Invasão de aeroporto no Daguestão acende alerta contra antissemitismo
Tentando invadir a aeronave onde estariam os passageiros do voo, a multidão entrou em confronto com policiais. 60 pessoas foram detidas e pelo menos 10 ficaram feridas.
Em meio a escalada do ataque das Forças de Defesa de Israel à Faixa de Gaza, um fato ocorrido ontem, na república russa do Daguestão, mexeu com os judeus em todo o mundo. Um grupo de centenas de manifestantes pro-palestina invadiu o aeroporto de Makhachkala após a informação de que um voo vindo de Tel-Aviv pousaria no local. Tentando invadir a aeronave onde estariam os passageiros do voo, a multidão entrou em confronto com policiais. 60 pessoas foram detidas e pelo menos 10 ficaram feridas.
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Apesar de ser uma região russa de maioria muçulmana, o ocorrido no Daguestão acendeu o alerta na comunidade judaica no Ocidente. Há receio de que os ataques israelenses à Faixa de Gaza, que já mataram mais de 8.300 desde o dia 7 de outubro, de acordo com o Ministério da Saúde do Hamas, resultem em protestos contra o Estado de Israel também no Ocidente.
No domingo (29), as forças de defesa israelenses iniciaram as incursões por terra em Gaza, contrariando propostas para um cessar-fogo vindas de aliados ocidentais na ONU. O primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu que os ataques não irão parar até o Hamas ser totalmente destruído. Tudo isso tem impulsionado protestos contra o Estado de Israel em alguns locais do planeta, estimulando discursos antissemitas, ou seja, o discurso de ódio contra judeus. Dentro da comunidade paraense, a expectativa é de que este comportamento não se alastre para a região.
Presidente do Centro Israelita no Pará: "prática que lamentavelmente é milenar"
“O que aconteceu no Daguestão, a exemplo de outros incidentes em diversos países, reflete uma prática que lamentavelmente é milenar, bastante conhecida e estudada. Trata-se do resultado do discurso de ódio contra os judeus, que pode ser desencadeado por qualquer pretexto, ou até por fake news, como foi o caso do pseudo ‘ataque’ ao hospital em Gaza, na verdade perpetrado pelos próprios grupos terroristas palestinos. Seu nome é antissemitismo, e já causou tragédias inolvidáveis, que envergonham a humanidade. Como cidadãos brasileiros, que convivemos pacificamente com todos os nossos compatriotas, esperamos que esse discurso, e essas práticas, não vicejem em nosso país”, comenta Isaac Bentes, presidente do Centro Israelita no Pará.
Para Raphael Oliveira, judeu nascido em Belém e que trabalha como professor, é preciso saber separar o Estado de Israel do povo judeu, para que não haja desentendimentos sobre o assunto. “Nem todo mundo está feliz com a resposta dada pelo Estado de Israel ao ataque que sofreu, e isso não é ser antijudeu, apenas contra uma atitude do governo. Isso é legítimo. O que tememos é que, assim como em outros períodos, uma parte das pessoas passe a reproduzir discursos de ódio contra os judeus, é bem diferente. Aqui em Belém o que vejo é que muitas pessoas ficaram mais curiosas sobre nós, a maioria se solidarizando com o ataque que sofremos no dia 7, alguns críticos a resposta contra Gaza, mas nada parecido com o antissemitismo que vimos no Daguestão”, disse.
Alexey Labetsky, embaixador da Rússia no Brasil, afirma que a “Rússia é um país multiétnico e multirreligioso, nós temos muitos judeus vivendo na Rússia e mais de vinte milhões de muçulmanos nativos que vivem na federação russa”.
Segundo ele, quando se fala do conflito no Oriente Médio, “devemos lembrar que a língua russa em Israel é uma das principais línguas estrangeiras faladas, por causa da imigração de judeus da União Soviética para este território. E nós temos muita gente com cidadania russa em Gaza. Sempre tivemos grandes relações com os palestinos”.
Já o líder muçulmano do Daguestão, Xeque Akhmad-Afandi, emitiu uma declaração em meio aos distúrbios em Makhachkala:
"Queridos irmãos, meus filhos, preocupo-me com os muçulmanos. Vocês estão enganados. Esta questão não pode ser resolvida desta forma", disse, apelando aos muçulmanos do Daguestão para que parassem o motim.
Cientista político e professor acredita que evento se limite ao Oriente Médio
O cientista político e professor da Universidade Federal do Pará, Edir Veiga, acredita que protestos como no Daguestão se reproduzam nos países que compõem o Oriente Médio, mas não no Ocidente. “Creio que haverá mobilização em prol dos dois lados no ocidente. Ontem em São Paulo houve mobilizações ao mesmo tempo em favor dos palestinos e em favor de Israel, creio que a questão seguirá assim por aqui”, diz. Corroborando com a tese reproduzida por nomes como o do escritor Yuval Harari, o professor paraense acredita que a guerra foi iniciada pelo Hamas como uma tentativa de travar um acordo entre Israel e Arábia Saudita, em que o país árabe reconheceria oficialmente o Estado de Israel.
“Esta guerra atende o Hamas, que quer impedir o reconhecimento do Estado de Israel por Arábia Saudita e Líbano. Por outro lado, os radicais israelenses aprofundam a guerra buscando ocupar parte norte da faixa de guerra para implantar uma faixa de fronteira considerável. Hamas sentiu que se avançasse o reconhecimento do Estado de Israel por países do Oriente Médio, a questão Palestina ficaria isolada. Israel deverá ocupar mais um pedaço da faixa de Gaza por medida de segurança. Quem paga é o povo palestino, parte do povo de Israel, pois temos dois terrorismos em curso: o terrorismo de uma facção (Hamas) e o terrorismo de Estado (Israel). Ambos explodem civis desarmados”, diz o Edir Veiga.
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