Cheia do rio Tocantins se repete para milhares de famílias todos os anos no inverno amazônico

O nível do rio Tocantins, o maior deles, chegou aos 12 metros acima do que é considerado normal e, quanto mais o rio sobe, mais famílias se veem obrigadas a abandonar suas casas

Tay Marquioro
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A enchente causada pelas cheias dos rios Tocantins e Itacaiúnas, em Marabá, sudeste do Estado, segue fazendo vítimas em vários bairros da cidade. Esta semana, o nível do rio Tocantins, o maior deles, chegou aos 12 metros acima do que é considerado normal e, quanto mais o rio sobe, mais famílias se veem obrigadas a abandonar suas casas para ir morar com familiares ou para um dos 12 abrigos públicos construídos pela prefeitura local para receber a essa população.

A Rua Pará, no bairro Santa Rosa, é uma das mais afetadas. Nela, a manicure Clemilda Maria dos Anjos, que mora na mesma casa há 18 anos, aguardava o socorro da Defesa Civil, sentada na calçada, com os pés na água e móveis sobre cadeiras e mesas. Acordei hoje, às 6 horas, já com a água tomando conta de tudo. Estive na Defesa Civil, mas é muita gente esperando para mudar e contando com os caminhões deles. Eu espero conseguir mudar pelo menos para ficar na casa de parentes”, conta. “Eu perdi o guarda-roupa, que era de madeira e ficou todo molhado. Dois ventiladores também, que tombaram com a força da água e os motores ficaram encharcados. Ano passado, eu precisei tirar minhas coisas de casa em uma rabeta e, enquanto eu cuidava da mudança, ladrão entrou em casa e levou tudo o que conseguiu carregar. É muito triste”.

Um pouco mais adiante, a família de Jocenilde Batista vivia o mesmo drama. Em uma casa de dois pavimentos, ela vive com o marido no piso superior, enquanto que o filho mora com duas crianças na parte de baixo. “É ele que está precisando de carro para ajudar a tirar as coisas e ainda não conseguiu. Até para contratar um caminhão de mudança para fazer o serviço está difícil”, afirma a dona de casa.

image Famílias falam de dificuldades para conseguir deixar as residências inundadas (Tay Marquioro/ O Liberal)

Famílias amargam com os prejuízos

Os prejuízos causados pela enchente são incontáveis, mas até quem conseguiu vaga em um abrigo municipal passa por dificuldades. Na Praça Paulo Marabá, assim como em outros abrigos públicos, os barracos são simples, têm apenas um cômodo pequeno e a estrutura é feita de compensado, com cobertura de telhas de fibrocimento. À tarde, o calor é um verdadeiro teste de resistência e a maior parte das famílias recorre às poucas sombras que existem no local.

A dona Maria do Rosário do Nascimento, de 62 anos, foi a primeira a chegar aqui, antes mesmo da prefeitura iniciar a construção do abrigo. “Eu passei três dias aqui nessa praça, esperando pela construção dos abrigos. Mas tive que vir, porque lá em casa não tinha mais condições de ficar. Meu filho e eu passamos calor e necessidade, pegando sol e chuva debaixo de uma lona”, conta emocionada. “Em 20 anos que eu moro em Marabá, nunca passei uma enchente como essa, humilhada, jogada na sarjeta, praticamente. Eu desejei morrer. Nunca imaginei passar por isso”.

image Prefeitura montou 12 abrigos públicos para receber as famílias (Tay Marquioro/ O Liberal)

Os barracos erguidos às pressas para receber os flagelados deixaram passar alguns detalhes na estrutura que ainda causam algum desconforto. O mecânico hidráulico Valteir Araújo de Souza, completa hoje dez dias vivendo no abrigo e relata que as chuvas ainda são um problema. “A madeira foi colocada direto no calçamento da praça, então quando chove, a água escorre para dentro dos barracos. Se a gente não cuidar, podemos continuar perdendo nossos pertences enquanto estamos no abrigo”, afirma Vateir.

Programa Recomeçar

O governador Helder Barbalho, que esteve essa semana em Marabá, conheceu de perto a situação das vítimas das enchentes. O anúncio de socorro financeiro por meio do Programa Recomeçar, do governo do Estado, chegou como um alento a essas famílias que praticamente não têm mais o que perder. “Também já estamos disponibilizando cestas de alimento, kits de higiene, colchonetes e água para tentar diminuir o sofrimento dessas famílias”, disse Helder. Só na última semana, o número de pessoas atingidas pelas cheias chegou a mais de 2.500.

image Pessoas utilizam canoas como meio de transporte pelas ruas da cidade (Divulgação/ Jhonne Freires)

No local, são disponibilizados banheiros químicos, tanques para lavagem de roupas, estruturas com chuveiros para banho, além do apoio de agentes da Guarda Municipal e Segurança Patrimonial com rondas constantes nos abrigos. A Diocese de Marabá também acompanha com atenção a situação das famílias nos abrigos públicos. “Temos feito visitas constantes, prestando a nossa solidariedade e acompanhando essas pessoas para poder ajudar a reivindicar junto às autoridades os meios para que essas pessoas vivam com dignidade. Muitos deles perderam tudo, é uma situação muito triste”, afirmou o Bispo Dom Vital Corbellini.

Prefeitura de Marabá

Sobre a reclamação feita pelo Valteir, a reportagem procurou a assessoria de comunicação da Prefeitura de Marabá, que informou que já repassou as informações para a Secretaria de Obras para a execução das melhorias necessárias.

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