Lula afirma que Brasil responderá “carta agressiva” da União Europeia nas próximas semanas
Lula voltou a criticar o documento europeu, definindo-o como uma “carta agressiva” e frisando que uma negociação não pode ter “ameaças” entre parceiros históricos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na manhã de hoje, 19, que o Brasil responderá em até 3 semanas à carta adicional da União Europeia no acordo com o Mercosul e que os europeus devem aceitar “tranquilamente” a contraproposta. Lula voltou a criticar o documento europeu, definindo-o como uma “carta agressiva” e frisando que uma negociação não pode ter “ameaças” entre parceiros históricos. O presidente conversou com jornalistas em Bruxelas, na Bélgica, onde participou da 3ª Cúpula Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos)–União Europeia, que reuniu 33 países latinos americanos e 27 europeus.
“A Europa tinha feito uma carta agressiva. Ameaçava com punição se a gente não cumprisse os requisitos ambientais. Parceiros não discutem com ameaças, discutem propostas”, disse Lula. Segundo o presidente, “a resposta brasileira está sendo discutida” e será entregue “daqui a 2, 3 semanas à União Europeia”.
“O problema da dificuldade [em fechar o acordo] não é só por conta da América Latina”, falou Lula, enfatizando que Paris quer proteger os seus produtos, mas, “da mesma forma que a França tem essa primazia de defender com unhas e dentes o seu patrimônio produtivo, nós temos interesse de defender o nosso”.
“A riqueza da negociação é que alguém tem que ceder. Um quer 100%, só vai ficar com 90%. O outro quer 90%, pode chegar a 95%. É isso que significa negociação”, explicou. Em outro momento da entrevista, Lula disse que a carta adicional europeia foi uma tentativa de fazer pressão para que o Brasil cedesse nas negociações, o que, de acordo com ele, não vai acontecer.
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“Nós não aceitamos a carta adicional da União Europeia. É impossível imaginar que, entre parceiros históricos como nós, alguém faça uma carta com ameaça. Achamos que a União Europeia vai concordar tranquilamente com a nossa resposta. Eu acho que a carta adicional da União Europeia foi possivelmente alguém achando que, fazendo pressão, a gente iria ceder. Não, a gente não vai ceder”, disse.
Lula também destacou que o Mercosul, especialmente Brasil e Argentina, não desistirão do capítulo sobre compras governamentais. O presidente rejeita a ideia de ampla abertura do mercado de compras públicas aos europeus. Disse que o mecanismo é importante para a reindustrialização dos países da região. “Fazemos a exigência de reindustrialização para que a gente possa ser exportador de manufaturados, coisas com mais coisas com mais valor agregado, gerar empregos mais qualificados. É por isso que não abrimos mão das compras governamentais. As compras governamentais são um instrumento de desenvolvimento interno. Os Estados Unidos fazem isso, a Europa faz isso, a Alemanha faz isso e o Brasil tem o direito de fazer isso. É assim que a gente consegue incentivar o pequeno e médio empresário a sobreviver e a crescer”, disse.
O presidente enfatizou que pela primeira vez está otimista com a possibilidade concreta de o acordo entre os 2 blocos econômicos ser concluído até o fim deste ano. A União Europeia e o Mercosul, bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, concluíram as negociações em torno do acordo, que já dura mais de 2 anos, em 2019.
Ele foi, no entanto, suspenso por preocupações dos europeus com o aumento do desmatamento na Amazônia e outras exigências em relação às mudanças climáticas. O petista destacou que a reunião da Celac com a UE, realizada nos dias 17 e 18 de julho, em Bruxelas, mostrou que o bloco europeu está interessado “de verdade” em investir na América Latina.
“Pela 1ª vez, senti a União Europeia interessada em voltar de verdade para a América Latina. Primeiro, pela questão do clima. Segundo, pela questão energética. A parte do mundo que pode produzir o hidrogênio verde que a Europa precisa é a nossa América Latina. Temos que aproveitar”, disse o presidente, afirmando estar “feliz” com o resultado do encontro. Depois da entrevista, o chefe do Executivo brasileiro segue para Cabo Verde, onde tem uma reunião marcada com o presidente José Maria Neves. Na sequência, embarca para Brasília. A chegada ao país está prevista para às 18h30.
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