Saiba como é o campo de presos na Síria onde está a paraense do EI
Karina Ailyn Raiol Barbosa e outras seis brasileiras estão detidas em áreas controladas pelos curdos
O campo em que a paraense Karina Ailyn Raiol Barbosa e outras seis brasileiras estão detidas está sob o controle de parte das cerca de 20 mil mulheres que, como elas, seguiram os combatentes do Estado Islâmico até às últimas batalhas na tentativa de manter vivo o califado criado pelo líder iraquiano Abu Bakar Al Baghdadi em 2014.
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Desde o início da ofensiva turca contra as áreas controladas pelos curdos no Norte da Síria, as forças de segurança responsáveis por manter sob controle 70 mil pessoas têm conseguido apenas impedir que haja uma fuga em massa.
“Nós éramos em quase mil pessoas aqui para fazer o controle, mas dois terços de nossos soldados e soldadas foram transferidos para o front de batalha para impedir o avanço da Turquia sobre nosso território”, conta Leilah Rizgar, a diretora da ala internacional de Al Hol, onde estão 10 mil mulheres e crianças de 58 países diferentes de todos os continentes do planeta.
"Não temos mais controle, não conseguimos entrar lá para definir o que acontece, o risco se tornou grande demais”, conta ela, atacada recentemente por um grupo de mulheres enquanto fazia uma ronda pelo campo. “Elas o tempo todo ficam nos chamando de infiéis, dizendo que vão nos matar e que quando saírem daqui vão nos procurar para cortar nossas cabeças”, conta a oficial da inteligência curda responsável por administrar essa seção do campo onde acreditam-se estar as mais radicais entre as radicais apoiadoras do Estado Islâmico. “As estrangeiras são aquelas que seguem com mais fervor o califado, a maior parte das mortes violentas acontecem lá”, conta Leilah.
Nos últimos dois meses, Al Hol tem registrado uma série de assassinatos entre as próprias detentas. No último deles, ocorrido há um mês, as mulheres mataram e esquartejaram uma delas por ter desrespeitado preceitos impostos pelo Estado Islâmico. Em um outro caso, em agosto, uma indonésia grávida de sete meses foi morta a chutes e socos por ter dado uma entrevista a uma televisão de seu país sem cobrir o rosto.
“Há 15 dias conseguimos identificar uma corte islâmica que se preparava para julgar uma mulher que havia sido acusada de nos passar informações”, conta Leilah. “Conseguimos salvá-la pouco antes de a sentença ser executada. Iriam matá-la com golpes na cabeça”.
Al Hol foi criado em 1991 para abrigar refugiados da primeira guerra do Iraque e reaberto em 2003 para receber uma nova leva de migrantes por conta da invasão americana. Desde 2014, vinha recebendo famílias iraquianas e sírias que fugiam do avanço do Estado Islâmico. Tudo mudou em março desse ano quando um contingente de mais de 60 mil pessoas que viviam nos últimos bastiões do califado na Síria foram trazidos para cá.
“Rapidamente nós começamos a perceber que as mulheres que estavam chegando não estavam dispostas a abandonar a ideologia que seguiam, desde o começo estavam tentando replicar aqui as mesmas regras que tinham quando viviam no Estado Islâmico”, conta Haval Nadal, que trabalha há dois anos em Al Hol coordenando a atuação das ONGs no campo. “Agora elas conseguiram, lá dentro é como se fosse uma cidade do Califado, com as mesmas regras, os mesmos códigos, as mesma punições”.
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