Chuva de granizo no Pará? Entenda por que o fenômeno também pode ocorrer na região

Meteorologista explica que a umidade do ar e a radiação solar nessa época do ano favorecem a formação de nuvens que produzem os cristais de gelo

Laís Santana / O Liberal
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Nos últimos meses, foram registradas chuvas de granizo no Pará, sendo uma em Belém e outra em Santarém as mais conhecidas. No entanto, o fenômeno não é novo na região e está relacionado a uma variação climática favorável para a formação das nuvens que produzem cristais de gelo. 

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Fenômeno foi registrado por moradores e compartilhado nas redes sociais

“A região Equatorial, particularmente nós que estamos aqui na Amazônia, temos as principais condições para a formação dessa nuvem de tempestade que é a disponibilidade de água, seja pela proximidade de grandes superfícies de água, seja pela floresta que também por possuir árvores com sistema radicular profundo consegue retirar água mesmo no período mais seco de profundidade bem grandes, e a energia para formação das nuvens que é a radiação solar, com incidência de radiação praticamente o ano inteiro”, pontua o meteorologista Márcio Lopes, da Divisão de Meteorologia (Divmet) do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipan). 

Os aspectos climáticos contribuem para a formação de uma nuvem chamada cumulonimbus, também conhecido como nuvem de trovoada. Esse tipo de nuvem é caracterizada por seu grande desenvolvimento vertical. “A altura da base é de aproximadamente 1,5 km, 2 km, e pode ter de 10 a 18 km de extensão. A base dela é formada por gotículas de água, mas como ela vai alcançando altitudes bastante elevadas, a medida que vai subindo na atmosfera a temperatura vai diminuindo. Com isso, ela passa por temperaturas muito baixas, cruzando o plano de 0º. Ou seja, o topo dessa nuvem vai atingir temperatura na ordem de -60º, - 80°”, explica o especialista. 

Lopes descreve a nuvem cumulonimbus como um “liquidificador gigante”. “Dentro dela nós temos correntes de ar ascendentes e descendentes. As correntes ascendentes pegam as gotículas de água e jogam lá para cima, onde a temperatura está muito baixa congelando as gotículas de água, ao mesmo tempo que pega esse granizo e joga para baixo. Então temos dentro dela o choque dessas partículas o que, inclusive, faz com que ela fique eletrificada, por isso essa nuvem é a que produz os raios e trovões.”

O meteorologista ressalta que esse tipo de nuvem é registrado durante todo o ano na região, mas no período mais seco elas podem se desenvolver mais rápido devido a maior incidência de radiação. Esse crescimento mais acelerado favorece a formação tempestades mais violentas. Por se tratar de um evento esporádico, não existe uma estatística oficial com relação a esse tipo de ocorrência.

“Todas as nuvens do tipo cumulonimbus vão ter granizo em seu interior. Agora, eventualmente, dependendo da temperatura da atmosfera em determinados níveis, essa camada com gelo pode ser menor ou maior, e em função disso, o granizo pode crescer mais ou menos. Por ter uma extensão muito grande, quando o granizo não cresce tanto e chega a precipitar, essa pedrinha de gelo vai caindo e na maioria das vezes o que acontece é que ela já derreteu quando atinge a superfície. Por isso aqui na nossa região é menos comum que ocorra a precipitação de granizo”, destaca. 

Márcio Lopes destaca ainda que a ocorrência do fenômeno não está relacionado a mudanças climáticas. “Está relacionado ao que a gente chama de variabilidade climática, por exemplo, agora estamos tendo uma condição de aquecimento do Oceano Atlântico na região Tropical. Esse aquecimento favorece a disponibilidade de vapor d’água na atmosfera, é mais um combustível para essas nuvens. Temos também o fluxo do vento que traz essa umidade para a região. Outubro é um mês menos chuvoso, principalmente para a parte Norte aqui do Pará, o que inclui a região Metropolitana e o Baixo Amazonas. Então quanto mais para o interior do continente, maior a temperatura, fazendo com que as nuvens se desenvolvem mais rapidamente”, acrescenta.

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