Milei enfrenta segunda greve geral contra ajustes na Argentina

Vários pontos de cidades argentinas ficaram desertos

Leila Macor/ AFP
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Ruas quase desertas com poucas opções de transporte público, escolas e bancos fechados, e poucos comércios abertos na capital Buenos Aires. O presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta nesta quinta-feira (9) a segunda greve geral contra suas políticas de ajuste.

A mobilização deixou vazios os terminais ferroviários e portuários e o aeroporto da principal cidade do país, onde a atividade foi interrompida e centenas de voos remarcados.

Alguns ônibus que não aderiram à medida circularam durante a manhã, embora com poucos passageiros, enquanto o trânsito de veículos foi semelhante ao de um dia não útil.

Convocada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), a greve de 24 horas não prevê atos nas ruas e conta com o apoio dos trabalhadores do Estado, da saúde, do turismo, das estações ferroviárias de Buenos Aires, entre outros. 

A CGT acusa o governo ultraliberal de Milei de carecer de "diálogo social" e de implementar "um ajuste brutal que é especialmente sofrido pelos setores de baixa renda, pelas classes médias assalariadas, pelos aposentados e pensionistas".

A Argentina vive uma forte recessão econômica, com uma inflação próxima dos 290% na comparação anual e um ajuste fiscal que permitiu no primeiro trimestre do ano o primeiro superávit fiscal desde 2008, mas às custas do fechamento de órgãos do Estado, milhares de demissões, eliminação de subsídios, aumento das taxas de serviço público e deterioração de salários e aposentadorias.

A atividade industrial acentuou o seu colapso em março com uma queda de 21,2% em relação a 2023 e a construção se contraiu 42,2% no mesmo período, informou o instituto estatístico Indec. 

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A contração industrial é a maior desde abril de 2020, quando a atividade esteve semiparalisada devido à quarentena imposta durante a pandemia de covid-19.

Pouca atividade 

A paralisação é a segunda contra as políticas de Milei após a greve geral de 12 horas do dia 24 de janeiro e depois de manifestações quase diárias contra o ajuste do governo.

O maior protesto ocorreu no dia 23 de abril, quando centenas de milhares de pessoas marcharam por todo o país em defesa da universidade pública, que vê a sua continuidade ameaçada por falta de orçamento. 

Os sindicatos também saíram às ruas no dia 1º de maio, Dia Internacional dos Trabalhadores, para pedir ao governo uma mudança em suas políticas.

"A opinião pública estava disposta a se mobilizar em certas questões que considera bens coletivos e que estão acima da polarização política", disse à AFP o cientista político Gabriel Vommaro.

Nesta quinta-feira, quase 400 voos foram cancelados e 70 mil passageiros foram prejudicados, segundo a Associação Latino-Americana de Transporte Aéreo. 

Nos portos da periferia de Rosário (Santa Fé, centro-norte), por onde o país exporta 80% da sua produção agroindustrial, a atividade ficou praticamente paralisada, segundo fontes do setor.

A greve ocorre em plena "colheita espessa", período de maior produção deste importante exportador global de alimentos. 

Saiam para "trabalhar"

Em Buenos Aires, bancos, escolas públicas e a maioria dos postos de combustíveis ficaram fechados e também não houve coleta de lixo nas ruas.

Nesta quinta-feira, a ministra de Segurança, Patrícia Bullrich, pediu à população para que fosse trabalhar, disse ela em uma entrevista coletiva no terminal rodoviário de Constitución, um dos principais da capital argentina, onde circulavam apenas alguns veículos.

"Quem ainda não foi trabalhar deve sair, existem meios de transporte para quem quer ir trabalhar", declarou Bullrich, enquanto o secretário dos Transportes, Franco Mogetta, estimou que "40%" dos ônibus estão funcionando. 

A ministra afirmou ainda que durante a manhã foram relatados ataques a ônibus nos quais "quebraram janelas e colocaram pregos para furar" os pneus, embora não tenha especificado onde teriam ocorrido os ataques.

"A situação dos trabalhadores não é ideal, acho que é necessária uma medida de força, mas por questões políticas a nossa empresa não adere à greve", contou à AFP Juan Di Gerónimo, de 32 anos, que atua como controlador da empresa de ônibus Dota.

Imagem presidencial 

Apesar de uma ligeira queda em abril, diversas pesquisas recentes colocam a imagem positiva de Milei entre 45% e 50%. "Seu apoio continua muito sólido", disse Vommaro. 

Essa é uma estabilidade notável para um governo que, em apenas cinco meses, infligiu o que presidente argentino descreve como "o maior ajuste na história da humanidade". 

Contudo, alguns questionam por quanto tempo durará este apoio. "O limite do ajuste é a capacidade de resistência dos ajustados", disse Carlos Heller, ex-banqueiro e deputado da oposição, crítico ao governo.

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