Milhares se manifestam contra racismo em várias cidades do Reino Unido

País vive há uma semana protestos violentos mobilizados, segundo as autoridades, por grupos de extrema direita em resposta ao ataque mortal com faca contra três meninas em Southport

Agence France-Presse
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Milhares de pessoas se manifestaram na noite desta quarta-feira (7/8) em várias cidades do Reino Unido contra os protestos violentos de ultradireita que sacodem o país há uma semana em reação à morte de três meninas.

Durante o dia, as forças de segurança temiam dezenas de novas mobilizações racistas e islamofóbicas e possíveis atos violentos, especialmente contra mesquitas e hotéis que abrigam migrantes.

Mas, finalmente, foram os manifestantes antirracistas que tomaram as ruas de numerosas cidades britânicas, inclusive protegendo centros de ajuda a migrantes diante de possíveis confrontos.

"Vivo no bairro e não queremos esta gente [de extrema direita] em nossas ruas... Não nos representam", disse à AFP Sara Tresilian, uma mulher de 58 anos que participou de uma marcha no bairro londrino de Walthamstow.

Milhares de pessoas, muitas com bandeiras palestinas, se reuniram nesta região do nordeste da capital britânica, onde se previa uma marcha de extrema direita.

Liderados por ativistas da associação Stand Up To Racism, os manifestantes entoavam slogans como "De quem são as ruas? Nossas!" e exibiam cartazes que diziam "Detenham a extrema direita" e "Refugiados, bem-vindos".

O país vive há uma semana manifestações violentas convocadas, segundo as autoridades, por grupos de extrema direita em resposta ao ataque mortal com faca contra três meninas de entre 6 e 9 anos em uma festa em Southport, no noroeste da Inglaterra.

Os distúrbios foram alimentados por rumores e especulações na internet sobre a identidade do suspeito, falsamente apresentado como um solicitante de asilo muçulmano.

A polícia informou, no entanto, que o suspeito era um jovem de 17 anos nascido no País de Gales e a imprensa britânica reportou que seus pais eram ruandeses.

Inquietação

Do balcão de seu restaurante de comida de rua asiática, Assad respira aliviado ao ver a multidão reunida em Walthamstow. "Estávamos inquietos" diante da possibilidade de violência racista, admite. "É algo que você não espera em Londres. Somos um restaurante gerido por migrantes, muçulmanos também. O ponto positivo é que a comunidade é muito forte aqui", acrescenta.

Maz, um homem de 40 anos que prefere não dar seu sobrenome, compareceu com outros muçulmanos da região. "Vivemos aqui, estamos aqui uns e outros porque esses racistas dizem que querem destruir nossa comunidade", explica. "Assim que estamos aqui para manter a paz", continua o homem, que também ostenta uma bandeira palestina.

Em comunicado, o responsável de operações de manutenção da ordem da Polícia Metropolitana, Andy Valentine, agradeceu à população "por ter se reunido na capital e ter mostrado um espírito de comunidade esta noite".

'Ação rápida'

As cenas se repetiram em outras cidades britânicas como Birmingham, no centro da Inglaterra, onde centenas de pessoas se reuniram em frente a um centro de ajuda a imigrantes.

Em imagens gravadas pela AFP é possível ouvir palavras de ordem como "Vamos dizer alto e claro, os refugiados são bem-vindos aqui". Alguns exibiam cartazes com o slogan: "O fascismo não é bem-vindo."

Também foram organizadas manifestações em Bristol, no oeste, e em Liverpool, no norte, ao redor de um edifício de uma associação de ajuda aos solicitantes de asilo. Além disso, houve mobilizações em Brighton, no sul, em Sheffield e Newcastle, no norte, e em Oxford, no centro.

A noite foi majoritariamente tranquila, mas houve tensões esporádicas em lugares como Aldershot, no sul, onde a polícia teve que se interpor entre militantes antirracistas e um grupo de pessoas contrárias aos migrantes, segundo a agência PA.

O governo trabalhista de Keir Starmer havia ordenado o destacamento de um forte dispositivo policial, com 6 mil efetivos especializados na manutenção da ordem mobilizados esta semana diante de possíveis distúrbios.

Desde o início da crise, as autoridades efetuaram mais de 400 prisões e mais de 120 pessoas foram indiciadas, segundo a promotoria. Alguns já tinham sido condenados judicialmente. "Aqui está a ação rápida que tomamos", disse o premiê Keir Starmer, que enviou diversas mensagens de firmeza contra os criadores de problemas.

A crise sacode a opinião pública do país. Segundo uma pesquisa publicada pelo instituto Savanta nesta quarta-feira, 67% dos britânicos se preocupam com o crescimento da extrema direita. Mas outro levantamento do instituto YouGov assinala que a imigração é o principal desafio do Reino Unido para 51% dos entrevistados, o nível mais alto em quase dez anos.

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