Especialização em espeleologia atrai profissionais de todo o país para Marabá, no sudeste do Pará
Profissionais de áreas como Biologia e Geologia, por exemplo, terão uma oportunidade imperdível para aprofundar os conhecimentos em Espeleologia, o estudo das cavernas; As inscrições seguem até a próxima quarta-feira (1º) e podem ser feitas pela internet, no site da UPF.
Profissionais de áreas como Biologia e Geologia, por exemplo, terão uma oportunidade imperdível para aprofundar os conhecimentos em Espeleologia, o estudo das cavernas. A abertura do primeiro curso do país de especialização lato sensu em Patrimônio Espeleológico é fruto de uma parceria entre a Universidade de Passo Fundo (UPF) e a Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM). As inscrições seguem até a próxima quarta-feira (1º) e podem ser feitas pela internet, no site da UPF. O curso tem o objetivo de contemplar necessidades cada vez mais latentes da região, além de capacitar profissionais para gerenciar projetos, relatórios de pesquisa, prospecção e demais trabalhos associados a cavernas. Ao todo, foram disponibilizadas 35 vagas.
As aulas teóricas vão acontecer de forma híbrida, com uma parte online de aulas remotas síncronas em uma plataforma e aulas presenciais que vão acontecer na sede da Fundação Casa da Cultura. Além disso, haverá aulas práticas, que devem acontecer no mês de agosto, em três cavernas localizadas em Marabá e municípios próximos. “Desde 1997, a comunidade espeleológica vem tentando emplacar um curso desse nível e a forma como ele está organizado nos possibilitou ter aulas com professores renomados no país e até de outras partes do mundo”, ressalta o bioespeleólogo da FCCM, Maricélio Guimarães.
Segundo dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), existem atualmente no Brasil 22.929 cavernas conhecidas. Cerca de 3 mil dessas foram catalogadas pela equipe do Núcleo de Espeleologia da Casa da Cultura de Marabá. A maior parte dessas cavidades naturais foram descobertas no Pará, mas também há exemplares nos estados do Tocantins e Maranhão. “Pará é o segundo estado em número de cavernas conhecidas no Brasil. Cerca de 90% dessas cavernas foram descobertas e vem sendo estudadas pela casa da Cultura de Marabá”, conta o bioespeleólogo.
“Primeiro, vai uma equipe a campo caminhando ao longo de um trajeto pré-definido, abrindo trilha, muitas vezes mata a dentro, procurando cavernas. Todo espaço encontrado com a possibilidade de adentrar para o subterrâneo, a gente explora e vê se aquilo se trata ou não de uma cavidade natural subterrânea”, detalha Maricélio. “Após essa confirmação, a gente marca o ponto, as coordenadas dessa caverna, faz um registro fotográfico e preenche uma ficha de cadastro dessa caverna. A partir de então, é como se essa caverna passasse a existir. Aí passa para uma outra fase, de estudos espeleológicos, como a topografia, que é fazer o mapa da caverna com o grau de previsão onde a gente consegue ter o tamanho, a área, o volume, o desnível, todo o desenvolvimento da caverna”, conta, explicando que ferramentas de escaneamento a laser auxilia nesse processo.
A expertise da FCCM no mapeamento e estudo de cavernas por toda a região serve também como base para o estudo de viabilidade de diversos investimentos e a instituição se tornou referência nacional na preservação e construção de conhecimento do Patrimônio Espeleológico brasileiro. Assim, a Casa da Cultura presta serviços de consultoria no âmbito dos processos de licenciamento ambiental de projetos. “A partir do momento que a gente descobre e cadastra uma nova caverna, ela passa a existir para o futuro. Então se houver a intenção de se instalar algum empreendimento naquela área, os órgãos ambientais já saberão que existe uma caverna ali. Então, isso é de uma riqueza enorme, do ponto de vista da proteção”, explica Maricélio. “Em cavernas, nós temos algumas espécies a gente conceitua como ‘troglóbios’, que só vivem em ambientes subterrâneos. São animais que se abrigam obrigatoriamente em uma cavidade subterrânea, o que é beneficiado pela falta de luz, excesso de umidade, a baixa quantidade de alimento que existe no interior de uma caverna. São animais únicos desses ambientes”.
O estudo das cavernas da região já rendeu aos pesquisadores da FCCM descobertas importantes e, inclusive, únicas para o bioma amazônico. Isto porque várias cavidades servem como verdadeiros berçários para espécies de animais que precisam desses ambientes para se perpetuar. “A caverna GEM 01 contém uma população imensa de morcegos, porque ela é um local de maternidade. Nós registramos 16 espécies de morcegos nela. Dessas, 4 estão ameaçadas de extinção e duas formam uma grande colônia que chega a 15 mil morcegos na época de reprodução. E nós descobrimos também uma espécie nova de um grilo nessa caverna, o Phalangopis quartzitica. Um animal que só foi encontrado aqui”, conta Maricélio.
“Essa caverna fica no Parque Estadual Serra das Andorinhas, no município de São Geraldo do Araguaia, e nós fizemos todo um plano de manejo para que ela fosse aberta para o espeleoturismo. Essa é uma cavidade que tem cerca de 1,3 quilômetro, toda ela foi estudada para que fosse avaliada tanto a vulnerabilidade para o turista, quanto a vulnerabilidade para a caverna. Assim, 30% da área dela foi aberta para o turismo e o restante permanece intocada, reservada apenas para estudo espeleológico”, explica o especialista sobre o potencial turístico que pode ser explorado a partir da existência de uma caverna.
Além da riqueza do ponto de vista biológico, a perspectiva arqueológica também é importante. Em algumas cavernas, é comum encontrar indícios de habitação humana de povos originários. “A maioria dos sítios arqueológicos estão associados às cavidades naturais. Quando a gente faz uma pesquisa de espeleologia, estamos com o olhar bem atento a esses detalhes. Ao encontrar uma caverna em que a gente se sente confortável dentro dela, que nos dias atuais poderia ser utilizada como abrigo de intempéries, isso é um indicativo forte de que aquele local também pode ter sido utilizado por povos antigos. Então, a gente já fica com um olhar mais direcionado a buscar qualquer vestígio que confirme essa possibilidade”.
Contatos para mais informações:
www.upf.br/Pos
Jacqueline Ahlert
(54) 98135-1538 / ahlert@ufp.br
Maricélio Guimarães
(61) 98210-1049 / mmgbat@hotmail.com
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