Paraense em Paris afirma que discurso de Macron sobre ameaça russa coloca Europa no centro da guerra

A escalada das tensões entre a comunidade europeia e a Rússia se agravou para ameaças diretas nesta semana. Na quarta-feira, 5, o presidente francês Emmanuel Macron fez um discurso à nação, em resposta à mudança de postura dos Estados Unidos sobre a guerra na Ucrânia.
Macron sugeriu estender a proteção do arsenal nuclear francês aos aliados, enfatizando a necessidade dos europeus investirem cada vez mais em defesa. “Decidi abrir o debate estratégico sobre a proteção por nossa dissuasão de nossos aliados no continente europeu. Nossa dissuasão nuclear nos protege, é completa, soberana, francesa de ponta a ponta”, disse.
Direto de Paris, o paraense Gabriel Borne, mestrando em Direito Econômico, comentou sobre o discurso: “o que a gente viu na Casa Branca na última semana foi uma humilhação para Zelensky e a Ucrânia, mas representa também uma humilhação de toda a Europa, que esteve apoiando intensamente a Ucrânia nos últimos anos. Esse discurso [do presidente francês] tenta colocar a Europa no centro da guerra, com Macron como a pessoa em melhor condição para falar pelos ucranianos contra a agressão vinda de Moscou”, disse.
A França desenvolveu sua capacidade nuclear nas décadas de 1950 e 1960, iniciando com testes no deserto da Argélia e, mais tarde, no Pacífico. Atualmente, o arsenal nuclear francês é composto por uma combinação de mísseis balísticos intercontinentais lançados de submarinos (SSBNs) e mísseis de cruzeiro lançados de aviões, além de armas nucleares de reserva. O objetivo principal desse arsenal é garantir a segurança do país e manter sua posição como uma potência militar global.
De acordo com a Campanha Internacional para Abolição das Armas Nucleares (ICAN), a França detém cerca de 290 bombas nucleares e é, hoje, o único país da União Europeia a ter um arsenal nuclear. Apesar da força militar, o número é menor que o arsenal russo, que conserva aproximadamente 5.889 armas nucleares, um número superior aos Estados Unidos, com 5.224.
Aumento de gastos na defesa
As seguidas críticas de Trump aos europeus e à Ucrânia levaram a União Europeia a criar um pacote denominado “Rearme a Europa”, que pode chegar a até 800 bilhões de euros. A medida evidencia uma mudança de comportamento no continente, acostumado a evitar gastos com defesa porque, até então, vivia sob o guarda-chuva militar dos EUA na OTAN.
“A Europa inteira vive um momento econômico difícil. O que a gente pode ver no futuro é uma leve escalada inflacionária por conta desse aumento de investimentos em defesa. A dificuldade que eu enxergo, é que muitos países não vão querer embarcar em uma escalada de gastos em defesa dessa forma. Para a União Europeia, os próximos meses e, no curto prazo, os próximos anos, vão ser muito problemáticos porque a gente vai ver uma cisão no bloco entre aqueles que querem aumentar esses gastos e aqueles que não”, afirmou Borne.
Enquanto os líderes europeus expressavam apoio quase unânime à Ucrânia, a presidente da Comissão Europeia, Von der Leyen, alertou que as negociações pela paz só seriam possíveis com o apoio da Europa.
Dos 27 líderes da UE presentes em Bruxelas, todos, exceto um, assinaram um texto pedindo um acordo de paz que respeite a “independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia”, ao mesmo tempo em que inclui a Ucrânia nas negociações. O primeiro-ministro húngaro Viktor Orban se absteve.
Reação russa
Após o discurso de Macron, o presidente russo Vladimir Putin disse que "ainda há pessoas que querem voltar aos tempos de Napoleão, esquecendo-se de como tudo acabou", referindo-se ao imperador francês que falhou na missão de invadir a Rússia em 1812, quando mais de 500 mil homens morreram ao longo da campanha no lado francês. O colapso do exército foi um dos maiores desastres militares da história, marcando o início do declínio do império napoleônico.
Na quinta-feira, 7, Macron intensificou os discursos contra a Rússia durante a cúpula do Conselho Europeu em Bruxelas, chamando o presidente russo de “imperialista revisionista”, insistindo que o governo russo é “uma ameaça existencial duradoura para todos os europeus”.
“Existem nuances nesse discurso, dependendo de país para país. A Alemanha e a França, de fato, não estão ameaçadas por Moscou e acredito que todo mundo sabe disso, assim como o resto da europa ocidental. Mas, para o resto da Europa oriental, a preocupação faz sentido”, concluiu Borne.
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