Bactéria descoberta na Amazônia tem potencial para combater câncer de mama
Composto estudado por pesquisadores da Unifesspa e do ITV identificou propriedades viricidas, bactericidas e capazes de eliminar células cancerosas
A descoberta de uma nova bactéria no solo da região de Paragominas, no sudeste do Estado, trouxe perspectivas animadoras para a comunidade científica paraense. De acordo com os pesquisadores, o microrganismo produz um composto químico com propriedades terapêuticas capazes, por exemplo, de eliminar células cancerosas sem prejudicar as células saudáveis. O estudo foi conduzido por cientistas da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), do Instituto Tecnológico Vale (ITV) e instituições parceiras.
O objeto da pesquisa foi estudar o potencial farmacêutico da cepa de bactérias da espécie identificada como Pseudomonas aeruginosa. O composto químico produzido pelo microrganismo é um surfactante de origem microbiana (ou biossurfactante) chamado de ramnolipídeo. Os resultados dos estudos deixaram os pesquisadores esperançosos com o potencial de aproveitamento no combate patologias médicas e veterinárias. Foi avaliada também a toxicidade do composto em relação aos vírus de herpes simples, coronavírus murino e vírus sincicial respiratório. Uma solução do composto, com uma concentração de 250 μg/mL (microgramas por mililitro), inibiu 97% da atividade viral nos três tipos de vírus. A ação viricida também foi testada em uma solução de 50 μg/mL, por 15, 30 e 60 minutos, de forma positiva. Para os pesquisadores, a eficácia contra vírus pode estar relacionada ao tempo de exposição ao biossurfactante.
Em outro teste, já na concentração de 12,5 µg/mL, o ramnolipídeo (biossurfactante) apresentou potencial seletividade na redução da proliferação de células cancerosas de mama, após um minuto de exposição em laboratório.
“O biossurfactante é uma substância que auxilia a bactéria a captar algum nutriente que seja interessante para o crescimento, além de auxiliar na comunicação entre bactérias da mesma espécie”, explica José Pires Bitencourt, pesquisador do ITV e um dos autores do estudo.
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Conforme o estudioso, durante toda pesquisa, em todas as concentrações do composto foram observadas a capacidade de diminuir a viabilidade das células cancerosas para menos de 50% em 72 horas. Esse é um desempenho que sugere uma ação antitumoral comparável aos níveis alcançados pela quimioterapia padrão.
Bitencourt explica que as condições ambientais encontradas no solo amazônico favorecem a proliferação de compostos de interesse farmacêutico, como o estudado pela pesquisa. “Diferentes subespécies de bactérias encontradas em várias condições de solo produzem biossurfactantes, influenciadas por fatores como clima, evolução do solo, regime hídrico, interação com outros organismos e impacto humano”.
Já o professor Sidnei Cerqueira dos Santos, da Unifesspa, que contribuiu com o estudo, a produção do ramanolipídeo também é uma forma de garantir a perpetuação da bactéria. “Pode ser usado como estratégia de sobrevivência dessas bactérias em ambientes desfavoráveis, para reduzir ou inibir a toxicidade celular, como, por exemplo, em solo contaminado por metais”.
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