Eleitores descontentes com medidas de Trump protestam em eventos do partido Republicano

Manifestações acaloradas e até confrontos levaram à suspensão de reuniões públicas presenciais programadas pelos republicanos

Gustavo Freitas / Especial para O Liberal
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Na política norte-americana, há uma prática comum entre os partidos Democrata e Republicano de realizar assembleias públicas onde os eleitores se reúnem com o congressista eleito para ouvir o que está sendo feito em Washington e relatar as dores de quem vive no distrito. Nas últimas semanas, as reuniões se tornaram um problema para os republicanos, que veem um descontentamento crescente com as políticas anunciadas pelo governo Trump desde que assumiu a Casa Branca.

O Comitê Nacional Republicano do Congresso (NRCC) instruiu os republicanos da Câmara a suspenderem as reuniões públicas presenciais devido a relatos de discussões acaloradas e confrontos nos eventos. Esses protestos estão centrados em decisões políticas controversas, especialmente nos cortes do governo federal liderados pelo bilionário Elon Musk, que está à frente do chamado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, em inglês).

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Cortes anunciados por Musk

Musk sugeriu que é possível cortar entre US$500 bilhões e US$700 bilhões em "desperdício" do orçamento federal, com um foco particular em programas de benefícios sociais, como a Seguridade Social,Medicare e Medicaid, vistos como essenciais pelos americanos. Ele afirmou em uma entrevista à Fox Business Network: "A maior parte dos gastos federais é em benefícios sociais. Esse é o grande alvo a ser eliminado."

Ele também alegou que há fraudes generalizadas no sistema, afirmando que "20 milhões de pessoas que estão definitivamente mortas são marcadas como vivas na base de dados da Seguridade Social". No entanto, essa alegação foi desmentida pelo inspetor geral da Seguridade Social, que reportou US$71,8 bilhões em pagamentos impróprios entre 2015 e 2022, menos de 1% dos benefícios pagos nesse período.

“Qualquer americano que receba benefícios da Previdência Social continuará a recebê-los”, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, em um comunicado. “A única missão da DOGE é identificar apenas desperdício, fraude e abuso. ...A DOGE já identificou bilhões de dólares em economias para os contribuintes americanos, e o presidente Trump continuará a direcionar esse esforço até que nosso governo seja realmente para o povo e pelo povo.”

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O congressista Cliff Bentz, republicano de Oregon, realizou uma assembleia pública em La Grande, uma área rural do estado, durante o recesso do Congresso em fevereiro de 2025. Os eleitores estavam indignados com os cortes federais que afetaram empregos locais e programas sociais.

Cortes na Seguridade Social preocupam eleitores

No estado do Wisconsin, o congressista Glenn Grothman, republicano, realizou uma assembleia pública em seu distrito e também foi alvo de protestos. Os eleitores alegaram preocupação com os cortes propostos na Seguridade Social e no Medicaid, que afetariam diretamente os idosos e as famílias de baixa renda em Wisconsin.

Grothman tentou justificar os cortes, argumentando que os eleitores haviam votado por mudanças em 2024 e que era isso que estavam recebendo. Ele também ecoou a narrativa republicana de que os protestos eram orquestrados por "ativistas pagos".

O público vaiou Grothman e o interrompeu repetidamente, exigindo que ele explicasse como os cortes beneficiariam seus constituintes. Alguns gritaram "Sem rei!" e “nós não elegemos ele”, ecoando o sentimento anti-Musk. Grothman ficou visivelmente frustrado e, em certo momento, ameaçou encerrar o evento, dizendo: "Se vocês não querem ouvir, não há motivo para eu estar aqui."

O partido de Trump legisla com maioria nas duas casas, mas os protestos nos distritos conservadores têm aumentado as preocupações dos líderes partidários. O presidente da Câmara, Mike Johnson, também orientou os representantes a pararem de realizar eventos públicos porque, segundo ele, estão lotados de “manifestantes profissionais”.

Nesta segunda-feira, 24, Donald Trump saiu em defesa de um republicano vaiado enquanto defendia o governo: “Acabei de assistir nosso grande congressista republicano da Carolina do Norte, Chuck Edwards, realizar uma reunião pública em Asheville”, escreveu Trump em post na rede social Truth. “Ele foi um cavalheiro, mas a sala estava cheia de lunáticos radicais de esquerda, principalmente democratas, e tudo o que eles fizeram foi gritar, gritar e usar linguagem suja. Eles eram agitadores em grande parte pagos, com placas e slogans falsos, e só estavam lá para criar problemas! Chuck aguentou isso, e foi maravilhoso!”

Oportunidade para o partido Democrata

A decisão do partido de suspender aparições públicas se transformou em oportunidade para a oposição democrata, que está preenchendo o vácuo deixado pelos republicanos ao organizar seus próprios eventos públicos em distritos controlados pelo partido Republicano, especialmente em áreas onde a disputa costuma ser acirrada.

image Congressista democrata lota evento em reduto republicano (Rede social X / @RepSuhas)

"Se o seu representante republicano não se encontrar com você porque sua agenda é tão impopular, talvez um democrata o faça. Eu mesmo posso ir. Se o seu congressista se recusar a se reunir, irei organizar um evento no distrito dele para ajudar os democratas locais a derrotá-lo.", disse Tim Walz, ex-companheiro de chapa de Kamala Harris, em sua conta no X.

Para fugir da narrativa republicana sobre “protestos pagos”, organizações democratas estão em contato com partidos estaduais e grupos locais para monitorar os eventos públicos republicanos. Em vez de protestos, eles incentivam a participação de eleitores locais insatisfeitos para expressar suas preocupações.

O congressista democrata Suhas Subramanyam, representante do 10° distrito da Virgínia, realizou evento em uma área dominada por republicanos e comentou em sua conta no X: "Realizamos uma assembleia pública ontem à noite em um condado onde os republicanos tiveram uma grande vitória. O local estava lotado, com pessoas até em pé.

As pessoas estavam frustradas, irritadas e até assustadas. Veteranos. Funcionários federais. Pais. Idosos. Precisamos ser ousados e não ter medo, especialmente quando as políticas prejudicam nossa economia e ameaçam a saúde e a segurança de todos os americanos. Continuem se manifestando."

Esta não é a primeira vez sob Trump que os republicanos se veem ameaçados com protestos em assembleias populares. No seu primeiro mandato, a Câmara dos Representantes, controlada pelos republicanos, aprovou a American Health Care Act (AHCA), uma legislação que enfraquecia proteções para pessoas com condições preexistentes e reduzia o financiamento do Medicaid, o que poderia deixar milhões de americanos sem seguro de saúde. Eleitores, especialmente aqueles que dependiam da ACA para cobertura de saúde, organizaram protestos em eventos de parlamentares republicanos.

Os protestos foram essenciais para barrar a legislação no senado e ajudaram a mobilizar a base democrata, contribuindo para a "onda azul" nas eleições de meio de mandato de 2018. Os democratas recuperaram a maioria na Câmara dos Representantes, ganhando 41 cadeiras, em grande parte devido à insatisfação com as políticas de Trump e dos republicanos.


 

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