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Estados dos EUA processam a Meta por utilizar mecanismos que prejudicam a saúde mental de jovens

No total, 41 unidades federativas dos Estados Unidos acusaram a empresa de usar recursos viciantes no Instagram e Facebook para atrair crianças

Vitória Reimão

Na última terça-feira (24), os estados americanos, incluindo a Califórnia e Nova York, entraram com um processo contra a plataforma Meta, segundo informações do site Poder360. No total, 41 unidades federativas dos Estados Unidos acusaram a empresa de usar recursos viciantes no Instagram e Facebook para atrair crianças, resultando no declínio da saúde mental do público jovem

Segundo o documento protocolado no Tribunal Distrital da Califórnia, a empresa fundada por Mark Zuckerberg faz a utilização diária da coleta de dados de crianças com menos de 13 anos. Essa ação é feita sem o consentimento dos pais e viola a lei federal nos EUA. A grande empresa de tecnologia também foi acusada de enganar os usuários sobre a autenticidade da segurança que a marca oferece em suas plataformas. 

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Outra ação judicial também foi feita pelos 9 procuradores-gerais. Eles estão movendo ações judiciais em seus próprios Estados e no Distrito de Colúmbia contra a Meta. O motivo é por conta dos algoritmos da Meta, no qual foram criados para atrair crianças e adolescentes para consumir conteúdos prejudiciais e tóxicos. As plataformas utilizam recursos como "scroll infinito" e notificações persistentes para tentar prender os jovens usuários. 

Segundo os procuradores-gerais, os recursos afetam negativamente a saúde mental dos adolescentes. São feitas comparações sociais ou dismorfia corporal, como as curtidas e filtros de fotos publicadas. O processo diz que o motivo é lucro e que a Meta busca maximizar seus ganhos financeiros, enganando o público a respeito dos significativos perigos das plataformas de mídia social. 

Todas as ações judiciais pedem por compensações financeiras e restituição. também solicitam o fim das práticas da Meta que estão em desacordo com a lei. Em comunicado, a Meta informou que apoia o compromisso dos procuradores-gerais de buscar experiências on-line seguras para crianças e adolescentes. Mas afirmou estar “desapontada” que os procurados não tenham trabalhado de forma “produtiva” e conjunta com a indústria “para criar padrões claros e apropriados para a idade para os muitos aplicativos que os adolescentes usam”.

Dependência das Redes Sociais
 

A especialista em Redes Sociais Laura Quaresma explica que o processo de obter atenção do público é um modelo de negócios das plataformas, baseado na monetização. "Quanto mais tempo a gente passa na plataforma, quanto mais tempo a gente passa consumindo conteúdo patrocinado, ou consumindo conteúdo que vai gerar dinheiro ali para o Instagram através dessa venda de anúncios, mais eles lucram", explica. 

Laura acrescenta que os gadgets - dispositivos eletrônicos portáteis - dificultam a saída dos usuários das redes, causado dependência. "Essa questão da atenção é um problema para todas as pessoas, acho que é um desafio contemporâneo de todo mundo, de passar menos tempo nessa rede, conseguir manter concentração sem essas distrações. Isso já é muito difícil para pessoas adultas que têm seu cérebro já completamente formado, imagina como é para crianças e adolescentes que não têm referências de uma era onde as coisas não são digitais, onde as coisas não são rápidas, onde as coisas não são urgentes", acrescenta. 

Segundo a especialista, o Instagram já informou que possui recursos para proteção das crianças e adolescentes enquanto navegam pela plataforma. Mas muitos desses recursos são facilmente contornados. "Teoricamente, menores de 13 anos não podem ter perfis nas empresas meta, mas o que mais a gente vê é o Instagram de criança, de perfis que não são necessariamente administrados pelos pais. Esses recursos que eles (Meta) alegam ter são muito contornáveis pelos usuários", disse. 

"O Brasil é o segundo país que mais faz cirurgias plásticas e os cirurgiões dizem que as pessoas estão pedindo para serem parecidas com a versão de si mesmas com filtro. Os adolescentes estão mais expostos a isso, tendo referências desses padrões irreais de beleza, desses padrões não-humanos. Ao mesmo tempo que a pessoa entra em contato com referências de inúmeros corpos, inúmeros modos de viver no mundo, a gente sabe que existe um padrão que ele é privilegiado assim dentro da plataforma", afirma Laura. 

A especialista explica sobre os algoritmos são mediadores de conteúdos, em que são programados para entender o comportamento virtual. Esses mediadores indicam conteúdos do agrado do usuário. "Essa ferramenta, ela vai coletar dados o tempo todo. Então, se eu gosto de conteúdo sobre livros, ela vai me indicar mais e mais conteúdos sobre livros. E meio que molda o que eu vou ver na internet. E é bem arriscado quando a gente não entende isso, que tem alguém ou uma tecnologia conduzindo o que a gente vê, o que a gente consome e  achamos que somente aquela verdade que está pra mim é universal", ressalta. 

"A gente recebe anúncios e ofertas personalizadas. A gente está falando de um público que não tem esse discernimento e que cai muito fácil na publicidade, não à toa, a publicidade infantil tem várias regras e é muito regulamentada. Só que essas regras, não sinceramente, se refletem no ambiente online. A publicidade online ainda tem muitos vácuos, esses algoritmos e forma como eles são usados, acabam sendo ferramentas para burlar essas regras e para entregar coisas para crianças e adolescentes que elas não deveriam ou não poderiam estar vendo", informa Laura.

Psicóloga, Terapeuta Comportamental e Mestre em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Nicole Lobato, explica que é preciso com urgência encarar que boa parte dessa necessidade da internet, da aprovação alheia, da fuga por um universo menos difícil é fruto da relação estabelecida uns com os outros, isso inclui as crianças e jovens e os adultos.

“Relações que tem se estruturado muito em função da busca por alívio imediato, pelos mecanismos mais fáceis e rápidos e nas nossas formas de esquiva, delegamos ao pedagogo, ao professor, ao psicólogo, ao médico, à babá, ao acompanhante, dentre outros, a tarefa de cuidar, de ouvir, de educar. Precisamos entender a nossa coparticipação nos problemas dos quais nos queixamos”, explica a psicóloga.

Como psicóloga clínica e também professora de psicologia há mais de uma década, ela acompanha a própria história do curso de psicologia, avanços em sua matriz curricular e percebe que mudanças têm ocorrido em vários sentidos, desde a procura do vestibulando pelo curso, até a adequação do curso ao contexto social atual.

"O que ocorre é que a saúde mental de uma pessoa está intimamente relacionada ao repertório geral de comportamento dela, impactando de maneira significativa para que ela lide com as situações cotidianas”, destaca.

(Vitória Reimão, estagiária sob supervisão de João Thiago Dias, coordenador do caderno de Cidades)

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