conta com a ajuda da filha, Francisca Cavalcante, de 50 anos.

"Lá em casa a gente ainda tem nossos próprios gastos com saúde. Meu marido paga cerca de 1.500 reais por mês com o plano para mim, para ele e nossos dois filhos. É um gasto que pesa demais no orçamento. O dinheiro da minha mãe não sobra para mais nada, mas graças a Deus que a gente tem conseguido manter. Enquanto Deus der condições, a gente pretende manter”, comenta Francisca.

Situações como a de Maria Socorro Gomes refletem o que o pesquisador Marcos Pazzini considera de mais preocupante, revelado pelo levantamento da IPC Maps: que os maiores gastos com saúde têm sido observado nos grupos com menor faixa de renda, o que significa maior comprometimento do orçamento das famílias que ganham menos.

Enquanto houve recorde na faixa de R$ 1,8 mil, o mesmo tipo de despesa representou 32,9% e 22,1% de aumento em faixas de renda mais abastadas (quem recebe mais de R$ 20 mil e R$ 10 mil por mês, respectivamente). Na faixa de renda mais baixa do estudo (pessoas que recebem cerca de R$ 862/mês), o aumento foi de 4,4%.

“Quando você tem um comprometimento da sua renda com essas despesas básicas, há uma sobra menor para gastar com outras coisas. Está pesando mais no orçamento doméstico, impedindo a compra de coisas que não são primeira necessidade, mas que as pessoas podem ter desejo de consumo — como trocar a televisão, comprar um celular 5g, agora que a tecnologia chegou por aqui. Isso explica o varejo enfrentando dificuldades, uma black friday que não foi tão boa quanto em anos anteriores etc”, analisa Pazzini.

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