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Políticas para imigrantes determinadas por Trump geram incerteza para comunidade paraense nos EUA

Segundo o especialista em imigração Newton Netto, a medida pode dificultar ainda mais a estabilidade para famílias já estabelecidas no país

Elisa Vaz

A limitação da entrada de imigrantes nos Estados Unidos e o fim do direito à cidadania das crianças que nasceram no país e são filhas de imigrantes foram algumas das principais medidas anunciadas por Donald Trump após a sua posse, nesta segunda-feira (20), como presidente do país norte-americano.

Especialista em imigração, Newton Netto, que atua com assessoria e consultoria internacional para green card e visto americano, diz que a proposta de restringir o direito à cidadania para filhos de imigrantes pode gerar grande incerteza para a comunidade brasileira nos EUA, especialmente para aqueles em situação irregular.

“Caso essas medidas avancem, as crianças nascidas nos Estados Unidos de pais brasileiros poderiam perder o direito automático à cidadania, afetando a sua integração e acesso a serviços essenciais como saúde e educação. Isso também pode desencorajar novos imigrantes e dificultar ainda mais a estabilidade para famílias já estabelecidas no país”, afirma.

Procura por regularização

Desde o último trimestre do ano passado, segundo ele, vem ocorrendo um movimento de aumento na procura por serviços de regularização migratória e aconselhamento jurídico entre os brasileiros que vivem no continente americano, seja em situação irregular ou com vistos próximos ao vencimento.

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“Eles têm buscado maiores informações sobre opções de permanência, como ajuste de status, petições familiares ou outros vistos. Além disso, advogados de imigração e consultorias imigratórias já têm enfrentado uma alta demanda devido ao medo de deportação e mudanças nas políticas”, detalha o assessor.

Desafios para brasileiros

Hoje, ele diz que o principal desafio enfrentado pelos brasileiros que estão tentando permanecer legalmente nos EUA diante de um cenário político mais rígido é o acesso a vistos e processos legais, já que as restrições mais severas para obtenção ou renovação de vistos tornam o processo mais burocrático e caro.

Além disso, há o medo de deportação como um grande desafio. Com o aumento nas deportações, muitos podem hesitar em se apresentar às autoridades para regularizar sua situação, de acordo com Newton. E, ainda, as mudanças nas políticas de asilo e trabalho. O assessor afirma que políticas que dificultam o pedido de asilo ou restringem permissões de trabalho afetam diretamente brasileiros que dependem desses mecanismos para viver e trabalhar nos EUA.

Paraenses não serão afetadas

Moradora dos Estados Unidos há quase uma década, a paraense Amanda Almeida, de 34 anos, vê as medidas anunciadas por Trump como preocupantes. Hoje, ela trabalha na área de limpeza residencial, administrando um pequeno negócio no setor. Embora seja residente legal e não seja afetada pela proposta, a empreendedora diz que isso deve ser visto com cautela porque dificulta a vida de famílias que estão contribuindo com a sociedade americana.

“Acredito que os filhos de imigrantes, mesmo que indocumentados, especialmente os que seguem as leis e pagam seus impostos, têm o direito de ser reconhecidos como cidadãos americanos. Meu status de imigração atual como residente legal me proporciona estabilidade, mas vejo que a incerteza sobre mudanças na legislação afeta todos os imigrantes de alguma forma. No momento, não penso em voltar para o Brasil, pois tenho uma vida estável aqui e minha filha nasceu e está sendo criada aqui nos Estados Unidos”, conta Amanda

Da mesma forma, a administradora paraense Fadia Farah Freire, de 59 anos, que mora há dois anos nos Estados Unidos com o marido, que fez uma aplicação para visto de residência como investidor, não será afetada pela decisão. “Como nós temos visto de residente, nenhuma medida afeta em absolutamente nada o nosso visto aqui”, diz.

Na opinião dela, as medidas todas têm um único objetivo: terminar ou dificultar a ida de imigrantes ilegais aos Estados Unidos. “Os que estão legais não têm com o que se preocupar, porém, os que moram ilegalmente terão que analisar sua situação. O que está sendo dito é que começarão a deportar os que cometeram crimes, mas não há como afirmar nada sobre quem está ilegal”.

Políticas flexibilizadas

Há a possibilidade, na opinião do especialista em imigração Newton Netto, de que essas políticas sejam desafiadas nos tribunais, especialmente as que reinterpretam a 14ª Emenda da Constituição, que garante a cidadania por nascimento. Ele também pontua que mudanças na composição política do Congresso ou na opinião pública podem levar à suspensão ou modificação dessas medidas no futuro.

A paraense Amanda Almeida acha “extremamente improvável” que Donald Trump consiga alterar a 14ª Emenda da Constituição ou acabar com a cidadania por nascimento, apesar de ele ter mais apoio no Congresso e no Judiciário do que em seu mandato anterior.

“Não é tão simples. Acredito que vai existir um cenário mais rígido para os imigrantes, considerando o histórico de políticas adotadas no mandato anterior de Trump, mas vejo que, em situações de necessidade econômica ou de mão de obra, o governo pode ser pressionado a adotar uma abordagem mais equilibrada. Afinal, o presidente não tem poder absoluto”, opina.

Já Fadia não acredita que as medidas serão flexibilizadas para quem quer ficar no país de forma ilegal. Mas, para as pessoas que fizerem todo o processo de acordo com a lei, ela acha que não terão problema algum. “Muito pelo contrário, tenho ouvido muito que os investidores que fizerem processo dentro da lei seriam muito bem-vindos”, afirmou.

O que Newton recomenda para os brasileiros que têm planos de se mudar para os EUA ou que estão com seus vistos próximos de expirar é, primeiro, o planejamento jurídico. “Os imigrantes devem procurar um advogado de imigração ou empresas especializadas antes de viajar ou tomar decisões importantes”, ressalta.

Alguns requisitos e restrições para vistos e ajuste de status, segundo ele, são evitar irregularidades, regularizando o mais rápido possível a situação e ficando em conformidade com a lei; buscar alternativas migratórias, considerando outras opções, como vistos de estudante, investidor ou programas específicos; e ser cauteloso, evitando ações que possam comprometer sua permanência, como trabalhar sem autorização ou não renovar documentos.

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