Fátima Afonso discorre sobre o papel da mulher na literatura do presente

O grau de emancipação das mulheres em uma sociedade é o termômetro através do qual se mede a emancipação geral

Fátima Afonso/ Especial para O Liberal
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Quando falamos sobre literatura, percebemos que muitas mulheres têm um papel fundamental na arte da escrita, mas poucas autoras recebem a devida importância.

Atualmente, mesmo alcançando um importante espaço na literatura, o número de escritoras continua sendo menor em comparação ao de escritores.

É possível confirmar essa realidade pesquisando listas de eventos literários, como a FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) ou a Semana de 22 (Semana de Arte Moderna).

Por questões históricas, as mulheres permaneceram à sombra dos homens em muitos aspectos, inclusive artísticos e culturais. Mesmo assim, elas estiveram presentes, agregando valor ao mundo da literatura.

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Os mais importantes pensadores do século XIX escreveram que o grau de emancipação das mulheres em uma sociedade é o termômetro geral através do qual se mede a emancipação geral. Desde esse período existiu, no pensamento que sustenta uma revolução social que pudesse levar a emancipação aos trabalhadores, a visão de que a luta pela emancipação da mulher é inerente e indissociável à luta geral da emancipação.

E o movimento de desenvolvimento do capitalismo foi também a emergência de expressões de mulheres revolucionárias. Bastaria lembrar de Olympe de Gouges, que escreveu a declaração de direitos das mulheres e das cidadãs no interior da Revolução Francesa; de Flora Tristán, célebre combatente, a qual Marx e Engels fazem referência com o maior respeito em seu livro A Sagrada Família ou, para dar um exemplo emblemático, do nome de Louise Michel, uma alma revolucionária que brilhou em seu julgamento como combatente da Comuna ao desafiar a seus carrascos: “pertenço inteiramente à revolução social. Declaro aceitar a responsabilidade de meus atos [...] O comissário da República tem razão. Já que, como parece, todo coração que bate pela liberdade só tem direito a um pouco de chumbo, exijo a minha parte!”

Essas lutas e personalidades revolucionárias, ocultadas dos livros de história oficial, eram a base influente de outra forma dessa tensão se expressar: a literatura. Nos livros das principais cabeças literárias do século XIX, as personagens mulheres se destacavam em sua riqueza e desafiavam a ordem das coisas.

Notável dizer que, embora escritores homens e em geral com valores conservadores nas concepções políticas e às vezes de mundo mais em geral, saltava personalidades mulheres com muita intensidade e chocando com as concepções dos escritores. Não é uma novidade essa discussão na literatura universal clássica, mas aqui quero chamar a atenção para o século XIX os contornos que ganha a questão, após a Revolução Francesa e o início das lutas operárias.

A primeira obra de autoria feminina produzida no Brasil, o romance de Maria Firmina dos Reis, intitulado “Úrsula”, data de 1859, e foi escrito no Maranhão, fato que torna esta produção literária ainda mais relevante, visto que, em pleno século XIX, uma mulher dar autoria a uma obra de extrema relevância e raridade seria um fato extraordinário. Úrsula rompeu a não fala das escritoras mulheres num momento em que apenas homens exerciam protagonismo literário no Brasil, apesar da excludente autoria, que ficou subentendida pelo pseudônimo “ Uma Maranhense”,

Na literatura brasileira, historicamente, temos um marco que pode representar a abertura de portas para as escritoras brasileiras do século XX. A partir daí, as mulheres vêm conquistando, com muita luta, seu posto na literatura e podem nos encantar com suas percepções sobre o mundo.

 

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