Molécula em Vênus pode indicar vida extraterrestre
Ciência se aproxima concretamente da descoberta de seres fora do planeta Terra
Uma equipe de pesquisadores de várias partes do mundo anunciou nesta segunda-feira (14) a detecção de fosfina na atmosfera de Vênus. Trata-se de um gás que, na Terra, existe por atividade industrial ou produzido por micro-organismos em ambientes sem oxigênio.
Trata-se do indício mais forte encontrado até hoje de vida extraterrestre, no caso, microbiana. O trabalho, com pesquisadores do Reino Unido, dos EUA e do Japão, foi publicado na prestigiada Nature Astronomy.
"Com o conhecimento atual que temos sobre química e sobre Vênus, não existe uma explicação possível para a presença de fosfina nas nuvens do planeta que não seja vida", afirmou a astroquímica Clara Sousa-Silva, do MIT (EUA), uma das autoras do trabalho, em entrevista por e-mail à Folha. "Mas talvez estejamos deixando de enxergar alguma informação", reconheceu.
Carl Sagan
Desde a década de 1990, buscam-se bioassinaturas como água, ozônio e metano para identificar formas de vida extraterreste. "Essas moléculas são indicação de vida como conhecemos, baseada em carbono", explica o astrofísico Marcelo Borges, do Observatório Nacional (ON), que pesquisa atmosferas de planetas que podem ser astrobiologicamente interessantes. "A questão é que não sabemos como pode ser a vida em outros planetas."
Nesse novo trabalho, a fosfina pode se tornar uma molécula-chave para esse tipo de busca em planetas pobres em oxigênio. "Venho insistindo no uso de fosfina para encontrar vida em exoplanetas há um tempo. Mas não imaginava que acharia tão perto", diz Clara.
A ideia de procurar esse gás em planetas próximos à Terra, especificamente em Vênus, foi da líder da equipe, Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido: “Quando descobrimos os primeiros indícios, ficamos em choque!”, disse a astrônoma em nota.
Para confirmação do achado, foram usadas 45 antenas do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) – instalação astronômica no Chile, do qual o ESO – Observatório Europeu do Sul - é parceiro.
O telescópio, considerado muito mais sensível, localizou pequenas concentrações da fosfina na atmosfera de Vênus, cerca de 20 moléculas em cada bilhão. Com base em cálculos, descartou-se que a quantidade observada seria decorrente de processos não biológicos naturais no planeta, como a luz solar, ou a ação de vulcões e relâmpagos, por exemplo. No caso destas fontes, seriam criados, no máximo, dez milésimos da quantidade de fosfina identificada no planeta.
A hipótese de vida microbiana em Vênus não é nova. O renomado astrônomo Carl Sagan, famoso pelo livro e série "Cosmos". Sagan publicou sua toeria em um artigo na Nature, em 1967, chamado "Vida na superfície de Vênus?"
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