Câncer de cólon: doença que matou Pelé e Dinamite deve ter 640 novos casos no Pará em 2023
Doença será o 3º tipo de câncer mais comum em mulheres e o 4º em homens na região Norte. As estimativas são do Instituto Nacional do Câncer (Inca)
No Pará, 640 novos casos de câncer de cólon, que compreende do intestino grosso e reto, deverão ser diagnosticados em 2023, distribuídos entre 350 casos em mulheres e 290 casos em homens. As estimativas são do Instituto Nacional do Câncer (Inca). A doença é o segundo tipo de câncer mais frequente no Brasil e foi a responsável pela morte de Pelé, no dia 31 de dezembro do ano passado, e também do ídolo do Vasco, o jogador Roberto Dinamite, no último domingo, 8.
De acordo com agências internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a expectativa mundial é que o número de casos de câncer de cólon dobre nos próximos 15 anos. Um levantamento do Globocan (OMS) mostra que o câncer colorretal já representa 10% de todos os tipos de câncer, com 1,9 milhão de novos casos anuais e 935 mil mortes. Só no ano passado, no Brasil, cerca de 602 mil novos casos foram registrados (Inca).
Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC), Luis Eduardo Werneck, hábitos alimentares e estilo de vida estão entre os fatores de maior relevância para o desenvolvimento da doença. Considerando a realidade do Brasil, o especialista aponta que tanto a fome (realidade de 33 milhões de pessoas no país, sendo 2,6 milhões só no Pará), quanto o excesso de má alimentação são pontos importantes de análise.
“O componente hereditário não é tão relevante para o desenvolvimento de câncer de cólon, segundo observamos nas pesquisas. Já fatores ligados à interação com o ambiente têm mais relevância, como o tabagismo, consumo de bebida alcoólica, atividade física desregrada, diminuição ou deficiência nas horas de sono e alimentação desequilibrada, o que vale tanto para quem se alimenta mal como para quem não se alimenta o suficiente”, explica o oncologista.
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Doença tem peculiaridades no Pará
No Pará, apesar de a estimativa do Inca apontar 20,6% mais casos de câncer de cólon em mulheres do que em homens em 2023, o especialista afirma que esta não é uma realidade preponderante. Na verdade, é um cenário que vai na contramão do que se observa no restante do Brasil e no mundo.
“A proporção geral de câncer de cólon entre os gêneros é de 65% em homens e 35% em mulheres, aproximadamente. A mudança do padrão no Pará não é um fator que foi estudado ainda e foge do padrão mundial”, afirma.
Outro dado peculiar, não só do Pará, mas de todo o Norte, seria uma característica positiva de que pacientes com câncer de cólon da região apresentam melhor resposta ao tratamento e uma doença menos agressiva. É o que afirma o oncologista com base em pesquisa que ele desenvolve na área há cerca de 8 anos.
“Pesquiso câncer de intestino na Amazônia há 8 anos e descobri algo interessante sobre dois genes diretamente envolvidos na doença, o KRAS e o NRAS. Pacientes com câncer de cólon podem ter esses genes alterados ou não. Descobri que a maior parte dos pacientes do Norte tem um índice muito baixo de mutação desses dois genes, diferente do que acontece com os demais brasileiros, com americanos e com europeus. Sem essa mutação, o câncer tem mais chance de cura e é menos agressivo”.
O especialista revela que, no Pará, apenas 17% dos pacientes estudados apresentaram mutação nesses genes, enquanto que, no mundo todo, quase a metade de todos os pacientes com câncer de cólon (45%) apresentam a mutação. Luis Werneck diz que ainda se debruça em tentar esclarecer os motivos dessa vantagem dos pacientes paraenses.
“Talvez alguma coisa na dieta do paraense impeça que o genes sofra mutação. Mas ainda estão sendo feitos estudos para descobrir a relação desse fator com alguns alimentos básicos da região, como o açaí, peixes e a farinha”, pondera.
Diagnóstico no Pará acontece de modo casual
Ainda segundo o oncologista, uma das dificuldades de combater o câncer de cólon no Pará é o diagnóstico casual da doença, ou seja, a falta de hábito da população com exames e consultas preventivas, fazendo com que muitas vezes o câncer no intestino seja percebido mais tarde, quase que por acidente:
“Muitas pessoas descobrem porque foram fazer uma tomografia por causa de uma pedra na vesícula. Outras descobrem o tumor durante uma ultrassonografia para investigar alguma alteração urinária. Essas descobertas incidentais são muito comuns e, geralmente, estão atreladas também ao diagnóstico tardio”.
Luis Werneck orienta que pessoas que tiveram casos de câncer de cólon na família, independente do gênero, façam uma colonoscopia a cada dois anos a partir dos 50 anos de idade. Pessoas que apresentam fatores de risco associados, como colesterol alto, diabetes, obesidade, ou que fumam ou bebem façam o mesmo exame anualmente, a partir dos 45 anos.
Dados sobre câncer de cólon
Fatores de risco / Fatores de proteção
Fumar / Não fumar
Beber / Não beber
Não se exercitar / Fazer exercícios regularmente
Má qualidade de sono / Boa qualidade de sono
Alimentação rica em processados / Alimentação balanceada, rica em vegetais
Casos de câncer de cólon no Pará em 2023
Homens - 290
Mulheres - 350
Total - 640
Casos de câncer de cólon em Belém em 2023
Homens - 120
Mulheres - 170
Total - 290
(Fonte: Inca)
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