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Estados Unidos e Irã vivem impasse sobre programa nuclear, mas começam a negociar

Gustavo Freitas / Especial para O Liberal
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Os Estados Unidos continuam pressionando o governo iraniano a aceitar um acordo nuclear, ameaçando bombardear o país se não houver resultados nas negociações. Relatórios recentes apontam que o governo americano aumentou a concentração de caças e navios na região, buscando coagir a teocracia através da força.

O país liderado pelo aiatolá Ali Khamenei é visto como principal ameaça aos interesses de Washington no Oriente Médio. Aliados dos EUA, principalmente Israel, alegam que o Irã está muito perto de atingir os níveis de enriquecimento de urânio necessários para chegar a uma bomba atômica, uma linha vermelha para americanos e israelenses.

“Se os iranianos não assinarem um acordo, haverá bombardeios”, disse Donald Trump durante uma entrevista à rede NBC, no último domingo, 30.

Por anos, a República Islâmica insistiu que não busca armas nucleares, com o líder supremo Aiatolá Khamenei até mesmo emitindo um decreto religioso contra seu uso. No entanto, à medida que a pressão externa se intensificou, as autoridades iranianas sugeriram cada vez mais a reconsideração dessa postura.

A última declaração veio de Ali Larijani, ex-presidente do Parlamento do Irã e enviado especial do Líder Supremo, que alertou que, se os EUA ou Israel atacassem as instalações nucleares do Irã, Teerã não teria escolha a não ser perseguir armas nucleares.

Em maio de 2024, Kamal Kharrazi, conselheiro sênior de Khamenei e chefe do Conselho de Relações Exteriores do Irã, afirmou que se as instalações nucleares do Irã fossem atacadas ou se a sobrevivência do país estivesse em risco, “o Irã não teria escolha a não ser reconsiderar essa doutrina”.

Historicamente, a opinião pública no Irã é favorável a um programa nuclear pacífico, embora a maioria seja contrária à construção de armas nucleares. Entretanto, desde o ano passado, pesquisas apontam uma mudança de comportamento na sociedade iraniana. Segundo o IranPoll em junho de 2024, 69% da população agora apoia a ideia do país buscar suas armas nucleares.

“Eles ameaçam nos atacar, o que não achamos muito provável, mas se cometerem qualquer travessura, certamente receberão um forte golpe recíproco“, afirmou Khamenei durante discurso no último dia 31.

Fim do acordo

O acordo nuclear com o Irã, formalmente conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), foi assinado em 2015 entre o Irã e um grupo de potências internacionais, incluindo os Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China, além da União Europeia. O objetivo central do tratado era limitar o programa nuclear iraniano em troca do alívio de sanções econômicas que impactavam severamente a economia do país.
Entre os principais compromissos assumidos pelo Irã, estavam a restrição do enriquecimento de urânio a um nível máximo de 3,67%, a limitação no número de centrífugas para enriquecimento e a submissão a inspeções rigorosas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Em contrapartida, sanções sobre o setor petrolífero e financeiro iraniano foram suspensas, permitindo maior integração econômica do país no cenário internacional.
No entanto, em maio de 2018, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a retirada unilateral do país do JCPOA.

A decisão foi justificada sob o argumento de que o acordo não abrangia questões como o desenvolvimento de mísseis balísticos pelo Irã, seu apoio a grupos considerados terroristas e suas atividades militares no Oriente Médio.
Além disso, Trump alegou que as restrições nucleares impostas pelo acordo eram temporárias e não impediriam, no longo prazo, que o Irã adquirisse capacidade de produzir armamento nuclear. Como consequência da saída norte-americana, Washington restabeleceu sanções econômicas contra Teerã, levando o governo iraniano a reduzir gradativamente sua adesão ao acordo e aumentar o enriquecimento de urânio além dos limites anteriormente estabelecidos.
As tensões entre Estados Unidos e Irã no primeiro governo de Trump atingiram o seu ponto mais crítico em janeiro de 2020, com a morte do general Qassem Soleimani, comandante da Força Quds da Guarda Revolucionária Iraniana. Soleimani era uma das figuras mais influentes do Irã e sua morte, em um ataque de drones realizado pelos Estados Unidos em Bagdá, foi considerada um ato de extrema provocação por Teerã.

Em resposta, o Irã realizou ataques contra bases militares norte-americanas no Iraque, elevando os temores de um conflito direto entre os dois países. Além disso, o governo iraniano anunciou que não respeitaria mais os limites impostos pelo acordo nuclear, acelerando o enriquecimento de urânio e restringindo a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica(AIEA).

Trump tenta negociações diretas com o Irã

Ainda que tenha subido o tom nesta semana, Trump tem evitado sinalizar intenções de conflito direto com o Irã desde o seu retorno à Casa Branca. Há três semanas, o presidente norte-americano enviou uma carta ao aiatolá, buscando negociações diretas entre os dois países para um acordo nuclear. A resposta veio no último dia 27, com o chanceler iraniano Abbas Araqchi afirmando que o Irã não entraria em negociações diretas enquanto estivesse sob ameaças militares.

“Não evitamos conversas; é a quebra de promessas que nos causou problemas até agora”, disse o presidente do Irã, Pezeshkian, durante uma reunião televisionada. “Eles devem provar que podem construir confiança.” Ainda assim, o Irã concordou em enviar uma delegação de baixo escalão ao Omã nas próximas semanas, para iniciar as negociações indiretas com os EUA.

A postura norte-americana em relação ao Irã também é influenciada pelo posicionamento de Israel, que historicamente se opõe à influência iraniana na região. O governo israelense tem demonstrado, ao longo dos anos, uma forte preocupação com o regime teocrático de Teerã, vendo-o como a principal ameaça existencial ao seu território devido ao seu programa nuclear e ao apoio a grupos armados como o Hezbollah no Líbano e o Hamas na Palestina.
Líderes israelenses já expressaram, em diversas ocasiões, o desejo de enfraquecer ou mesmo derrubar o governo iraniano, seja por meio de pressões internacionais, operações encobertas ou ataques direcionados contra infraestruturas nucleares do país.

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