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Homem que drogava esposa para que desconhecidos a estuprassem é interrogado: 'Estraguei tudo'

Dominique Pelicot admitiu o crime durante julgamento na França e acusou os outros 50 homens também acusados pelo crime: 'Todos sabiam (do estupro)'

Philippe SIUBERSKI e David COURBET (AFP)
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Dominique Pelicot, acusado de drogar a mulher para que dezenas de estranhos a estuprassem, admitiu nesta terça-feira(17.09) que é "um estuprador", e afirmou que Gisèle Pelicot "não merecia" o que sofreu por quase dez anos. "Sou um estuprador, como todos os outros nesta sala. Todos sabiam, não podem dizer o contrário", disse Pelicot, referindo-se aos 50 corréus, sob protesto de alguns.

O Tribunal de Avignon, no sul de França, julga Pelicot, de 71 anos, por drogar sua ex-mulher com medicamentos para dormir, e estuprá-la com dezenas de estranhos entre 2011 e 2020. "Nem por um segundo suspeitei deste homem" em quem "confiava totalmente", explicou Gisèle Pelicot.

"Eu amei esse homem por 50 anos. Eu teria colocado as duas mãos no fogo por ele", acrescentou.

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Acusados dos estupros têm perfis diversos: bombeiro, artesão, enfermeiro, agente penitenciário, jornalista, eletricista...; solteiros, casados, divorciados.

Gisèle Pelicot, a principal vítima, de 71 anos, "não merecia isso", disse o principal acusado, antes de reagir às declarações da agora ex-esposa. "Sou culpado pelo que fiz. Peço à minha esposa, aos meus filhos, aos meus netos, à Sra. M. (esposa de outro acusado que também supostamente estuprou) que aceitem minhas desculpas. Peço perdão, embora não seja aceitável", acrescentou.

"Ela foi maravilhosa", declarou, enquanto Gisèle o encarava no tribunal, observou um jornalista da AFP. "Eu a amei por 40 anos e a amei muito por 10 anos. Nunca deveria ter feito isso. Estraguei tudo. Perdi tudo. Devo pagar por isso", acrescentou.

image Gisèle Pelicot tem recebido apoio de milhares de pessoas na França (Christophe SIMON / AFP)

Seu primeiro interrogatório, uma semana atrasada em relação à data prevista, foi muito aguardado pela vítima e os demais 50 acusados, entre 26 e 74 anos, que podem pegar até 20 anos de prisão. A presença de Pelicot no tribunal nesta terça-feira, seguiu um protocolo médico – cadeira adaptada, pausas – e gerou expectativas, após mais de uma semana ausente por problemas de saúde. 

No início, ele falou sobre sua infância e dois acontecimentos traumáticos: ele afirma que foi estuprado por um enfermeiro aos 9 anos e participou do estupro coletivo de uma mulher com deficiência, aos 14 anos. "Da minha juventude só me lembro de choques e traumas. Em 1971 aconteceu esse lindo encontro [com Gisèle]. Foi pesado demais para suportar", explica entre soluços. 

"Aguentei 40 anos. Fui muito feliz com ela. Ela era o oposto da minha mãe, era completamente insubmissa. Tinha três filhos, aos quais nunca fiz nada", acrescentou na frente da ex-esposa. 

Segundo a investigação, havia fotos de sua filha e de duas noras em seu computador, feitas sem o conhecimento delas e, em algumas, as mulheres estavam nuas.

"Todos sabiam"

Dominique Pelicot, que documentava todos os estupros gravados e fotografados em seu computador, já havia reconhecido os fatos, mas não havia se explicado ao tribunal. Sobre os arquivos, admitiu ser "uma parte por prazer", e, diante da olhar incrédulo dos demais acusados, afirmou que era também para "encontrar aqueles que participaram de tudo isto".

Alguns acusados alegam que não sabiam que ele dopava a esposa e que pensavam que se tratava de um casal libertino, algo que a vítima negou em seu primeiro depoimento ao tribunal. O principal réu reiterou que os 50 homens em julgamento – um deles à revelia – sabiam que sua mulher estava drogada com fortes ansiolíticos. 

"Eles não podem dizer o contrário", disse o aposentado. 

O julgamento de grande repercussão tornou-se um símbolo do uso de drogas para cometer agressões sexuais, uma prática conhecida como "submissão química", e relançou o debate na França sobre a questão do consentimento. 

Aos gritos de "somos todos Gisèle", 10 mil pessoas se manifestaram no fim de semana na França em apoio à principal vítima, que rejeitou que o julgamento fosse realizado a portas fechadas.

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