Soldados da Ucrânia improvisam árvore de Natal; Cisjordânia cancela festividades em Belém
Guerras: em diferentes partes do mundo, as celebrações de uma das datas mais importantes do calendário Cristão foram afetadas por conflitos
Em Bakhmut, palco da batalha mais sangrenta da guerra na Ucrânia, alguns soldados improvisaram uma árvore de Natal em um poste, apelidando-a de "a principal árvore de Natal do país". A foto viralizou entre os ucranianos, que viram a modesta árvore como sinal de espírito festivo e símbolo de resistência entre aqueles que lutam no front.
Na Ucrânia, o país se prepara para mais um difícil inverno sob guerra. Em fevereiro, a invasão russa completará dois anos e, desde então, os ucranianos buscam gestos de normalidade diante de cenários desafiadores para quem permanece no país.
Em 2022, o presidente Volodymyr Zelensky alertou ao povo que o período de festas seria difícil devido aos intensos bombardeios e cortes de energia em todo país. Neste ano, os cortes vêm acontecendo desde o verão, e o Natal terá uma novidade histórica: um calendário novo.
Historicamente, a Ucrânia sempre esteve ligada ao território russo, mas ganhou sua independência em 1991 durante o colapso da União Soviética. Apesar da divisão territorial, parte da cultura russa se manteve presente na Ucrânia. Na região do Donbass, no leste do país, a maior parte da população fala russo e tem familiares na Rússia, fazendo com que muitas tradições historicamente russas também sejam adotadas na Ucrânia, incluindo as datas festivas.
Enquanto a Igreja Católica segue o calendário gregoriano, a maior parte das igrejas ortodoxas segue o calendário juliano. A Ucrânia e a Rússia são países maioritariamente ortodoxos, portanto, o 25 de dezembro corresponde ao 7 de janeiro, data em que os russos e ucranianos tradicionalmente celebram o Natal.
Desde que a Rússia anexou a Crimeia e começou a apoiar os separatistas na região do Donbass, em 2014, uma grande parte da comunidade ortodoxa na Ucrânia afastou-se de Moscou. A partir deste ano, a Ucrânia abandona oficialmente o costume russo e adere à cultura ocidental de celebrar o Natal no dia 25.
A mudança faz parte de um conjunto de medidas adotadas por Zelensky para eliminar qualquer resquício de ligação cultural com a Rússia. "A população ucraniana esteve por muito tempo sujeita à ideologia russa em quase todas as esferas da vida, inclusive com o calendário juliano e a celebração do natal em 7 de janeiro", afirmou em nota.
Além da alteração na data de celebração do Natal, concretizada em julho deste ano, há alguns anos a Ucrânia vem mudando nomes de ruas e cidades que remetiam à era soviética, além da destruição de estátuas ligadas à história russa. Esta política de distanciamento do vizinho se intensificou ainda mais após a invasão em fevereiro de 2022.
O jornal canadense Toronto Star publicou uma carta enviada por Julia Marich, que vive com a família em Ivano-Frankvisk, na Ucrânia. Ela relata que muitos ucranianos ficam em dúvida se devem celebrar ou não o Natal e o ano novo. "Durante a guerra, enquanto se tem tanta dor e perda, não é momento de celebrações, árvores decoradas e troca de presentes", comentou.
Festividades cancelas em Belém
A guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza caminha para o seu terceiro mês, em situação distinta da Ucrânia. Não há equilíbrio de forças neste conflito, o exército israelense é amplamente superior e conta com todo o apoio ocidental nas suas ações.
Na Palestina, a maioria dos cristãos está concentrada em Belém e Ramallah, na Cisjordânia. Tradicionalmente, Belém é conhecida pelas decorações natalinas na Praça da Manjedoura e pela celebração de Natal que atrai turistas de todo o mundo e movimenta a economia da região. Por conta da guerra, a cidade onde cristãos acreditam que Jesus nasceu, cancelou todas as festividades.
Em Jerusalém, uma feira de Natal se tornou tradição na Porta Nova, ponto de entrada do bairro cristão na Cidade Antiga. No entanto, este ano, as festividades de Natal foram suprimidas devido à guerra em Gaza entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Os líderes das principais igrejas anunciaram em novembro que as celebrações de feriados seriam suspensas em toda a Terra Santa em solidariedade aos que sofrem com o conflito.
Na cidade de Nazaré, local de peregrinação cristã ao norte de Israel, também não haverá celebração do Natal entre moradores e turistas no local. "A atmosfera não é propícia a celebrações, o Natal é uma festa de luzes, decorações e alegria — muitos disseram que não é apropriado celebrar após 7 de outubro em Israel, e dada a situação em Gaza hoje", disse Hanan Sabbah, diretor da Associação Cultural e Turística da cidade.